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Quando as pessoas já não conseguem mais sonhar sozinhas, o Edifício Midoro Filho oferece os serviços dos oneiros, profissionais habilitados a conduzir as imagens mentais produzidas pelo cérebro durante o sono. O Edifício tem regras muito rígidas em relação ao seus funcionários e aos seus procedimentos e a que mais afetará a trama é: um oneiro não pode atender pessoas aparentadas. Só que, por um erro da própria administração. Um deles passa a atender simultaneamente uma mãe e seu filho, desenvolvendo um perigoso interesse por suas vidas fora dali.
Esse interesse do oneiro pela família causa alguns transtornos para ele e para os atendidos, mas me pergunto se a mãe e o filho não encontrariam dramas semelhantes ou, quem sabe, piores sem esse erro do Edifício que frequentam para sonhar. Teria mesmo sido um erro da administração?
A narrativa é contada pelas três personagens principais, alguns capítulos pelo oneiro, outras pela mãe e outras pelo filho. Assim, conseguimos ter uma visão melhor dos acontecimentos e ver até onde vão as consequências dessa interação entre os três.
Algo que me deixou intrigada é que as pessoas não sabem que frequentam esse Edifício, não conseguem identificá-lo em pleno centro da cidade de São Paulo (muitas vezes, o oneiro comenta estar vendo a praça da Sé de dentro do prédio), causando uma sensação de que esse lugar pode não ser material. Então surgem diversas dúvidas: esse Edifício existe de fato? Quem são esses oneiros, são pessoas como nós? Os sonhos estavam interferindo na vida das pessoas ou a vida das pessoas estava interferindo nos sonhos? Ou seria um círculo infinito, em uma espécie de paradoxo do biscoito Tostines?
E a pergunta mais perturbadora de todas as que surgiram em minha cabeça durante a leitura: Será que era tudo um sonho? Será que tudo o que eles viveram foi um sonho?
A leitura foi uma experiência bem interessante. A escrita da autora é ótima e não é a toa que ela recebeu o Prêmio Saramago de Literatura, pelo seu livro anterior, Os Malaquias. É a escrita interessante que sustenta o livro, já que a trama é bem peculiar. Acredito que este é um livro que deva ser lido sem expectativas e sem comparações com outras tramas mais "reais e concretas". O tom transita pelo nonsense, pelo realismo mágico, pelo universo materno, entre outros.
O livro começa apresentando um personagem que nunca ouvi falar, um oneiro. Corri no Google e mesmo assim fiquei em dúvida sobre seu significado, então resolvi relaxar e curtir a leitura sem grandes expectativas e isso foi ótimo. Este oneiro é um trabalhador que "facilita" os sonhos das pessoas que vem consultá-lo, assim como a seus colegas de departamento.
Amores, traições, ambições aparecem por aqui. Assim é a trama, uma sugestão de um micro universo familiar. Gostei muito do ambiente onírico desenhado pela autora e me deixei levar por ele. Foi uma leitura diferente, instigante, que me fez refletir, principalmente sobre sonhos e expectativas. Gostei bastante!