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Galgar este livro foi difícil, mas recompensador. As camadas dessa história vão se desfolhando em críticas à construção social que vivemos, ao racismo velado, ao abuso de poder que oprimem a população negra.
O modo como essa narrativa é contada transmite uma urgência, é escrita em parágrafos únicos e direcionados à um "Ele", Henrique, o patriarca dessa família que se construiu em cima de muitas dificuldades impostas pelo seu meio.
O filho Pedro conta toda a trajetória de seus pais. Da infância à velhice, com suas vidas entrelaçadas pelo preconceito e pela dureza da vida.
De uma história de amor nasce um relacionamento tóxico e disforme e com ele um filho que herda os frutos dos traumas e dos ressentimentos do casal.
Na vida adulta Pedro tenta superar seus limites e se redimir do passado. A consciência que seu lugar não é tão facilmente conquistado por conta do preconceito o blinda para seguir sempre em frente.
O narrador explora e expõe situações que parecem ser absurdas de se acontecer, mas que são a realidade que muitos vivem todos os dias.
Foi uma leitura que eu devorei, que me fez por de novo os pés no chão. Ler "O avesso da pele" é como ser traspassado pela flecha da realidade. Ela nos fere, nos faz sofrer e sangrar junto. Também traz consigo a chama de uma revolução que cada um pode organizar em seu mundo particular.
O Avesso da Pele de Jeferson Tenório é uma obra que se destaca no cenário literário brasileiro contemporâneo por sua abordagem sensível e crítica sobre temas como racismo, identidade e memória. O romance, que narra a vida e as experiências de Pedro, um jovem negro em busca de compreensão sobre a história de seu pai, torna-se uma reflexão profunda sobre as dificuldades enfrentadas por pessoas negras no Brasil. No entanto, apesar de suas qualidades indiscutíveis, o livro apresenta alguns pontos que merecem ressalvas.
A narrativa de Tenório é conduzida por Pedro, que, após a morte de seu pai Henrique, um professor de literatura, tenta reconstruir sua história para entender melhor quem ele era e, consequentemente, entender a si mesmo. A partir dessa perspectiva, o romance aborda questões estruturais do racismo, desde as microagressões cotidianas até a violência explícita, além de explorar o impacto dessas experiências na formação da identidade de Pedro e na relação com sua família.
Uma das grandes qualidades do romance é a construção dos personagens, especialmente a figura de Henrique. Tenório cria um personagem complexo e multifacetado, que luta para manter sua dignidade e humanidade em um ambiente que constantemente o desumaniza. A relação entre pai e filho, embora marcada por silêncios e ausências, é retratada com uma sensibilidade que destaca o afeto e a dor compartilhada entre eles.
A linguagem do autor também merece destaque. Tenório utiliza uma prosa elegante e contida, que contrasta com a dureza dos temas abordados, criando um efeito poderoso que amplifica o impacto emocional da história. A estrutura fragmentada da narrativa, que alterna entre o presente e o passado, é eficaz em capturar a natureza fragmentada da memória e da identidade.
No entanto, algumas escolhas narrativas podem afastar certos leitores. A fragmentação da narrativa, embora interessante, por vezes resulta em uma leitura que pode parecer dispersa, dificultando a imersão na história. Em certos momentos, a alternância entre as vozes narrativas e os saltos temporais podem confundir o leitor, exigindo uma atenção redobrada para acompanhar a linha narrativa.
Outro ponto que merece ressalva é o tratamento de alguns temas, que, embora relevantes, poderiam ser explorados de forma mais profunda. Questões como a relação entre racismo e educação, por exemplo, são abordadas, mas poderiam ter sido desenvolvidas com maior complexidade, oferecendo uma análise mais detalhada das interseções entre esses temas. A sensação, em alguns momentos, é de que certas discussões são introduzidas mas não plenamente exploradas, o que deixa um certo desejo por mais profundidade.
Apesar dessas ressalvas, O Avesso da Pele é uma obra relevante e necessária, que traz à tona discussões importantes sobre racismo e identidade no Brasil. Tenório oferece ao leitor um retrato honesto e comovente das dificuldades enfrentadas pelos personagens negros em uma sociedade que insiste em marginalizá-los. A sensibilidade do autor na construção da narrativa e dos personagens faz com que o livro seja uma leitura impactante, ainda que apresente alguns elementos que poderiam ser aprimorados.
Peguei esse livro para tentar entender os motivos de tanto burburinho na internet e confesso que não entendi mesmo assim, gostei do livro, não é meu tipo de leitura de preferência, mas não vi nada de errado!
À priori, demorei um pouco pra pegar ritmo de leitura, mas, quando consegui, não parei mais nunca.
A troca de figuras enquanto muda de capítulos é muito interessante, o livro é realmente tudo o que dizem sobre ele. Sensível, visceral, dolorido.
Certamente, leitura obrigatória.
O livro é um relato poderoso e necessário, que oferece uma visão íntima e pessoal dos impactos do racismo estrutural. Ao mesmo tempo, é uma celebração da resiliência e da força da comunidade negra, proporcionando uma leitura transformadora.
Em pleno 2024 esse livro foi censurado em várias escolas. Dizem ser pela linguagem e descrição sexual de uma cena, mas todos sabemos que o buraco é mais embaixo. Um livro que denuncia o racismo descarado da sociedade nas mãos de jovens, para fazê-los desenvolver senso crítico? Não pode!
Pelo menos isso me impulsionou a finalmente lê-lo (fiz isso algum tempo antes dessa resenha ser escrita, então a notícia sobre a censura era mais recente). E que leitura! Li em apenas um dia porque não consegui parar. Li até no ônibus, com a possibilidade de ficar enjoada (o que sempre acontece) só porque eu precisava chegar logo no final, por mais doloroso e injusto que ele fosse ser.
Acompanhamos aqui Pedro contando a história de seu pai (e de sua mãe, e um pouco da sua própria). Henrique não teve uma vida fácil, o que se tornou mais difícil ainda quando se mudou para o Rio Grande do Sul, um lugar que não o recebeu muito bem. Todo sua experiência e vivência em sala de aula mexeu muito comigo (por também ser professora), dando aquele sentimento de desolação e impotência diante de um sistema educacional (e social) falho, até que surge aquela centelha de esperança de que pode ser melhor. Quem nunca pisou em uma sala de aula como educador, não faz ideia do quão desafiante é todos os dias.
O final é tão doloroso quanto se possa imaginar, mas é um retrato fiel da realidade de pessoas pretas no Brasil. Esse livro é necessário e merecedor de mais reconhecimento. É uma vergonha que esteja passando por tanto boicote nos dias atuais.
o maior problema em decidir que vou escrever alguma coisa sobre todo livro que eu ler esse ano é que tem livros que eu não consigo colocar em palavras o que senti durante a leitura. esse, obviamente, é um.
o avesso da pele foi um livro que peguei há um bom tempo, mas que fui adiando a leitura porque nunca parecia ser a hora de deixar que ele brilhasse e, bem, já faz algumas semanas desde que finalizei e não paro de pensar nele. tinha ingresso para ver a peça de teatro no sesc aqui em são paulo, mas estava doente no dia e acabei não indo — se arrependimento matasse…
de toda forma, é uma leitura rápida, que não te faz querer largar ao mesmo tempo em que te apresenta um drama familiar e social que emociona pela delicadeza e que expõe a disparidade social e racial de forma igualmente didática e poética. recomendo a leitura, o que já estava claro há semanas quando dei a nota, e espero que o autor tenha cada vez mais reconhecimento.
“O Avesso da Pele" é uma obra literária que se destaca não apenas pela trama envolvente e complexa, mas também pela profundidade das reflexões que provoca. A história de Pedro após a morte de seu pai é mais do que uma simples jornada de resgate do passado familiar; é um mergulho nas questões mais essenciais da identidade e da condição humana.
Jeferson Tenório apresenta um retrato contundente de um país marcado pelo racismo e pelas consequências devastadoras desse sistema para a vida de pessoas como Pedro. A narrativa sensível e brutal ao mesmo tempo expõe as feridas profundas deixadas por uma sociedade que marginaliza e oprime, e Pedro se torna o catalisador para explorar essas feridas em suas próprias experiências.
A relação entre pais e filhos é explorada de maneira magistral, revelando as complexidades emocionais e os desafios enfrentados por aqueles que tentam reconstruir laços quebrados ou compreender a herança deixada por gerações anteriores. As fraturas existenciais de Pedro refletem não apenas suas próprias lutas, mas também as lutas de uma nação em busca de reconciliação e justiça social.
A jornada de Pedro é um processo de dor, mas também de descoberta, redenção e liberdade. À medida que ele confronta seu passado e seu presente, o leitor é levado a refletir sobre suas próprias experiências e sobre as questões universais de identidade, pertencimento e superação.
"O Avesso da Pele" não é apenas uma história; é uma experiência literária que desafia, emociona e inspira, deixando uma marca indelével no leitor e reafirmando o poder transformador da literatura em nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.
Forte e ao mesmo tempo delicado, o autor Jeferson traça a história de Pedro em meio a uma narrativa que estamos pouco acostumados e isso é incrível, porque te traz um outro olhar sobre as crueldades do racismo que não são de hoje, mas estão intrínsecas desde os primórdios da humanidade. Dá vontade de marcar de quotes o livro inteiro, e na verdade foi meio isso que aconteceu, e não se engane, apesar de ser um livro com menos de 200 páginas, ele te arrebata desde o começo e te leva à águas tão profundas e sinceras que você simplesmente não consegue parar de ler, realmente para sentar e ler. O livro traz uma sensação como se tivesse realmente acontecendo com você e de uma forma tão nítida e clara que não dá para ignorar e deixar de lado e sim tomar as rédeas por essa luta que não tem fim, infelizmente. Merece MUITO o prêmio Jabuti e deveria ser MUITO mais divulgado, é maravilhoso e nem sempre para contar a história e dar spoiler, mas pela experiência de leitura que vai te proporcionar essa narrativa tão real. SÓ LEIAM por favor.
É lamentável que uma obra tão significativa como "O Avesso da Pele" tenha sido alvo de censura em Santa Catarina.
"O Avesso da Pele" é uma obra que mergulha nas complexidades da vida urbana: identidade, violência e marginalidade. Jefferson Tenório, o apresenta uma narrativa envolvente que entrelaça diferentes histórias e personagens, proporcionando ao leitor uma reflexão profunda sobre as nuances da existência humana, da raça, da história, de relacionamentos e de dissabores.
A trama se desenrola em Porto Alegre, revelando os contrastes sociais e culturais de uma cidade em constante transformação. Habilidosa, a escrita de Tenório captura a essência dos personagens e dos cenários urbanos com uma precisão impressionante em poucos detalhes. A cada página, somos confrontados com dilemas morais, conflitos emocionais e reviravoltas inesperadas .
Eu tenho essa edição parada na minha estante há bastante tempo, mas como a leitura é feita de momentos, até então eu não havia sentido que o livro estava me chamando.
Claro que isso mudou quando eu vi toda a polêmica em torno da censura que esse livro vem sofrendo em alguns estados do país.
Vindo de >certos< estados, eu já imaginava que o motivo que deram era com certeza infundado, mas foi a partir desse alarde que decidi enfim começar “O avesso da pele”.
O livro é a história de Pedro, mas não unicamente dele, e na verdade quase nada dele, já que ele revive a história de seus pais a partir do momento que o mesmo morre vítima de violência policial.
Eu gostaria muito de dizer que isso acontece apenas na ficção, mas é tão frequente ouvirmos sobre algum homem negro morto durante uma abordagem policial que essa rotina já ficou banal, muito banal.
E essa é “só” uma entre tantas situações racistas, tão enraizadas em nossa sociedade, pelas quais os personagens passam. 😰
Outra grande força da história vem da forma como o livro é estruturado. Os relatos de Pedro, misturados às memórias de seus pais são divididos em capítulos curtos, em único parágrafo únicos.
Esse fluxo continuo não é cansativo em nenhum momento, e a maneira em que a história é contada nos aproxima ainda mais dos sentimentos que Pedro vivencia no momento de seu luto.
É como se ele precisasse descarregar logo para enfim encontrar um pouco de paz...
Infelizmente, vivemos em uma sociedade profundamente racista, e não é retirando “O avesso da pele” das escolas que magicamente o racismo que o livro denuncia vai sumir junto.
Dilacerada. Foi assim que me senti ao terminar essa leitura.
Humano e honesto, em poucas páginas o Jeferson consegue te fazer sentir muito próximo aos personagens, e desde as primeiras páginas vem surgindo aquilo aperto no peito e a vontade de acolhê-los.
Uma pena um livro com uma história tão forte quanto essa estar passando por censura em algumas escolas. Triste em saber que as pessoas que lutam por essa censura nem ao menos leram o livro. Mais triste ainda é essa realidade cruel que o livro retrata ainda é tão presente na vida de muitos.
Viva a nossa literatura contemporânea que é tão linda, tão forte e tão poderosa.
Obrigada #NetGalley e #CompanhiaDasLetras pelo ARC.
Sabemos que o racismo existe. Eu vi e vejo acontecendo ao meu redor, infelizmente, com frequência demasiada. Busco combatê-lo e alertar as pessoas quando me deparo com ele. Já convivi em ambientes corporativos em que as piadas racistas eram comuns e absolutamente constrangedoras, além de criminosas, mas isso não está restrito a esses ambientes. Já me percebi tendo atitudes racistas (como descritas no livro), mesmo sem querer. Eu sei, eu vejo o racismo funcionando dessa forma estrutural, como agora sabemos que ele funciona.
Contudo, saber e ver é muito diferente de vivê-lo “na pele”, de escutar ou de ler o relato brutal de quem vive isso “na pele” diariamente, a ponto de aferrar-se, como um tipo de autopreservação, ao “avesso da própria pele”, porque essas pessoas foram reduzidas à cor da sua “pele”, o aspecto mais superficial de um corpo, qualquer que seja ele.
Jeferson Tenório nos premia com essa narrativa cortante, inflamada e inflamável, sobre o veneno letal que é o racismo estrutural na sociedade brasileira. Como ele estigmatiza e condena pessoas a sofrimentos e segregações diversas, e mesmo à morte – além da morte literal, também vários outros tipos de morte: a invisibilidade social, cultural, profissional e, e certa forma, à morte psíquica.
Ao narrar principalmente na segunda pessoa – um recurso raro de ser utilizado por escritores – mas entremeado por outros narradores, o eu (o filho do protagonista “você”) e a outra (a mãe e outras personagens) –, Tenório torna a estrutura de seu romance dinâmica, mas também, propositalmente incômoda, porque temos que nos colocar no lugar daquele que vive e sofre a estória trágica que é contada, nos “obrigando” ao exercício de andar nas suas roupas, nos seus sapatos e na sua “pele” negra e estigmatizada, com todas as implicações. E faz um paralelo brilhante com Dostoiévski, através do seu protagonista na sala de aula, quando este propõe aos alunos “entrar na pele” de Raskólnikov, protagonista do claustrofóbico e magistral Crime e Castigo: “eu conheço um cara que matou duas pessoas (...) e tem mais: eu sei o que ele pensou antes de matar, eu sei o que ele pensou enquanto estava matando, e sei o que ele pensou depois de matar”. Simplesmente brilhante, Tenório!
Essa é uma daquelas leituras obrigatórias se queremos entender melhor o mundo em que vivemos, e se queremos, especialmente, atuar nesse mundo para que ele se transforme num lugar melhor para todos. Se formos honestos, perceberemos o racismo nosso de cada dia, mesmo quando mascarado de “boas intenções”.
Esse livro nos deixa sem fôlego em diversos momentos. Ele não tem plot twists antásticos e isso é parte da angústia que vai se elaborando e se avolumando ao longo da narrativa, porque já intuímos e antecipamos esse final tão previsível, tão trágico, tão terrível e, infelizmente, tão comum e tornado tão banal nas estatísticas criminais e sociais deste país.
É uma história trágica e infeliz, e mais infeliz ainda por retratar tão fidedignamente essa realidade brutal da população negra no Brasil. Ler este livro é uma das coisas que podem nos ajudar a nos conscientizar um pouco mais dessa tragédia diária que é o racismo estrutural.
É mandatório. E certamente recomendo!
Agradeço muitíssimo à Companhia das Letras pelo presente, através do site Netgalley!
4,5/5
Em O avesso da pele, Pedro nos conta a história de seu pai.
Uma história nada fácil, marcada pelo racismo, por uma família desestruturada, pelo abandono e pelo luto.
A forma como o racismo foi abordado no livro é diferente de tudo o que eu já li até o momento, capaz de atingir diretamente a percepção do leitor por aquilo que é real, mas que nem sempre observamos e sentimos.
É sair da bolha.
É olhar com outros olhos.
É uma leitura muito fluida, mas também triste e marcante.
E o livro, para mim, foi muito mais do que uma ou outra palavra incômoda em algumas partes, como temos visto as críticas por aí.
O livro é sobre conscientização, reflexão.
Estava na lista há um tempo, finalmente li e valeu demais!
"O Avesso da Pele", de Jeferson Tenório, é um livro que mergulha nas profundezas das relações humanas, da identidade e do racismo de maneira sensível e impactante. A narrativa acompanha a vida de um grupo de personagens em Porto Alegre, explorando suas experiências e conflitos pessoais.
Com uma escrita envolvente e intensa, Tenório aborda questões sociais e raciais de forma crua e honesta, levando o leitor a refletir sobre preconceitos e desigualdades presentes na sociedade brasileira. Os personagens são complexos e realistas, cada um lutando com seus próprios demônios e dilemas, o que torna a história ainda mais cativante e profunda.
No entanto, apesar da qualidade literária e da relevância temática do livro, "O Avesso da Pele" enfrentou polêmicas e controvérsias em alguns estados brasileiros, resultando em seu banimento em determinadas escolas e bibliotecas. Isso gerou debates acalorados sobre a liberdade de expressão, censura e a importância de discutir abertamente questões sociais difíceis. VIVA JEFERSON TENÓRIO!
Pela liberdade de escrever e ler!!
A obra nos leva à reflexão e ao diálogo sobre temas urgentes e atuais, destacando a necessidade de enfrentar as injustiças e desigualdades que permeiam nossa sociedade. "O Avesso da Pele" é um livro poderoso que desafia o status quo e provoca mudanças, mesmo diante das resistências e controvérsias que possa enfrentar.
Fui motivada pelos episódios de censura que o livro sofreu e antes de começar a leitura confesso que não sabia nada sobre a história.
Eis que é uma narrativa bastante direta, e a verdade é que história não tem grandes reviravoltas, não tem grandes acontecimentos. O que nós, leitores, encontramos, são vidas e rotinas sendo narradas na mais chata das burocracias cotidianas. E talvez por isso mesmo seja um livro tão brutal. A dureza da vida dos personagens e cada uma de suas relações e formas de se relacionar, é muito próxima da que passamos ou vemos no dia-a-dia. Esse livro não te permite uma fuga da realidade, não te conforta, não te abraça. Ele esfrega a dureza da vida na sua frente com todos os seus altos e baixos. Com toda a sua violência.
É inexperado e ao mesmo tempo e completamente cotidiano. Completamente normal.
Repito: talvez seja por isso que é um livro tão brutal. É excelente.
Livro intenso, dolorido e belo. Obra essencial para se compreender as entranhas do racismo na sociedade. Mas aborda de modo primoroso uma questão muito cara a mim, que sou professsora... fala de como é desafiador ser docente nos dias de hoje, do sucateamento da educação pública e do adoecimento destes profissionais.
Leiam "O avesso da pele"!
Eu estava adiando essa leitura já tinha um bom tempo. Mas meu irmão me perguntou minha opinião sobre a censura que o livro vem sofrendo. Então eu precisei ler para dar minha opinião. Eu adiei essa leitura porque na minha cabeça eu pensei que ia ser um livro difícil de ler, o que não é. Ele aborda temas importantes e que podem ser vistos como "pesados", mas que são extremamente necessários falar. Ele escancara o racismo cotidiano que as pessoas pretas sofrem e como isso geram traumas para uma vida inteira, mas o livro também fala sobre luto, famílias, casamento fracassado, ausência paterna, e até do cansaço do professor (profissão de um dos personagens) em lidar com ensino precário e alunos e ter que ensinar um conteúdo quando a maioria não está nem aí para o que está sendo ensinado. Ele também aborda temas sexuais e que talvez esse seja o principal argumento para a censura, mas que não se justifica. São tantos temas que cada um te toca de uma maneira ou de outra. Ainda mais com uma escrita maravilhosa do autor. Eu gosto de livros que me deixam reflexivas por um bom tempo e esse um desses. Enfim, foi um dos livros mais emocionantes que já li na vida.
Que livro tocante, assim como o próprio autor mencionou, uma frase de Drummond, no encontro virtual sobre o livro, "Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam. Nunca, nunca cicatrizam."
Foi assim, uma sensibilidade que me tocou e me fez chorar mesmo já sabendo o que aconteceria.
A parte sobre professores, educação, foi escrito com tamanha veracidade que pessoalmente, como filha de professora de escola pública estadual, li pensamentos que me recordo ter ouvido outrora. E fica aqui todo o meu respeito, admiração e parabéns àqueles que assim como o personagem "[...] alguém tem que ficar para apagar o quadro, desligar as luzes e fechar as portas."
Também quero ressaltar que a forma da escrita do autor, foi algo que causou estranheza no começo mas logo fiquei encantada e mal posso esperar para ler mais obras.
Enfim, recomendo muitíssimo a leitura e um lencinho pra acompanhar.
Acabei de ler o livro e ele mexeu comigo de uma forma inesperada. Não imaginei que, de alguma forma, ele se conectaria com a minha experiência pessoal enquanto filha de uma pessoa negra. Quanto mais velha fico, mais percebo que além das barreiras de gênero, algo me separa de compreender totalmente o meu pai. E lendo esse livro pude perceber que essa barreira é, de fato, porque ele é negro e eu não. Embora tenha passado pelas minhas próprias experiências por ser “misturada”, nunca vou entender totalmente ele. E lendo um filho enlutado descrevendo como em uma carta a história dos próprios pais sinto que um arranhão foi feito nessa barreira. Pude ler histórias e experiências que ouvi dentro de casa, compartilhadas pelo meu pai enquanto eu crescia. Coisas que ele passou que testemunhei. Sinto muito mesmo pela censura dele, principalmente nas escolas do sul do país, sinto muito pelos jovens negros ou jovens como eu que não terão acesso por enquanto a esse livro que pode conversar tanto com eles.