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Um dos clássicos da tia Jane que divide multidões: Sempre fui uma de suas apoiadoras e essa releitura só me confirmou isso. Neste romance, mais do que nunca, a heroína sofre uma transformação radical ao longo da narração, porque é ela própria quem encarna totalmente os ideais e as convenções da época, aos quais se junta o carácter soberbo e caprichoso dos que o são. acostumada a receber sempre a razão com base em uma superioridade social, que também é interpretada como uma superioridade de intelecto.
Gostei de como, em meio a todos os "fracassos" e erros de julgamento da protagonista, seus preconceitos e sua rigidez ideológica foram diminuindo gradativamente; Encontrei alguns momentos engraçados (o típico e inevitável sarcasmo austeniano) e também algumas páginas mais pesadas, com algum monólogo talvez muito longo, o que provavelmente atrapalha a leitura.
Como amante de Jane Austen, sempre releio suas obras com prazer e esta não é exceção.

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Emma como os demais romances de Jane Austen tem seu foco a vida das mulheres em sociedade. Como retrata o seu cotidiano ela possui uma riqueza de
Detalhes que chama a atenção.

Aqui temos Emma, uma jovem rica, bonita e um pouco superficial. Ela não deseja se casar porém, gasta muito tempo de sua vida se intrometendo na vida romântica das amigas. Manipulando-as para que casem ao seu gosto. No decorrer do livro Emma acabará descobrindo que possui sentimentos mais fortes do que o esperado e isso nos trará situações bem interessantes

Um livro de romance clássico que adoro!

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Se há algo que eu posso falar que sou rendida nessa vida é a questão girl power. Desde sempre entendi que a sociedade que vivemos é extremamente machista, e vindo de uma casa de mulheres fortes, aprendi que somos capazes de fazermos tudo que queremos. Logo que entrei no mundo da leitura, entendi que Jane Austen, do seu modo, revolucionou e muito a sociedade na qual vivia. Uma mulher talentosa que não se rendeu ao lugar que muitos queriam delegar para ela, não se casou (apesar de ter aceitado um pedido de casamento e depois se arrependido), escreveu livros e viveu da forma como acreditou ser a melhor para si. Parece algo natural, certo? Mas, tenha em mente que isso era o início do século XIX. Jane morreu em 1817, aonde o papel da mulher era ser uma boa esposa, uma mãe zelosa e, no máximo, uma presença ilustre na sociedade londrina. Jane foi além disso: escreveu e colocou em palavras o seu descontentamento em histórias que hoje em dia soam como comédias do dia a dia, repletas de críticas sociais e preconceitos (sim, eu fiz essa menção). Sempre imaginei o quão maravilhoso deve ser quebrar todas essas barreiras sociais e deixar um legado que perdure todos esses séculos. Jane Austen foi, a sua maneira, uma super-heroína.

Porque sim, muito do que há hoje em dia veio dela (e também das irmãs Brontë, mas isso fica para outra resenha), da sua forma de mostrar que mulheres tinham sim, vontades e deveriam ter seu espaço em uma sociedade que era bem mais machista do que a nossa (então imaginem…). Sei que essa resenha se iniciou basicamente uma panfletagem sobre a autora, mas é que eu sinto que muito pouco se fala sobre a influência de Jane nos dias atuais. Há tantas, mas tantas adaptações de suas obras que a maior parte nem ao menos sabe sobre – sim, houve uma nova refilmagem, a qual comentarei no final dessa resenha – mas há muitas releituras que transportam as histórias do século XIX para os tempos atuais, inclusive da própria “Emma”: Sim, você sabia que “As Patricinhas de Beverly Hills” é inspirado neste livro? Pois é, Cher é Emma, e ainda há diversos outros filmes e séries que bebem nas histórias de Jane Austen, que você até pensar que podem pensar que se ressumem a mocinhas inocentes a procura do seu grande amor mas que trazem muito, muito mais, então faça um favor a você mesma e leve Jane Austen para sua vida. E, depois dessa panfletagem total, eu vou falar do livro agora. Prometo.

Emma Woodhouse não tem problemas em sua vida: ela é jovem, bonita, mora com o pai que muito ama e é basicamente a dona da sua casa, Hartfield (porque casas dos ricos tinham nomes, claro), na pequena cidade de Highbury. Emma tem 21 anos de idade, é rica e por isso não vê necessidade de se casar, como muitas mulheres naquela época, que procuram estabilidade financeira através do matrimônio. Mas, também por justamente ser rica, Emma tem muito tempo livre em suas mãos e, por isso, ela acredita que pode ajudar todos ao seu redor com um “pequeno empurrãozinho” na direção certa sobre suas vidas românticas – mas o problema é que quem julga a tal “direção certa” é justamente a própria Emma. Depois de fazer isso com Anne Taylor, a governanta de sua casa por 16 anos e basicamente uma figura materna para ela, a se casar com o viúvo senhor Weston, Emma está cofiante que descobriu um dom natural, e, assim, coloca sob seus cuidados a jovem Harriet Smith. Emma realmente acredita que pode fazer com a jovem que não tem um lugar na sociedade acenda socialmente através de um bom casamento, e o escolhido é o pároco Sr. Elton. As intenções de Emma são as melhores, mas, claro, o inferno está repleto delas.

Por mais que Emma acredite que tenha tudo sobre seu controle e tudo está indo muito, muito bem, vamos aprendendo mais sobre a nossa protagonista. Sim, ela é um tanto quanto mimada porque justamente é rica (ao contrário das outras heroínas de Jane Austen, que lidam com a falta de condições e, muitas vezes, sofrem com isso) e tem todo esse tempo livre em suas mãos. Muitos podem pensar que esse é um enredo fútil, mas sempre entendi como uma critica valada: a condição financeira da protagonista faz com que ela possa se jogar de cabeça nessas pequenas aventuras maquiavélicas porque não há muito o que fazer. A sua segurança em relação a sua condição financeira faz com que Emma se sinta segura em falar, com todas as letras, que não deseja se casar porque nunca se apaixonou e, por isso, não vê sentido no casamento, mas quantas mulheres precisam se casar para conseguir segurança? E justamente por isso, por não precisar se jogar de cabeça em uma empreitada para si mesma, Emma pode tentar jogar com o destino dos outros dessa forma, por melhor intencionada que esteja. E, claro, vai tudo dar errado porque não há como se meter tanto assim na vida dos outros sem tudo dar errado.

Há ainda outro fator bastante importante para Emma ser quem é: seu pai. Além de ter criado as duas filhas (Isabella e Emma) sozinho, ele é hipocondríaco e claramente tem muito medo de morrer sozinho, o que afeta seus comentários que sempre deixam bastante claro todo esses medos. Emma, como filha mais nova, acredita que é seu destino ficar com o pai e cuidar dele na velhice, até mesmo porque Isabella já está casada com John Knightley. Completando o núcleo bastante ligado a Emma, temos George Knightley, o irmão mais velho de John que é bastante próximo de Emma e que parece ser a única voz sensata capaz de fazer Emma parar um segundo, mesmo que ela continue teimando em seus pontos de vistas, mas ele tem a coragem de falar o que ela precisa ouvir. Quando vê a proximidade de Emma com o Sr. Elton, ele a recrimina e escuta Emma lhe contar seus segredos, o fazendo ficar bastante irado já como incentivou Robert Martin a pedir a mão de Harriet. Claro que Harriet é bastante influenciada por Emma e nega o pedido, o que te faz entender que aquilo tudo vai terminar mesmo dando muito, muito errado porque a garota está sendo tomada por delírios de grandeza incentivada por Emma, que não estava entendendo realmente como a sociedade ao redor dela estava se movendo justamente (mais uma vez) seu lugar já está muito bem definido. Mas o lugar dela não é o mesmo no qual Harriet se encontra.

Então há o retorno de Jane Fairfax a cidade, basicamente a garota que Emma acredita ser sua antagonista. Bonita, delicada e bastante inteligente, Jane também tem um espaço de distância que Emma acredita ser devido a outra se sentir superior do que ela. Como se não bastasse, temos também e adição de Frank Churchill, o filho do 1º casamento do Sr. Weston, que está de volta a pequena cidade para visitas o marido e também outros motivos a princípio ocultos. Emma, pela primeira vez, acredita que pode se envolver com alguém e se apaixonar, julgando que a atenção que o homem lhe endereça é interesse romântico – e aqui acho um dos melhores paralelos do livro porque é basicamente o que acontece com o Sr. Elton, só que o inverso: enquanto Elton acredita que Emma está lhe ofertando atenção por ela mesma desejar se casar com ele, Emma também acredita que a atenção que Frank está lhe dando é por interesse dele… nela. E pronto, temos uma grande confusão instaurada.

As situações que acontecem a partir do momento que nossa protagonista entende a confusão na qual está a fazem amadurecer e esse é outro ponto mais do que forte no livro, já como temos no começo uma Emma leve, desprendida, que leva tudo com bastante frivolidade, a uma Emma mais consciente sim de que ela não pode mexer com a vida, desejos e sentimentos dos outros de uma forma que conduza os destinos dela. Emma não julga as pessoas por quem elas aparentam para ela, mas pela ideia que formou em sua cabeça, o que claramente causa boa parte da confusão na qual estamos nessa altura da narrativa. Há diversos momentos que são engraçados, mas há também aquela sensação de tristeza de vermos o quão engessados todos precisam ser e estar em épocas mais antigas de nossa sociedade.

E é aqui que eu aponto, novamente, um dos grandes trunfos de “Emma” (e da narrativa de Jane Austen, no geral): assim como em seu romance mais famoso, “Orgulho e Preconceito” (e no meu livro favorito da autora, “Razão e Sensibilidade”), temos protagonistas femininas fortes que crescem com seu sofrimento e seus erros. Apesar do sofrimento que semeia as páginas de “Emma” serem, por ventura, mais leves do que em seus outros livros, Jane mostra exatamente o quanto a descoberta de um amor e a ideia de perder quem se ama é capaz de mudar alguém, até mesmo a mais leve e despretensiosa das criaturas. Emma se torna mais madura ao passo que a narrativa vai chegando ao fim, mostrando o potencial que ela sempre teve de ser alguém capaz de ajudar todos ao seu redor sem esperar nada em troca e até mesmo sua conhecida e famosa teimosa se desacentua no final.

Como falei que comentaria mais adianta nessa resenha, também aproveitei para assistir a versão deste ano de “Emma” (porque há diversas versões, já mencionei isso). Aqui temos Anya Taylor-Joy como a protagonista, trazendo todo atrevimento que não há tanto em sua versão escrita, contando ainda com Johnny Flynn como Sr. Knightley. Há, obviamente, algumas mudanças do livro, mas também há frases exatas que estão na versão original, como, por exemplo, a frase inicial que também consta nessa resenha e há ainda a grande declaração de amor que acontece – e não falarei entre quais personagens por motivos óbvios. Apesar de ter gostado bastante dessa versão (que contam com um ponto final no nome, se tornando “Emma.”), confesso que a minha versão favorita ainda é o seriado da BBC com Romola Garai como a personagem título e Jonny Lee Miller como o Sr. Knightley, sendo de 2009 e tem somente 4 episódios, rápido de assistir e muito, muito fiel. Ainda tem a versão de 1996 com Gwyneth Paltrow como Emma e Ewan McGregor como Frank Churchill que foi a primeira versão da história que assisti e tem um lugar afetivo em meu coração. Se você assistir qualquer uma dessas versões, eu tenho certeza que você irá gostar.

Já tinha lido o livro há muitos e muitos anos atrás, e agora li a versão em e-book cedida pelos nossos parceiros da Companhia das Letras pelo selo Penguin-Companhia, que completou 10 anos, que contam com um prefácio da professora da USP Sandra Guardini Vasconcelos e ainda uma introdução do escritor Ronald Blythe, que juntas formam com um livro uma experiência completa de leitura. Foi ótimo ter mais informações sobre a vida de Jane Austen e também sobre suas obras, então, para qualquer pessoa que gosta e acredita no poder de escrita de Jane Austen, vale a pena ler tudo, mesmo que você já tenha lido a obra original. Não encontrei nenhum erro de digitação em lugar nenhum no livro, então não há como não se dá uma nota máxima em toda essa leitura pelo combo: qualidade do livro, o prefácio, a introdução traduzida e a edição perfeitamente editada.

No final, se depois de toda essa panfletagem sobre Jane Austen e suas histórias, você ainda não se sentir nem levemente tentado a dar uma chance e conhecer mais o universo dos seus livros, eu preciso então só terminar com uma quote que acontece já no quarto final do livro (e que mencionei acima) entre dois personagens, mas que poderia ter sido de mim para a própria Jane Austen:

“Se eu a amasse menos, talvez conseguisse falar mais no assunto.”

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Emma me proporcionou sentimentos inesperados. Não achei que iria me divertir tanto lendo um livro da Jane Austen, pois tinha uma impressão de que os livros da autora apresentavam uma carga dramática pesada, como a minha memória me levou a crer já que li "Orgulho e preconceito" há alguns anos. Assim que comecei a leitura percebi que a história me era familiar, e não me custou muito em descobrir que um dos filmes que mais assistia na minha infância/adolescência (As patricinhas de Beverly Hills) é uma releitura deste romance. Ter consciência desse fato tornou a história ainda mais preciosa, nostálgica e divertida.
Acompanhamos o cotidiano da Emma, uma garota bonita, rica, de relevância na sociedade e que todos das redondezas de onde mora almejam a sua amizade. Ela mora com seu pai, este lamenta todos os dias dos maus casamentos (segundo ele) em que se encontram sua filha mais velha e a antiga preceptora de sua casa. Ele fizera Emma prometer em não pensar em casamento, visto que o seu maior medo é de se encontrar sozinho no fim de seus dias. Para Emma esta promessa não é nenhum sacrifício, sua ultima preocupação é de achar um marido e mudar a sua rotina. Contudo, um dos passatempos preferidos dela é arrumar casamentos para as suas amigas, e isso vai colocá-la em situações bem delicadas.
A premissa parece ser bem simplória, mas é interessante reparar nas críticas que a autora levanta entre um baile e outro, e em como os personagens deste romance são, em sua grande maioria, odiosos e tridimensionais. Ela revela, dentre outros, o lado manipulador, sarcástico, controlador, prepotente das amizades e da sociedade de sua época, com muito bom humor e perspicácia.
Depois de favoritar o livro e querer recomendar a leitura a todos os seres pensantes da terra, me deparei com o fato de este ser um dos livros menos amados de Jane Austen, e confesso que até entendo embora não concorde (kkk). Este é de longe um dos melhores e mais divertidos livros que li este ano, o fato de ter personagens que não são 100% bons ou 100% ruins acrescenta uma realidade a para a narrativa, e isso foi o que mais me aproximou da história.

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Ler um clássico sempre é um exercício para um leitor, o de deixar no próprio presente seus conceitos e preconceitos e entender sobre a ótica do autor e da época o contexto que deu origem à aquela história que atravessou a barreira do tempo. E por isso, eu sempre leio a história após algum tempo optando por outra edição diferente da primeira para me dar uma nova visão da mesma história.

E esse é o caso, a leitura agora se deu na edição da Penguin que trouxe além da obra um prefácio lindamente escrito e uma introdução maravilhosa. E com um adicional de nota de tradução que encanta e me mostrou ao longo da história porquê de a editora ter a tradição em excelência de publicação dos grandes clássicos. Mas vamos a história, depois volto na questão da edição.

Com uma narrativa em terceira pessoa que alterna a narrativa entre intrometido e distante, essa é uma leitura difícil porque o plot principal é a própria Emma e seus defeitos e qualidades. Não existe um fio condutor que realmente conduza essa trama, além de coisas que acontecem na vida da personagem principal que não são lá grandes acontecimentos para um leitor.

Outro fator que depõe contra a leitura dessa história é que se trata de um livro que você lê várias páginas e pode se ter a sensação de que nada acontece. Explico: o pai de Emma é um senhor muito rico, viúvo, velho e hipocondríaco. Sim, ele tem muito medo de morrer sozinho e por isso criou sua filha mais nova, o que os antigos diriam a "rapa do tacho", avessa a tudo que a tire de perto dele, então temos uma "mocinha" que não quer casar e justifica isso com várias banalidades como "ninguém está a minha altura", "ainda não conheço ninguém bom o bastante". E que se distancia para narrar a motivação por trás das atitudes e se aproxima para narrar os diálogos torna essa percepção inicial um pouco mais pronunciada.

“Aqui estamos nós seguindo para passar cinco horas aborrecidas em casa de outras pessoas, sem nada que se possa ouvir ou dizer que já não tenha sido dito ou ouvido ontem e não possa ser dito ou ouvido novamente amanhã.”

Se você não acha isso grande coisa, imagine duas páginas do livro onde o tema principal é o mingau perfeito e como ele pode evitar vários males e doenças – mas alerto para que mesmo esse fato tem uma explicação do porquê existir na trama –, assomado aos benefícios dos ares do mar e do campo no bem-estar das pessoas. Digamos que outro grande problema para se apegar a leitura é que hoje, para muitas pessoas, é complicado entender o que se passa na vida das pessoas que moram em pequenas cidades, mesmo com a internet. Onde quem chega e quem parte, casamentos, noivados, morte e toda sorte de escândalos são o ponto alto da vida social e mantém o tom das conversas entre os moradores do lugar.

Eu fui capaz de entender Emma como uma moça extremamente rica que é criada pelo pai como companhia e que mora em um local sem grandes acontecimentos, que tem em suas qualidades os seus maiores defeitos. O livro começa a ganhar ritmo, quando a "rival" de Emma volta à cidade e ela começa além de conjecturar o porquê dessa volta, a fazer comparativos entre ela e a rival, que diferente dela não é rica e está sendo "criada" para ser uma governanta, porém supera em tudo, porque é capaz de fazer as mesmas coisas, porém ainda melhor. E junta-se a isso o fato de com essa volta se traz outro personagem a cidade que mexe ainda mais com os brios de nossa mocinha.

“Há pessoas que, quanto mais fizermos por elas, menos farão para si mesmas.”

Minhas sugestões de como ler Emma, sem que você crie uma expectativa que te frustre e faça até mesmo abandonar a história: Primeiro apesar de ser chamado de uma comédia, não é no sentido de ser engraçado (ouvi coisas tipo "Emma seria a percursora do Chick-lit", eu não acho isso, mas enfim), a comédia é mais no sentido do caricato onde todos os personagens têm suas qualidades e defeitos exagerados ao ponto de ser uma caricatura.

Outra sugestão é que se você não sabe quem é o par romântico dessa história, torne isso um mistério e tente descobrir quem será, será uma grata surpresa. Porque ele realmente vai ser o personagem que você vai se "apegar" quando o descobrir e ele vai ser aquele que te faz torcer e querer saber como será seu destino no fim da história.

“A essa altura, já devia ser um hábito seu o cumprir seu dever, em vez de lançar mão de oportunismos. Posso admitir os temores da criança, mas não os receios do adulto. ”

Por fim, achei que Emma, sim, amadurece durante a leitura, com certeza descobrir o amor a torna alguém melhor, o "mea-culpa" de Emma para mim mostra sim o crescimento dela como pessoa ao longo da trama e como em vários momentos sua cegueira sobre si foi sua pior inimiga.

Nesse ponto da história mostra-se toda a genialidade da escrita de Jane Austen e traz a luz à resposta a todos os porquês do que foi escrito (incluindo o mingau) e abordado antes por mais tedioso e difícil de ler que tenha sido, fica claro também que não foi impensado ou escrito sem motivo, porque a reviravolta que acontece na história mostra claramente o quanto cada acontecimento foi necessário para dar o tom certo a cada acontecimento quando esclarecido ou revelado e o porquê de ser um clássico da literatura. Caso já tenha lido ou se aventure a ler, compartilhe comigo suas impressões, é muito legal ter a opinião de outra pessoa sobre um livro.

E assim, tanto o prefácio lindamente escrito por Sandra G. Vasconcelos, a introdução maravilhosa de Ronald Blythe acrescentam visões, informações e também indicações biográficas que tornaram a segunda leitura ainda mais prazerosa que a primeira e me fizeram enxergar minucias da genialidade da escrita da Jane Austen, que por uma ansiedade de leitora e uma visão leiga passaram sem serem percebidas num primeiro momento.

O adicional da nota de tradução, encanta e traz o gosto de estar lendo um clássico em sua essência mais próxima a escrita original por Austen, além de indicar o trabalho primoroso também realizado na diagramação. Fechando assim essa leitura com um enlevo literário que todo leitor apaixonado sabe porque em algum momento já sentiu. E isso, mesmo a leitura tendo sido realizada por e-book.

Divirta-se e boa leitura!

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Jane Austen não é a minha autora preferida, mas é uma delas. Suas histórias sempre me comovem por terem, aparentemente, um enredo romântico, mas serem muito mais sobre questões econômicas relativas a vida das mulheres da época do que qualquer outra coisa. Em Emma, entretanto, isso é diferente: embora exista uma crítica social sobre o papel destinado à mulher naquele local do século XIX, somos apresentados a uma heroína rica, arrogante e que está longe de precisar preocupar-se com finanças.

Quando iniciamos a leitura de Emma, estamos preparados para mais uma história sagaz sobre o amor e a vida da mulher na estreita sociedade inglesa do século XIX. Entretanto, o que encontramos é uma comédia onde o amor desempenha papel coadjuvante, já que todo o protagonismo está no caráter dominador de Emma Woodhouse. Órfã de mãe ainda muito criança, Emma foi educada por um pai hipocondríaco que a enche de mimos, o sr. Woodhouse, e sua preceptora, a srta. Taylor. O romance começa com o casamento da srta. Taylor, que torna-se sra. Weston, abandonando a propriedade de Hartfield e os cuidados para com Emma e o sr. Woodhouse para dedicar-se à sua própria casa.

Emma, sem alguém lhe cuidando de perto pela primeira vez, sente-se estimulada a cumprir sua imaginária função de casamenteira, já que considera-se a responsável pela união dos Weston, e começa a tentar aproximar pessoas para formar casais. No entanto, ela mesma está decidida a não deixar-se apaixonar por ninguém, pois, com a condição que possui, casar-se poderia ser um rebaixamento de sua posição.

"Não tenho os estímulos habituais que as mulheres têm para casar. Se por acaso me apaixonasse, de fato, a coisa seria diferente! Mas nunca estive apaixonada; não é o meu costume ou a minha natureza; e creio que jamais estarei. Sendo assim, sem amor, tenho certeza de que seria uma tola em mudar uma situação como a minha.
De fortuna não preciso; de ocupação não preciso; de relevância não preciso: acredito que poucas mulheres casadas cheguem perto de ser tão soberanas das casas de seus maridos quanto eu sou de Hartfield."

Isso parece mudar com a expectativa da chegada do sr. Frank Churchill, um jovem, filho do Sr. Weston, criado por seus tios a algumas milhas de Highbury, que desperta a atenção de Emma de imediato. Em sua imaginação, ela o visualizava como alguém tão elegante quanto ela, digno de sua amizade. O sr. Knightley, vizinho de Emma e amigo da família, entretanto, não concorda com isso, e enxerga no jovem - que ambos nem conhecem - características frívolas e tolas demais para que ele possa ser, de fato, considerado adequado.

Emma parece ser um daqueles livros em que nada acontece, e, de certa maneira, é o caso. A história de Emma Woodhouse é sobre uma jovem repleta de privilégios que vive numa bolha e considera-se mais importante do que realmente o é. Em muitos aspectos, é difícil gostar de Emma. A própria Jane Austen, ao escrever a personagem, declarou que Emma seria uma heroína de quem apenas ela gostaria, uma heroína imperfeita. Claro que ela não contava com o fato de que, além de as pessoas apreciarem sua escrita precisa e divertida, alguns anos após a publicação, personagens femininas um tanto detestáveis entrarem para o gosto do público por mostrar mulheres mais próximas do real do que aquelas idealizadas, encontradas em grande parte da literatura clássica.

O quarto e último romance publicado em vida pela autora, Emma foi escrito entre 21 de janeiro de 1814 e 29 de março de 1815, enquanto Jane Austen morava com a mãe, a irmã e uma amiga. Embora já tivesse escrito alguns livros e contos, foi com esse que atingiu seu ápice literário, pois estava em pleno domínio narrativo. Emma não é somente uma história de amor, apesar de existir algumas delas na trama. É também uma história de mistério: quem presenteou Jane Fairfax com um piano de cauda? As pistas são deixadas ao longo do livro, mas é somente no final que descobrimos o admirador secreto da srta. Fairfax, uma jovem da idade de Emma por quem ela sente aversão. Como bem observado pelo sr. Knightley, tal aversão provavelmente advém do fato de que Jane Fairfax é talentosa em tudo o que faz e, ainda, é querida, sendo educada e delicada com as pessoas, ao contrário de Emma, cuja delicadeza é um verniz do que considera elegante e que, além disso, nunca se dedicou suficientemente a algo a ponto de tornar-se boa para que alguém possa chamar-lhe de "talentosa".

Quando Frank Churchill finalmente chega a Highbury, demonstra sentimentos de afeição por Emma e, embora ela esteja determinada a jamais casar, o jogo de flertes entre ambos ocorre de forma descarada para os padrões sociais da época. Emma, seja por maldade ou por inveja, não deixa de lado sua aversão por Jane Fairfax, que também está no local, e informa Frank de tudo o que considera errado em sua vizinha. No fundo, Emma não é má, apenas privilegiada, mimada e tola. Mas, aos poucos, se dá conta de que sua conduta, especialmente com Jane e sua tia, pode não ser a melhor de todas.

"Ela hesitava sobre ter transgredido ou não o seu dever de mulher para mulher ao trair suas suspeitas quanto aos sentimentos de Jane Fairfax para Frank Churchill."

Por mais que a história não tenha tal foco - e, realmente, não é correto chamarmos Jane Austen de feminista, haja vista que o conceito de feminismo como o conhecemos surgiu depois -, existem muitos diálogos e defesas da própria narradora que dissertam acerca da condição da mulher naquela sociedade. Como Emma era altamente privilegiada, possuía uma posição que mais ninguém ali tinha, o que a dava liberdade para agir como bem entendesse, dentro da moral conservadora da época. Em suma, ela é atrevida e maliciosa em muitos momentos. Mas, ainda que não ocorram muitas coisas no romance, a mudança interna de Emma é fascinante, pois é possível perceber os pequenos detalhes que a fazem sair de sua concha metafórica de dona e soberana de Hartfield para realmente enxergar as outras pessoas como seres humanos tão dignos de respeito quanto ela.

Estou longe de ser uma fã de histórias de amor. Na verdade, acho que colocar o amor romântico como foco narrativo é o que estraga diversas histórias (vide a terceira temporada de Dark, por exemplo), mas Jane Austen sabia escrever uma história de amor de forma a não ser exageradamente melosa ou dramática. Sua ironia, sarcasmo e cuidado na construção de personagens se faz presente em todas as suas obras e em todos os seus casais, mas especialmente aqui, em Emma. No papel imaginário de casamenteira, Emma tenta juntar Harriet, sua amiga, com o Sr. Elton, um jovem pároco amigo da família. Os detalhes desse plano estão dentre as coisas mais divertidas que já li, assim como o desenrolar atrapalhado da tentativa de correção que Emma faz, ao procurar sentimentos românticos em diversas pessoas a fim de ajudar a amiga. O que ela não esperava era perceber-se enredada na teia que tecia, ela própria com sentimentos conflitantes a respeito de um certo homem da história... Em determinado momento, quando todos estão reunidos em um baile, Emma chama o certo homem para dançar, ainda sem consciência de seus próprios sentimentos, e a resposta dele me fez dar um grito durante a leitura, pois é possível, no contido e conservador universo Austeniano, perceber os sentimentos dele ali:

"– O senhor demonstrou que sabe dançar, e, bem, na verdade não somos irmão e irmã tanto assim a ponto de fazer disso algo minimamente impróprio.
– Irmão e irmã! Não, não mesmo."

Eles não são irmão e irmã, e eu jamais torci tanto por um casal quanto o fiz por eles. Emma não estava procurando por um amor ou por casamento, mas o encontrou mesmo assim. Nem sei dizer o quanto isso me deixou feliz - eu, que detesto histórias de amor, risos. Isso porque Jane Austen não escreveu uma heroína frágil, delicada e que deseja ser amada, mas uma criaturinha insolente que possui mil defeitos, mas é adorável à sua própria maneira e encontra seu final feliz de forma cômica.

Para além da história de amor completamente adorável e divertida, também amo como existem diversos capítulos que mostram o verdadeiro horror de uma jovem privilegiada: passar vergonha por ter de conviver com alguém melhor do que você, muito mais talentosa, e sentir-se completamente ridícula em comparação. Isso para não mencionar o piquenique, quando Emma acha que um comentário espirituoso será bem vindo, mas acaba sendo apenas maldosa e causando um verdadeiro climão entre as pessoas. Emma Woodhouse não presta e eu realmente respeito isso.

Emma é um livro absolutamente perfeito em todos os sentidos e eu não canso de recomendá-lo às pessoas. Não sou a maior fã da autora, tampouco de romances, mas Emma é uma história que facilmente poderia não ser nada demais, porém se destaca por sua heroína imperfeita, seu pai hipocondríaco, seu vizinho, que tenta meter-se em sua vida e acaba levando voadora emocional, uma vizinha que é a personificação da mocinha perfeita de acordo com os padrões da época, o que leva Emma a um estado constante de inveja, uma amiga pobre a quem ela quer ajudar e para quem acaba sendo a verdadeira definição de amizade tóxica, um pároco cuja ambição é sem limites e uma senhora que não cala a boca por um instante, mas que é uma pessoa adorável, apesar da tagarelice insuportável. Tanto o livro quanto o filme, deste ano, são maravilhosos, e recomendo-os fortemente.

"Emma Woodhouse, bonita, astuta e rica, com um lar confortável e um temperamento feliz, parecia unir algumas das melhores bênçãos da existência; e tinha vivido quase 21 anos no mundo com bem poucas coisas que a perturbassem ou aborrecessem."

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