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"Acho que inventei uma memória sobre você sem a distância e a maturidade necessárias. Sei disso, mas a minha ingenuidade é tudo que tenho. Esta história é ainda a história de uma ferida aberta. É uma história para me curar da falta daquilo que você, repentinamente, deixou de ser."
Esse livro me abalou de um jeito que eu não esperava. Em menos de 200 páginas, o autor consegue conduzir um enredo tocante e poderoso sobre a jornada, em especial, de seu pai que foi assassinado em uma abordagem policial. O livro é narrado majoritariamente em segunda pessoa (usando o termo 'você'), mas como se fosse a perspectiva de uma longa carta do filho direcionada ao pai. É genial!
Outra coisa que me cativou muito foi a ambientação dos cenários: sendo morador de Porto Alegre, lugar onde se passa grande parte do enredo, é vívido a forma como Jeferson descreve os bairros, as ruas, as escolas, as próprias pessoas do Sul (com seu racismo aflorado mais do que nunca), é algo de arrepiar. A relação familiar com os pais, especialmente entre seus pais, foi algo que espelha muito situações próprias e me tocaram bastante.
A minha vontade é de distribuir esse livro pra maior quantidade de pessoas que conseguir (e talvez realmente o faça). Incrível, recomendo demais!
Amei esse livro! Uma escrita intensa que passou voando. A escrita do autor é muito original e a estrutura do romance também é atípica, mas funciona muito bem e sem ficar confuso. As gerações, os tempos se cruzam através das memórias. Um equilíbrio perfeito entre dor, afeto, mágoas e perdões, transpassados pelas questões raciais. Questões familiares complexas e bem conduzidas. A explicação do título na história é muito impactante e bonita. Indico demais!
Pedro é um rapaz de 22 anos, estudante de arquitetura e negro. É ele quem vai narrar a história de sua família, juntando os pedaços que conhece com outros que supõe, a partir dos objetos deixados por seu pai, assassinado em uma abordagem policial malsucedida, para não dizer desastrosa. Assim, vamos conhecer Henrique, um professor de literatura da escola pública, que um dia acreditou que os livros poderiam mudar vidas. Um homem que se desiludiu com relacionamentos amorosos, após passar por namoros complicados e um casamento falido. Um pai ausente, que não conseguia se comunicar com o filho, a não ser por falas de cunho filosófico.
Também conhecemos Martha, a mãe de Pedro, uma mulher controladora e insegura, com muitas marcas de seu passado, desde a perda dos pais ainda na infância, até os percalços em relacionamentos na idade adulta. Muitas outras personagens com diferentes visões de mundo, personalidades e trajetórias são apresentadas ao longo dessa narrativa que, ora se apresenta mais distante, ora tão próxima como se fôssemos nós mesmos nos confessando naquelas páginas. É impossível não se identificar com pelo menos uma das personagens ao longo da leitura, de tão real!
"Mas Carol, onde entra a cor da pele nisso tudo?"
É que, além de ter que lidar com todas as angústias e todos os problemas que a vida já traz a todos nós, com tudo o que se encontra no avesso, nossas personagens também precisam se preocupar com a pele, a superfície. Batidas policiais, o corte de cabelo, os bairros que pode frequentar, piadinhas e "apelidos carinhosos", são presença constante e sorrateira na narrativa.
Não há como não identificar, nas violências sofridas pelas personagens, atitudes nossas ou de pessoas próximas, do passado ou do presente. E isso é o que mais incomoda! Mas também, é uma convocação para que melhoremos enquanto pessoas e sociedade, despertando a empatia e a capacidade de olhar o outro por sua essência!
Algo que me chamou a atenção e que o próprio autor comentou durante a conversa na Cabine de Leitura (promovida pela editora e da qual tive a honra de participar) é que o nome de Henrique demora a ser apresentado e isso ocorre em um momento muito significativo. Nas palavras do autor, que não serei capaz de reproduzir tal qual, Henrique deixa de ser apenas um corpo negro e passa a ter um nome, ao tomar consciência de sua própria existência, assim como os bebês, ao serem nomeados, passam a existirem como indivíduos.
Assim, O Avesso da Pele nomeia aqueles que até hoje são tratados como números, como estatísticas. Lembra a nós que aquelas pessoas não são apenas corpos negros, mas indivíduos complexos e cada qual com sua história. Uma obra fenomenal que nos convoca a melhorar a sociedade começando pelas nossas atitudes, pela empatia.
"O avesso da pele" é o terceiro livro de Jeferson Tenório, lançado em 2020 pela Companhia das Letras. Nessa história, vamos acompanhar um filho revisitando memórias do pai enquanto lida com o luto e sua ausência. Com um texto fluido, inteligente e complexo, Tenório nos apresenta uma narrativa intimista e bem elaborada sobre identidade, afeto e ausências, passando por temas que, infelizmente, ainda estão presentes na nossa sociedade, como a brutalidade policial e o racismo.
Quando peguei esse livro, a primeira coisa que percebi foi a quase ausência de parágrafos. Pensei de cara: ih, vai ser complexo demais, não vou gostar. Nas primeiras linhas, vi que seria totalmente diferente do que eu imaginava. Começamos com uma narração voltada para um "você", em um tom mais intimista. Conhecemos assim o pai do personagem e sua vida. Aos poucos, começamos a nos situar na narrativa. Depois de ler e participar de um encontro com o autor, entendi que foi totalmente proposital esse estilo de narração: ele queria o máximo de atenção possível do leitor, com alguns respiros.
Durante suas quase 200 páginas, "O avesso da pele" se mostra um livro bem pensado: desde o momento da revelação dos nomes dos personagens dentro da narrativa ao fato de abordar a raça não como característica que define os personagens, mas um traço que permeia suas vivências. Desconstruindo estereótipos da representação negra na literatura, aqui temos histórias únicas, cativantes e, por vezes, sofridas.
O livro será adaptado para o cinema em breve, e os direitos de publicação em países como França e Portugal já foram comprados. "O avesso da pele" me conquistou completamente, fazendo com que eu perca a noção de tempo. Recomendo!
Uma narrativa emocionante onde a desigualdade está presente nos mínimos detalhes.
Este livro não foi uma indicação, foi uma escolha aleatória que não poderia ter sido mais acertada. Li o título e uma pequena sinopse e solicitei a editora.
A narrativa do autor tem um tom confessional que encanta e prende. Durante a leitura me peguei pensando mais de uma vez se a história era real ou ficcional e acho que li como se fossem fatos reais da vida do autor e isso tornou a leitura ainda mais instigante porque o relato era de uma veracidade que doía na alma.
E mesmo descobrindo que é ficção, mas com passagens inspiradas na experiência do autor, descobri que não importa o fato de ser ou não ficcional. Tudo que ele conta ali é a realidade triste que uma parcela grande da sociedade vivencia diariamente.
O preconceito está nos mínimos detalhes e é tão arraigado que as vezes passa desapercebido por quem não o sofre. Como eu vou saber como se sente uma pessoa que é desrespeitada por causa da cor da sua pele se eu nunca sofri nada parecido? É preciso se colocar no lugar do outro, pensar e se fosse comigo? Com meu filho?
O peso do período sombrio da escravidão ainda ronda a terra e é preciso se questionar muito a respeito do que estamos dispostos a fazer para mudar isso de forma contundente. A desigualdade ainda é enorme. E o livro de Jeferson além de ser literatura de qualidade é um grito de alerta sobre o tema.
Pedro, um rapaz que perde o pai - assassinado numa abordagem policial equivocada - busca resgatar o passado da família e principalmente a relação paterna através dos objetos que vai encontrado na casa dele. E de forma sensível e ao mesmo tempo dolorida faz um monólogo que me lembrou Guimarães Rosa e muitas vezes me deixou sem fôlego tal era a intensidade do discurso.
Ele discorre sobre relacionamento familiar, paixão, decepção, luta pela sobrevivência numa sociedade que discrimina sem dó, além de mostrar a falência do nosso sistema educacional público, que aliás se intensificou com a pandemia aumentando ainda mais o abismo existente nesse setor.
Gostei muito e quero ler mais sobre o assunto. É necessário. Leia e vamos mudar essa realidade injusta. Qualquer passo à frente é válido.
Que livro incrível! Esse livro conta a história de um jovem em Porto Alegre e suas experiências com o racismo, a educação, as relações familiares e clase socioeconômicas que fazem parte do dia-a-dia do personagem. "O Avesso da Pele" é como um desabafo, cru, honesto e forte.
Esse foi o melhor livro que li este ano.
Me emocionei muito diversas vezes. os personagens são todos muito verdadeiros.
Vou indicar pra todo mundo pq quero ter muitas conversas sobre este livro.