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"Um Apartamento em Urano: Crônicas da Travessia" é uma demonstração brilhante da habilidade de Preciado em tecer narrativas pessoais e políticas em um só tecido. O livro não é apenas uma coleção de crônicas, mas um mergulho profundo em uma jornada introspectiva e externa que reflete sobre as estruturas sociais e políticas do mundo contemporâneo.

Preciado utiliza sua experiência pessoal e seu agudo senso crítico para explorar temas complexos, desde questões de gênero até a natureza da liberdade e da identidade. Sua prosa é ao mesmo tempo eloquente e incisiva, desafiando o leitor a reconsiderar preconceitos e normas estabelecidas.

O título, com seu subtítulo evocativo, sugere uma viagem não apenas física, mas também metafórica, para um "apartamento" que representa um espaço de reflexão e transformação. Cada crônica é uma janela para o pensamento de Preciado sobre a travessia entre o passado e o futuro, entre o pessoal e o político, entre o íntimo e o coletivo.

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Logo de cara já tenho que informar ao nosso público, que esse livro não é para qualquer um, primeiro pela faixa etária e segundo para quem se sente incomodado ao falar de sexo ou falar de gênero. Para algumas pessoas pode gerar um certo desconforto. Mas recomendo a quem já tem uma afinidade com o assunto, pois o trabalho de Paul é simplesmente inovador e com uma escrita maravilhosa.

Nosso autor, digamos que é um radical no assunto, sua abordagem filosófica mergulhar em um outro lado do das indagações comum sobre esse tema.

Seja pelas experiências de anos de estudos que ele tem ou pelo seu próprio ser, Paul B. Preciado, é filósofo transgênero espanhol e expoente da Teoria Queer/Estudos Transviados. Esse livro é uma obra coletânea de crônicas que vai contar as vezes de maneira sutil, as vezes nem tanto, da transição, segundo o autor “morte burocrática de Beatriz Preciado” e o nascimento de Paul B. Preciado.

“Não sou um homem. Não sou uma mulher. Não sou heterossexual. Não sou homossexual. Tampouco sou bissexual. Sou um dissidente do sistema sexo-gênero. Sou a multiplicidade do cosmos encerrada num regime político e epistemológico binário gritando diante de vocês.”

O livro é cheio de mensagens nas entrelinhas, assim como o próprio título ‘Um apartamento em Urano” faz referência ao terceiro sexo muito utilizado no século XIX. Essa escrita de Paul, crônicas com um fundo de diário, nos deixa a vontade para entramos, nos seus pensamentos e sentimentos mais profundos, é uma forma de conversa muito bonita e instigante que giraram em torno da construção política dos corpos, da disciplina normativa do sexo, do feminismo dissidente e do homossexual, os efeitos do capitalismo em nossas identidades, desejos e subjetividades.

Quem está no mundo acadêmico, e se interessa em pesquisas sobre esse tema, esse livro é mais do que obrigadora a leitura. E digo mais, esse livro é um “quebra barreiras muito grande” nos faz pensar em porque somos tão, sim ou não, certo ou errado, 8 ou 80. A vida é muito mais que definições concretas.

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