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Acho que não estou no melhor momento para ler esse livro. Até comecei, mas tive alguns problemas com o tipo de narração. Vou tentar novamente em outro momento.

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Um filho no resgate de sua história familiar, essa é a premissa de "O avesso da pele".

Por meio de uma narrativa simples, porém dura, acompanharemos Pedro, um jovem marcado por um recente tragédia, buscando entender os caminhos que uniram e que também separaram seus pais e sua família.

Não é uma jornada fácil. Em um Brasil marcado pelo racismo estrutural, é dolorido acompanhar o relato das vivências do pai e da mãe de Pedro, negros, na periferia de Porto Alegre . Tomar consciência das fraturas sociais que se perpetuam entre gerações é difícil e machuca tanto Pedro quanto nós, leitores, e Jeferson Tenório sabe como tocar a gente onde mais dói : escancarando o nosso próprio preconceito.

Além de uma abordagem multifacetadas do racismo no cotidiano, um outro tema me tocou bastante . Como o pai do Pedro é professor, e a história foca na apatia e na desesperança que muitos professores enfrentam, e no quanto o nosso sistema educacional público ainda reforça o abismo racial e social.

Em uma historia com menos de 200 páginas, o autor foi capaz de escancarar o preconceito em vários ambientes sociais, e mostrar como o racismo fragiliza as relações pessoais. É um livro dolorido que nos leva a reflexão, por meio da figura do Pedro, mas que também deixa um fio de esperança e orgulho .....

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“ Esse livro é uma declaração e não existe palavra que o defina melhor. É a narrativa de um filho que reconstrói a história do pai após sua morte trágica, resultado do racismo tão presente em nosso país. Apesar das memórias serem criadas por Pedro, mergulhamos nelas porque são o retrato verdadeiro das situações que as pessoas não brancas vivem. É triste, difícil, doloroso, mas necessário. Poucas vezes na minha vida tive contanto com um texto tão impecável e digno. Foi a minha última leitura de março, no último dia do mês, e acabou se tornando uma das melhores leitura do ano.”

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O avesso da pele- Jeferson Tenório
@companhiadasletras
Nota 10

O avesso da pele, conta a história de Pedro, jovem homem negro, que teve o pai vitimado em uma Infeliz abordagem policial.

Nesse livro somos levados a entender, como a cor da pele, acaba por influenciar alguns acontecimentos no país racista em que vivemos.

Como podemos fechar os olhos para as demonstrações diárias de racismo? Que faz com que crianças tenha que lidar desde muito cedo com a diferença que lhes é imposta por pessoas ignorantes no quieto empatia e humanidade.

Ver como os meninos negros são abordados de forma discriminatória por policiais mal treinados, que vêem na cor um pré requisito pra delinquência, é assustador.

Fiquei muito sensibilizada ao ler esse livro e assim poder entender um pouco mais desse universo tão presente em nosso dia a dia, e que mesmo assim nos é quase que invisível, por não ser uma das vítimas dessa agressão.

O livro ainda retrata bem a distinção entre o preconceito que o homem negro sofre, do que a mulher negra sofre, pois ambos tem características próprias, que devem ser analisadas separadamente, na tentativa de encontrar soluções viáveis e urgentes para os crimes que são praticados contra essa parcela significativa da população.

Assim como Pedro, eu fui aprendendo um pouco mais sobre o tema a medida que a leitura ia avançando. Agora sei que só com conscientização e educação, podemos mudar essa história.

Você já presenciou algum até de racismo?

#racismo #preconceito #perda #consciencia #educacao

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Sensível demais! Adorei como a história foi sendo construída desde o começo, sem deixar claro do que se tratava, mas ao mesmo tempo dando dicas sutis ao leitor. As coisas vão acontecendo de maneira natural e quase como corriqueiras - da forma que acontece na vida real, quando situações de preconceito já intrincadas na sociedade são expostas de uma maneira estrutural muito explícita.

É muito angustiante e preocupante saber que as relações pautadas pela cor da pele são realidade para muitas pessoas e a forma como esses acontecimentos são tratados no livro deixam o leitor ainda mais aflito. A construção do cenário de Porto Alegre como ambiente em que a história acontece é muito importante por ser uma realidade que muitas pessoas conhecem, mas às vezes preferem não reparar. Cabe ao leitor e às pessoas em geral a busca pelo aprendizado, para melhorar cada vez mais enquanto seres humanos. Excelente livro!

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Estamos participando do Desafio Literário da Companhia das Letras: 5 livros nacionais em 5 dias. Durante toda essa semana, postaremos nossas impressões dos livros aqui no site em nosso Instagram, Convidamos todos a participarem conosco – para todas as duvidas, basta ler nosso post completo sobre o desafio.

Esse livro me lembrou o quão privilegiada sou e sempre fui, em todas as frentes. A narração toda se dá pela voz de Pedro, que conta a vida de seu pai, Henrique, que foi morto em uma ação policial, ambos negros. Em lembranças e lacunas vazias preenchidas com suas próprias construções, Pedro vai mostrando ao leitor a vida dura de um rapaz negro em Porto Alegre, batalhando para encontrar seu lugar e vivenciando o racismo até mesmo em entrevistas de empregos. A falta de tato, o racismo impregnado em nossa sociedade, a falta de preparado do Estado em dar oportunidade a estas pessoas, tudo isso vai sendo construído em uma narrativa que, quando se encerra, deixa um nó em sua garganta.

Entendemos a vida de Henrique, desde o abandono de seu pai no Rio de Janeiro e a volta da mãe para Porto Alegre, e a conturbada família materna que lhe rendeu cenas fortes para uma criança, até o momento no qual a ansiedade nasceu em seu peito. Henrique entrou em uma faculdade, começou a estudar e lá conheceu Martha, que viria a ser sua esposa, mulher que também teve sua própria cota de sofrimento desde o nascimento – pais mortos, tia mãe solo com 2 filhos para criar e mais os sobrinhos, sendo “adotada” por uma amiga que a levou para Santa Catarina – e que desenvolvem um relacionamento nada sadio. Tudo isso é necessário para a construção da trama, mostrando Henrique se tornando professor, passando por todos estágios de lecionar, da desmotivação a reencontrar o sentido na escolha de sua profissão.

Quando terminei de ler a jornada pela vida de Henrique através dos olhos de Pedro, eu entendi a dor do personagem, e entendi mais ainda o motivo pelo qual Pedro precisava reviver toda aquela história. A forma narrativa que o livro se desenvolve também ajuda bastante, em capítulos escritos em parágrafos únicos, causando a sensação de estarmos lendo uma carta de Pedro, quase acessando seus pensamentos e conseguimos entender o quebra-cabeças de saudade que ele está montando, tentando enfrentar o processo da perda da única forma que consegue: se lembrando.

O que eu posso dizer diretamente para vocês é que o livro me deixou com um nó forte em minha garganta. “O Avesso da Pele” é um livro que pode ser considerado essencial para qualquer pessoa que quer entender e enxergar melhor o racismo estrutural em nosso país.

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Esse livro passou por mim como um trator. Após a morte trágica do pai, um professor de literatura da rede pública, Pedro reconstrói toda a história da família, focando sempre nas dificuldades enfrentadas principalmente por serem pessoas negras. E ele se dirige ao próprio pai, como se estivesse resgatando essa história e justificando tudo o que eles passaram. E o que é triste: é impossível dizer que não conhecemos cada ato racista pelos quais eles passaram. Batidas policiais desnecessárias, humilhações, falas racistas de brancos-filhinhos-de-papai, e por aí vai.
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Mas o livro não fala apenas do racismo. A questão da situação escolar no Brasil, do desrespeito ao professor, do estado precário das instalações; as dificuldades nas relações humanas, principalmente entre o pai e a mãe de Pedro - que também teve uma vida bem difícil; as dificuldades do próprio Pedro em se aceitar, e se encaixar em uma sociedade preconceituosa. Todas essas questões juntas são discutidas de forma objetiva, sem enrolação. E forma um livro espetacular!
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"Você sempre dizia que os negros tinham de lutar, pois o mundo branco havia nos tirado quase tudo e que pensar era o que nos restava. É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos".

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Esse livro é uma declaração e não existe palavra que o defina melhor. É a narrativa de um filho que reconstrói a história do pai após sua morte trágica, resultado do racismo tão presente em nosso país. Apesar das memórias serem criadas por Pedro, mergulhamos nelas porque são o retrato verdadeiro das situações que as pessoas não brancas vivem. É triste, difícil, doloroso, mas necessário. Poucas vezes na minha vida tive contanto com um texto tão impecável e digno. Foi a minha última leitura de março, no último dia do mês, e acabou se tornando uma das melhores leitura do ano.

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Eu sou uma leitora muito racional quando se trata de livros mais tristes, e dificilmente choro com essas leituras. Até que O Avesso da Pele foi se desenvolvendo até chegar um ponto em que é impossível segurar as lágrimas, ainda mais com a grande semelhança da realidade que ele tem. Acho que o que mais me pegou foi ter visto um vídeo no JN poucas horas antes de ler o livro sobre algo que acontece no final do livro e ver que aquilo é tão comum nas cidades brasileiras. Mas sem dar spoilers, pois quero que vocês leiam e também chorem, vou falar sobre esse livro maravilhoso.
Este livro, até onde eu eu consigo lembrar, foi o primeiro em segunda pessoa que li. De inicio sabemos que Pedro perdeu seu pai recentemente e nessa história é como se ele estivesse contando a história de seu pai para seu pai. Então sabemos um pouco sobre sua infância e muito sobre seu casamento com mãe de Pedro, que foi uma época muito conturbada na vida do casa que possuem seus próprios fantasmas, como citado no livro mesmo. Henrique, o pai, foi um pouco ausente na vida do filho justamente pelos problemas no casamento, mas é possível vermos que Pedro sente um grande amor pelo seu pai e que ele sempre foi uma influência em sua vida, sendo uma delas em relação a sua negritude. Henrique aprendeu a ser consciente de sua negritude aos poucos e essa consciência foi muito maior após ter um professor que falava abertamente sobre isso. À partir desse momento ele entendeu seu papal como homem negro na sociedade e suas implicações em seus relacionamentos amorosos, com família e alunos.

Além da história dessa família o que mais gostei nesse livro foi a forma como ele conversa sobre negritude com o leitor. Acredito que sendo em segunda pessoa e sendo lido por uma pessoa negra o livro vai fazer com que essa leitora quase sinta que uma parte de sua própria história esteja sendo contada ali; e eu lendo esse livro como uma pessoa branca senti como se o livro quisesse me fazer sentir empatia por tudo o que os negros sofrem no Brasil. Percebo nessa história, pela forma como é contada, que o racismo estrutural do qual faço parte a cada dia mais pega o espaço dessas pessoas para viver em sociedade e que é muito difícil para uma pessoa negra se entender como negra sabendo que é à partir desse momento que toda a sua identicidade é roubada, se resumindo apenas a cor de sua pele. Aquilo que deveria ser o mais insignificante. Acho que assim é até simples de entender logo o título do livro. Esse livro conseguiu me mostrar como funciona todas as teorias que eu li nesses últimos tempos em relação ao racismo, colorismo, e principalmente como é que a sociedade em geral lida com isso. É muito, mas muito ruim dizer que é tudo uma !@#$%¨, ainda mais eu sendo branca e por isso ser parte do problema.

Essa história me conquisto muito, não somente pelas questões já citadas acima, mas a forma como ela é escrita. Um filho em luto revivendo toda a história de seus pais até o ponto critico da trama. O autor conseguiu encaixar tudo muito certinho, todos os diálogos e ações, mostrando também que cada uma de nossas atitudes nos trazem para onde estamos hoje. Apesar de Pedro falar pouco sobre ele é um personagem que eu gostei bastante de acompanhar, pois ele mesmo tem um caminho até entender sua negritude da mesma forma que o pai. Uma personagem que apareceu somente duas vezes e conseguiu ser muito importante é irmã de Henrique, Luara. Uma mulher que se posiciona e reivindica seu lugar, marcando seu irmão e seu sobrinho com seus ensinamentos mesmo que não seja intencional.

O Avesso da Pele é um livro que eu já coloquei em meus favoritos da vida e que eu vou indicar para tantas pessoas, tanto pela sua história ou pela sua necessidade dele, já que ele te ensina e te mostra um mundo que, às vezes, não vemos. E, claro, é um livro muito gostoso de ler, apesar de falar sobre temas considerados pesados, mas ele é bastante fluido e a cada página queremos mais e mais.

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Um livro arrebatador. A escrita do Jefferson te envolve. As descrições das ocasiões de racismo que tanto o personagem principal quanto os pais sofrem são massacrantes. Precisei fazer algumas pausas durante a leitura. Recomendo muito esse livro, li em 3 dias.

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Simplesmente incrível!
O fato de eu ter lido o livro sem saber absolutamente nada foi muito forte, me separar com esses relatos e com a vida dos personagens é muito dolorido, pensar que isso acontece todos os dias é pior ainda. É muito pesado e muito real, incrível.

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Humano e negro. Negro e humano.
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O Avesso da Pele é uma história forte e sensível sobre a relação árida de pai e filho, antes mesmo das discussões sobre complexas relações raciais. Uma tentativa de mostrar o ser humano em seu interior antes de determinar a cor de sua pele. De mostrar o que há no avesso da pele de um homem ou mulher negra.
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"Na primeira vez que ouviu falar em consciência negra, você não compreendia que a sociedade se importava mais com a sua cor do que com o seu caráter."
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Com uma narrativa principal em segunda pessoa, Pedro conversa com seu pai, que acabara de falecer, descrevendo a vida do pai, sua profissão como professor, seu amor por livros, a vida conturbada com a mãe, mas, também, como Pedro se sentiu ao longo de toda a sua vida e a influência de seu pai em si mesmo.
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"[...] a infância nos fornece certas mágoas e é com elas que lutamos."
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Intercalando com a narrativa de Pedro, temos uma narração em terceira pessoa contando a vida pobre e sofrida de Martha, sua mãe, e de todos os percalços que ela passou e que a moldaram na mulher e mãe ciumenta e possessiva, gerando a relação problemática entre mãe e filho.
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"Os filhos são uma invenção desatinada e sem sentido."
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Uma obra que me marcou bastante, seja pelos relatos raciais, pelos conflitos familiares, mas ainda, pela narrativa não usual que prende o leitor e o convoca para a história desde a primeira página, deixando a leitura fluída, apesar de densa e dramática.
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Um livro para ler e refletir e reler. Recomendo!

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Sabe quando você começa a ler um livro e tem a sensação de que a realidade invadiu a sua casa? O avesso da pele é bem assim.

Não conhecia o Jeferson Tenório e resolvi ler o livro apenas porque estava disponível em uma plataforma e que grata surpresa eu tive ao me deparar com Pedro, 22 anos, negro e estudante de arquitetura. Mais narrador que personagem, Pedro vai tentar contar a história de sua família quando ele vai buscar os pertences do pai, assassinado ‘acidentalmente’ em uma abordagem policial.

“Sei que o tempo foi passando e o que foi dito por vocês, antes de minha memória, foi dito em retalhos. Então precisei juntar os pedaços e inventar uma história. Por isso não estou reconstituindo esta história para você nem para minha mãe, estou reconstruindo esta para mim”

Henrique, pai de Pedro, era um sonhador. Se tornou professor de literatura na escola pública por acreditar no poder transformador dos livros. Pai ausente, não acompanhou a vida de Pedro que mal o conhecia. Negro, muitas vezes não entendia porque a cor de sua pele falava mais alto do que o seu caráter em situações que beiram a crueldade, mas que já nos acostumamos a ver acontecer cotidianamente, como quando alguém segurava forte a bolsa ao passar perto dele ou pelas piadinhas racistas feitas pela família da namorada branca.

“É necessário preservar o avesso. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo do mundo. E por mais que sua vida seja medida pela cor, por mais que suas atitudes e modos de viver estejam sob esse domínio, você, de alguma forma, tem de preservar algo que não se encaixa nisso, entende? Pois entre músculos, órgãos e veias existe um lugar só seu, isolado e único. E é nesse lugar que estão os afetos. E são esses afetos que nos mantêm vivos."
Marta, mãe de Pedro, também teve uma infância bem conturbada. Negra adotada por uma mulher branca também enfrentou o preconceito estrutural que objetifica a mulher negra como instrumento de prazer. Teve um relacionamento bem conturbado com Henrique por causa de sua possessividade e ciúme.

A escrita de Tenório dá a sensação de um confronto, como se Pedro precisasse desse último momento com os pais para entender quem ele é baseado nas histórias de vida que eles tiveram. E assim o autor nos mostra o abismo que ainda existe entre negros e brancos. Mas, ao mesmo tempo, tem um tom de confissão, como se o nosso grande amigo Pedro precisasse do nosso ombro para contar o que lhe aflige.

A sensação ao longo e, principalmente, ao final do livro é a de ter uma venda arrancada de seus olhos, e isso causa dor e angústia. E porque ler um livro assim? Porque precisamos nos escandalizar, precisamos ter olhos e mentes abertas a todas as formas de racismo disfarçado em hábito, em ‘modo de falar’, em padrões determinados por uma sociedade de racismo arraigado.

É então um livro para brancos? Não! Se você é branco e nunca viveu nem sequer tem ideia das dores de Henrique, você precisa ler e se indignar. E mudar suas atitudes, mesmo as que existem só ‘por hábito’ e ‘sem maldade’. Mas se você é negro e conhece a realidade de Henrique, você precisa ler para se indignar. E não se calar. E fazer sua voz ser ouvida. Até que a gente possa construir um mundo mais justo.

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Finalizei a leitura de O Avesso da Pele em três dias, mas há mais de trinta tento escrever sobre a experiência de ler sobre o caminho narrativo que Jefferson escolheu. O pai aos olhos do filho, a história desse pai, o Henrique, nas memórias, vividas ou não pelo filho, Pedro. Parece uma colcha de retalhos, onde casa pedaço se entrelaçava para formar algo maior.

O ritmo do livro é lento, mas te mantém curioso e atento, torcendo por respostas - que nem sempre vêm. Você vai acompanhando a trajetória de um homem, se identificando com ele, mas sabendo desde o início que ele não está mais na narrativa. Eu demorei para entender o que o Jefferson estava propondo, algumas vezes me questionei "aonde ele quer chegar com isso?".

A resposta pra mim veio na metade final do livro, contar os embates da vida de um corpo negro vivendo pelas ruas de Porto Alegre, pelos anos, pela infância, juventude e vida adulta. Os preterimentos, as escolhas, o amor, a paternidade, o racismo, a violência. É tão difícil falar de paternidade negra, de se colocar homens negros como personagens centrais nas histórias, mas Jefferson consegue fazer isso muito bem.

A história de Henrique e Pedro é a história de muitos. As descobertas, as negligências e tudo que esse emaranhado de acontecimentos se dá em uma família negra. Para uma pessoa não-negra acredito que faz abrirem os olhos para o dia-a-dia de uma pessoa negra, planta a semente da empatia. Para mim, como mulher negra, mostra as identificações com as situações vividas pelos personagens. Das dores e aos amores.

É um leitura incrível, imersiva, densa, poderosa e que merece muito ser lida e reconhecida. Mesmo finalizado a leitura há tanto tempo, ainda me pego pensando sobre ela. Me marcou muito.

Não gostei que a editora optou por colocar na sinopse do livro que o pai é "assassinado numa desastrosa abordagem policial", isso interferiu muito na minha experiência, o que ocorre só é indicado ao final do livro, de uma forma incrível e bem escrita, não havia necessidade alguém de falar isso na contracapa. Uma amiga que não se atentou a sinopse, se surpreendeu muito com o desfecho, eu já previ sobre o que se tratava.

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“Até o fim você acreditou que os livros poderiam fazer algo pelas pessoas. No entanto, você entrou e saiu da vida, e ela continuou áspera.”

Como é difícil para um filho tentar enxergar o próprio pai nos objetos por ele deixados após sua morte. Quão doloroso é refazer seus passos, suas lutas consigo mesmo e com a sociedade, sabendo que seu fim foi tão triste e, apesar de tudo, ter forças para seguir.

É assim que Pedro nos apresenta a seu pai, Henrique, professor em Porto Alegre, apaixonado por literatura, desestimulado com a precarização da educação no país. Para recontar a relação com o pai, volta ao passado de Henrique e da mãe, mostrando à sua maneira as dificuldades passadas por ambos com relação à família, antigos relacionamentos e o próprio relacionamento dos dois. Além disso, soma-se à turbulência a cor de suas peles.

Com imensa sensibilidade, Jeferson Tenório detalha a vida de personagens extremamente complexos. A dinâmica da narrativa, com poucos parágrafos e muitas vezes em segunda pessoa, faz com que o leitor se conecte facilmente à trama e de fato trabalhe a empatia.

A profundidade dos personagens é surpreendente e ao explorarmos suas camadas, compreendemos suas atitudes, louváveis ou não. Pedro é o nosso guia que, no luto, tece a história de modo a nos inserir nela. Henrique, o professor sem esperanças que nos angustia em sua inércia; Martha, esposa e mãe que escolheu a sua madeira de lidar com a vida.

Algo que senti e que o autor confirmou na Cabine de Leitura, evento organizado pela Companhia das Letras, foi o esquecimento de que os protagonistas são negros, até ser lembrada (e ficar indignada) quando a cor da pele influencia suas vidas. Aí entra a evidência do avesso da pele, a essência humana, que deveria vir antes de qualquer coisa.

O livro explora tantos assuntos interessantes que é difícil os descrever em poucas linhas. O racismo é um deles, abordando pontos de vista divergentes, inclusive entre pessoas negras.

A quem procura um livro que trate de complexas relações pessoais, familiares e raciais, recomendo com afinco que leia esse livro.

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Posso dizer que foi uma das minhas melhores leituras do mês e do ano!
É um livro muito palpável, todas as descrições muito reais e verdadeiras. Possui uma carga sentimental muito grande, só lendo pra entender e sentir.
Nele Pedro narra a trajetória de seu pai Henrique, professor e morto em uma abordagem policial.
Uma leitura extremamente necessária nos dias atuais, um livro que veio para nos ensinar sobre o racismo e para nos fazer refletir sobre nossas atitudes e comportamentos.
A escrita é muito fluida e é impossivel não se emocionar.

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Quando vi esse livro disponível, logo solicitei, pois a premissa me chama muito atenção, principalmente com todas as coisas que vem acontecendo nos últimos dias.

Jeferson Tenório escreve de forma leve um assunto tão importante. Se tiver uma chance, leia esse livro, super recomendo.

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“É necessário preservar o avesso, você me disse. Preservar aquilo que ninguém vê. Porque não demora muito e a cor da pele atravessa nosso corpo e determina nosso modo de estar no mundo.”

O Avesso da Pele, por Jeferson Tenório.
Publicado pela @companhiadasletras

Já passou pela sua cabeça que uma pessoa branca te elogiou só por piedade, Já ouviu seus pais te alertarem sobre não falar alto em certos lugares, não andar atrás de uma pessoa por muito tempo, não fazer movimentos bruscos quando o policial te abordar e não sair de casa sem documentos, tudo isso só para poder voltar para casa com vida?

Se você é uma pessoa branca, nunca passou por isso. Nunca foi seguido ao entrar numa loja, nem viu ninguém recolhendo as bolsas quando você se aproximou, nem foi confundido com um funcionário de algum lugar por conta da sua cor e nem foi dispensado em uma entrevista de emprego por não ser “uma pessoa apresentável”.

Acima temos algumas situações cotidianas na vida de uma pessoa negra, o livro relata muitas delas através da reconstituição da vida do pai, onde o garoto nos conta histórias com vários personagens, visões e ensinamentos enquanto lida com a morte do pai, um professor da rede pública, assassinado em uma operação policial.

“Nós podemos ter acesso a qualquer conteúdo. Mas a gente nunca pode esquecer de onde viemos, entende?”

Até uns 40% do livro eu ainda estava um pouco incomodado com a narrativa, não tenho costume de ler um livro narrado em segunda pessoa, mas depois disso não tive mais dificuldades, fui tragado pela história e fiquei imerso em um mundo que eu desconhecia.

É uma leitura que ensina muito, emociona e te faz refletir. Deixo minha recomendação de uma leitura necessária e meu agradecimento ao autor por de uma forma didática e real, me ensinar mais sobre o racismo.

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“O avesso da pele” de Jeferson Tenório, foi publicado pela Companhia das Letras que me enviou um ebook de cortesia, também tive a oportunidade de participar de uma cabine de leitura com o autor que foi espetacular!

Esse foi um daqueles livros em que me interessei pelo título e capa e me joguei sem saber o que encontraria, logo no começo, o autor usa o pronome “você”, meio que como uma narrativa em segunda pessoa, o que de cara fiquei com um pé atrás, por não gostar desse estilo narrativo, mas logo fui completamente fisgada pelo autor. É interessante observar que quando o protagonista fala sobre a mãe, a narrativa muda para uma aparente terceira pessoa.

Talvez você tenha a impressão que a linha do tempo descontinuada e mudanças de ponto de vista narrativo possam causar confusão durante a leitura, mas a técnica do autor é impecável e ele consegue cativar o leitor com poucas palavras, todas precisamente escolhidas, parágrafos e capítulos curtos.

Ao longo da história, os temas centrais são:
1- personagem professor;
2- relacionamento de um filho com pai ausente;
3- violência policial.

Nas complexas relações raciais, não há maniqueísmo em seus personagens, cada um pensa de forma diferente sobre as questões de raça, sem enfraquecer a luta contra o racismo.

“O corpo negro em um espaço público, é sempre um corpo em risco.” Aspas do autor durante a cabine de leitura.

Eu, como pessoa branca, pude entender melhor sobre o racismo estrutural e o quanto ele está presente no quotidiano de MUITAS pessoas.

Fica aqui a recomendação de uma leitura incômoda, necessária, que me ajudou a sair da minha bolha e olhar a existência do outro. Um dos melhores que li esse ano.

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Impossível não se identificar de alguma forma com os personagens dessa história. Um relato real e sincero de como é a cultura racista enraizada no nosso cotidiano, que muitas vezes passa despercebido.

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