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Meu primeiro contato com James Baldwin e, certamente, não será o último. Quero indicar esse livro para todo mundo que vem falar comigo!
Narrado por Tish, traz um retrato real, porém cruel, do encarceramento do povo negro nos EUA, discussões sobre racismo estrutural, privilégios e abuso de poder policial. A narradora é muito viva, passeia em vários núcleos da história e compartilha conosco até o que não está acontecendo com ela.
Um livro forte, importante e, infelizmente, atual. Acho que quem leu “O sol é para todos” deveria ler esse livro.
Apesar de sua publicação original ter sido em 1974, a obra de Baldwin nos soa verossímil. A cada página, era impossível não conectar breves pontas a relatos atuais que vejo pela redes. O que nos mostra, que os anos passam e continuamos cada vez mais falhos, em vista que, ações racistas prevalecem.
Nas primeiras páginas deste clássico, conhecemos Clementine "Tish" Rivers, que está prestes a revelar ao seu noivo, Alonzo "Fonny" Hunt, que eles vão ter um bebê. Ambos são jovens afro-americanos, respectivamente, com 19 e 22 anos. Fonny está preso por ter sido acusado de estupro, apesar que não há nada que o incrimine. Caminhando entre o presente e o passado, Tish nos relata da revelação da gravidez a Fonny e as famílias, passando pelo início da amizade e relacionamento com ele, o embate entre suas famílias, os poucos amigos, até seus caminhos se cruzarem com Bell, um policial racista.
A prisão de Fonny mexe com a rotina e emocional da família Rivers quanto a de sua família, os Hunt. Boa parte se mobiliza para pagar um bom advogado e o que precisar para provar sua inocência, arrumando emprego, trocando por algo melhor ou fazendo extras. Seria uma ótima união se não fosse por sua mãe e suas irmãs. O único disposto a libertá-lo é seu pai, Frank, que unido a família Rivers, faz o possível e o impossível para ver o filho em liberdade.
A narrativa de Tish segue com a ânsia para a chegada do bebê e pela liberdade de Fonny. A jovem conta com um apoio imenso da mãe, mas por outro lado, enfrenta o desprezo da matriarca Hunt. Mas o que importa é o amor entre Tish e Fonny, os deixam mais fortes e confiantes.
O blog teve a oportunidade de receber a prova desta obra magnífica de James Baldwin, através da plataforma NetGalley. Com um enredo que se entrega a tragicomédia, o autor nos apresenta uma bela e triste narrativa, com descrições realisticamente poéticas. As descrições são o forte de sua escrita, em alguns momentos tornando parte de suas cenas inesquecíveis. Jamais li uma cena de primeira vez tão positivamente forte e impactante como a de Tish e Fonny. Fora o fato que, eu nunca destaquei tanto quote no Kindle.
A história se passa no Harlem, no início dos anos 70. James se inspirou num caso real de um amigo, para construir toda trama que enlaça o drama de Fonny. São críticas que não é preciso descrever, estão ali, expostas nas entrelinhas ou não. A questão desta história nunca será revelar um culpado - se bem que em uma determinada cena há um estalo -, mas sim como todo caso afeta a família de Fonny e Tish, expondo faces do racismo e abuso de autoridade na época. Além de mostrar ao leitor, que seu protagonista se agarra ao sentimento por sua amada, para confiar que sua liberdade em breve chegará.
A construção do relacionamento de Tish e Fonny é muito bonita. Ele está sempre preocupado e protetor em relação a ela. Fonny fica bem, se Tish estiver bem. A jovem menciona que algumas pessoas no bairro os comparam a Romeu e Julieta, e no decorrer das páginas soam algumas similaridades. Uma delas é o confronto entre as famílias, em vista que a mãe de Fonny não é a favor do relacionamento. Quando Tish conta sobre a gravidez, a reação não é a alegria esperada. Por outro lado, o pai do rapaz, acaba por deixar as diferenças de lado e aceita com respeito a ajuda da família Rivers para libertar o filho.
E falando na Sra. Hunt, acredito que sua construção seja tão pesada quanto outras abordagens neste drama. Ela coloca a religião a frente de tudo. Seu favoritismo é pelas filhas e acredita que elas arrumarão um bom partido. Em algumas passagens, ela demonstra certo afeto por Fonny, mas no geral, o vi sofrer preconceitos por parte da própria mãe, o que reflete no relacionamento dele com as irmãs. No fim, o amor de Tish é tudo que resta para ele.
Por outro lado, temos Sharon Rivers, mãe de Tish. Desde a cena em que a filha se prepara para lhe dar a notícia da gravidez, conhecemos traços de sua bondade e empatia. Um coração materno que transborda em cada uma de suas aparições. Ela é a grande força e aliada que Tish necessita. Uma mãe que vai até Porto Rico, se lança ao desconhecido decerto perigoso, por você e sua felicidade. E esse contraste entre as mães me faz lembrar da estrutura familiar que James construiu na narrativa. A família de Tish é bem estruturada e harmoniosa, enquanto a de Fonny, passa por percalços e desunião. O que prova que não existe esse lance de "criação moldou", mas sim o caminho que você escolhe.
Se a Rua Beale Falasse é atemporal. A cada momento, em suas páginas, nos fere ao notarmos que nada mudou. É um clássico com uma linguagem cativante. Num dia, cheguei aos 50% de leitura. Essa resenha jamais estará à altura do livro e às todas sensações que vivi durante esta leitura. Fonny e Tish não são jovens problemáticos, mas cresceram assistindo todas as armadilhas se montarem, para ceifar seus futuros.
A edição lida ainda não era a final, mas posso comentar que há um pós leitura maravilhoso, cheio de informações sobre o autor e parte do seu legado literário. Ainda há espaço para interpretações e certo debate sobre algumas passagens. Certamente, Se a Rua Beale Falasse não é um tipo de leitura que termina quando o livro fecha.
Com estreia marcada para Fevereiro, a adaptação é dirigida por Barry Jenkins, diretor e roteirista de Moonlight. Kiki Layne e Stephan James interpretam o casal Tish e Fonny. O filme ainda conta com Regina King no elenco, que está arrasando nas premiações por seu trabalho como Sharon Rivers. Eu dia que a personagem é maravilhosa.