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Não sei exatamente o que eu esperava de O Verão Tardio, mas certamente não foi o que encontrei. Agora, sentada diante do computador, sequer sei por onde começar a falar da imensidão dessa obra. Talvez eu possa começar por nosso personagem principal, Oséias. Depois de anos distante de sua cidade natal, Cataguases, ele decide retornar sem saber bem por quê. Assim, acompanhamos sua jornada de seis dias pelas paisagens quase desérticas da cidadezinha mineira, onde passado e presente se unem de uma forma indivisível.
Oséias vaga pelas ruas procurando aquilo que sua vida foi, ao mesmo tempo em que é confrontado a tudo que nunca chegou a ser. Marcado por uma tragédia que mudou sua vida para sempre, fragmentando-a em antes e depois, Zezo viu todas as expectativas e possibilidades de futuro frustradas. Caminhando pelas ruas quentes de Cataguases, aos 53 anos, ele é um espectro de homem em ruínas como as lembranças de seu passado.
Oséias vai morrer, e isso não é um segredo. O que Rufatto nos apresenta, então, são os passos finais de um homem que sempre viveu pela metade. Vemos os reflexos dessa atitude até nas relações que ele mantém com os demais personagens da trama: Zezo sempre parte antes do conflito, antes do tiro, antes da luta. Tudo permanece em suspenso - despedidas, brigas, amores, dores, adeuses.
O verão tardio é uma obra circular. Embora os dias avancem, a própria construção da narrativa reforça essa sensação de repetição. Trechos, atos, pessoas que se repetem. Oséias tenta avançar, mas a impressão que nos fica é que morreu o mesmo meio-homem que foi. Medíocre. Na iminência de ser alguém, assistindo de fora à vitória de todos os outros pelos quais ele não deu nada. E ele, que podia ser tanta coisa…
Porém, se olharmos atentamente, veremos que Cataguases é habitada por tetos de vidro. Quem não “falhou”, que atire a primeira pedra. Mesmo os vencedores têm seus inúmeros esqueletos (às vezes literais) nos armários. Não há dedos a apontar, que todos terminariam tendo de apontar a si mesmos.
Acompanhando Oséias, acompanhamos a eterna frustração humana: a de ter sempre muito tempo, muitos dias ainda para ser feliz, até que não reste mais nenhum e tenhamos que nos confrontar com todas as escolhas que fizemos e que nos levaram até ali.
E não há como mudar o passado, Oséias, não há...