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Samuel é um homem negro, gay e que nasceu em uma família evangélica. Passou toda sua infância e adolescência lutando contra seus sentimentos, com medo de se aceitar e assumir homossexual. Criado em um ambiente bastante rígido e opressor, que condenava sua sexualidade e negritude, ele encontrou nas artes, um refúgio que, posteriormente, se transformou em sua profissão. Se formou em design gráfico, atuou no mercado publicitário e no ano de 2016 criou o canal no Youtube Guardei no Armário e lançou, de forma independente, o livro de mesmo nome, que foi relançado pela editora Paralela em 2020.

Neste livro, além do relato autobiográfico de Samuel, acompanhamos também, por meio de entrevistas realizadas pelo autor com diversas personalidades LGBTQIA+, o processo de descoberta e aceitação da própria sexualidade e os desafios e preconceitos enfrentados durante esse caminho, por todas essas pessoas. Esses relatos são apenas um pequeno recorte dos desafios enfrentados por pessoas LGBTQIA+ no Brasil. Foi uma leitura transformadora para mim e recomendo muito a leitura!

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Em Guardei no Armário, Samuel Gomes conta como foi o processo para que ele se percebesse um homem gay, o que coincidiu também com a percepção da negritude dele. Com uma infância passada praticamente toda dentro da igreja evangélica, Samuel vai nos contando os conflitos internos que teve durante o processo de entendimento de sua sexualidade nesse contexto de fazer parte da igreja.

A forma como o autor relata é em tom de conversa com o leitor, relembrando diálogos importantes durante a trajetória.

Fiquei sabendo do livro durante a mesa em que Samuel participou na Flipop em 2020 e fiquei muito curiosa para ler. Durante a leitura percebi que já havia assistido um vídeo no canal dele (Guardei no Armário), o com os meninos do Diva Depressão e já fiquei querendo assistir mais.

Um ponto que achei interessante nessa edição do livro (já é a terceira versão publicada), é que foram incluídas entrevistas com outras pessoas dando seu depoimento sobre o momento de saída de armário e sobre o processo de entendimento sobre quem são, o que gostei muito, pois nos permite ver que por mais diversas que as pessoas sejam, sempre é possível encontrar pontos em comum. O meu ponto em comum com Samuel, por exemplo, foi o choque ao ingressar em uma universidade particular com bolsa do ProUni e ver a diferença de realidade em relação a alguns colegas.

Gosto muito de ler essas narrativas mais biográficas, pois permite conhecer outras vivências diferentes da minha, ao mesmo tempo em que percebo pontos em comum. Recomendo demais Guardei no Armário para quem quer conhecer histórias inspiradoras, positivas, que humanizam as pessoas. Um livro sobre vivências, que mostra que por mais diferentes que sejamos um dos outros, sempre podemos encontrar pontos em comum e formas de nos identificarmos ou inspirarmos pelo outro.

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Eu não acho que esse vá ser um comentário muito longo porque "Guardei no armário" é um livro de não ficção/autobiográfico, então acaba que os tópicos pra falar ficam um pouco reduzidos mesmo.

Mas eu posso dizer que eu adorei esse livro! A primeira parte é toda voltada ao Samuel contando sobre a sua trajetória de vida, enquanto um homem negro, gay e sua juventude, sendo um jovem periférico e religioso. Diversos momentos das histórias que Samuel conta são emocionantes e eu, enquanto pessoa bissexual que cresceu num lar repressor, pude me identificar com alguns pontos que tocaram fundo. O relato do pai de Samuel ao final da primeira parte também é muito emocionante e também acolhedor. A história de vida em si de Samuel é acolhedora, apesar de todas as dificuldades e problemáticas da nossa sociedade, o modo como ele conta sempre reforça a esperança e a energia que ele tem! Ouvir Samuel falar é maravilhoso e ler o seu livro é entender sua história, criar empatia, se identificar com ela também e, ao final de tudo, criar esperança de que podemos construir uma sociedade melhor para pessoas LGBTQ+.

O mesmo sentimento acontece também na segunda parte do livro, que são diversas entrevistas e relatos com várias pessoas LGBT. São histórias com as quais outras pessoas podem se identificar e o modo como Samuel conduzia as entrevistas era ótimo para fazer com que nós percebêssemos e refletíssemos sobre pontos da nossa própria trajetória também. Porém, enquanto a primeira parte tinha o modo fluído de Samuel contar suas histórias, a segunda parte foi mais complicada pra mim. Eu adoro entrevistas, mas acho que não sou o melhor leitor delas. É um formato que acabou não funcionando pra mim e fez com que a leitura se prolongasse por semanas, por mais que fossem entrevistas que contassem histórias necessárias de serem ouvidas. Em alguns pontos ficou cansativo pra mim e realmente fez com que a experiência de leitura fosse um pouco prejudicada.

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Ler um livro é uma coisa realmente mágica. Mágica porque é capaz de te levar para reinos e universos que asiram da mente de autores incríveis, como também é capaz de sofrer por um romance que acontece durante as páginas – mas ler também é capaz de te fazer pensar e entender diferentes pontos de vista em nosso mundo mesmo, um mundo rico e plural, repletos de pessoas com diversas experiências. O nosso mundo é tão diversos e complexo que mesmo acreditando que somos capaz de ter empatia e nos colocamos no lugar do outro, ainda existem relatos que nos mostram que alguns de nós, sortudos, vivem uma bolha de privilegio. E foi dessa minha bolha que eu li “Guardei no Armário” e precisei revisitar muito de minha vida e de minha trajetória enquanto lia a vida e as experiências de Samuel.

Contando desde suas mais tenras lembranças, somos apresentados a Samuca e sua família, moradores na periferia da Grande São Paulo. Sendo uma criança bastante ativa, Samuel cresceu em um ambiente familiar bastante estruturado, com pais casados e uma irmã mais velha chamada Miriã. Mas, além de estruturado, a família de Samuel era evangélica da Igreja Congregação Cristã no Brasil, e seguia os dogmas da Igreja com uma fidelidade característica dos seus membros e, claro, tudo isso trilhou o caminho o qual o autor, desde criança, enfrentava para se descobrir.

Visitamos a vida de Samuel por sua narrativa quase de memórias, em uma forma de escrever bastante direta e capaz de chegar a todos leitores, fazendo com que possamos realmente entender e vislumbrar o meio no qual ele crescia, uma criança negra e periférica, que se encontrava nas artes, em um meio que obviamente era sufocado pela religiosidade que permeava tudo ao seu redor. Confesso que tudo que envolveu essa parte da história de Samuel me atingiu com especial força e entender como a ideia central de ser temente à Deus pode levar algumas pessoas a serem cruéis umas com as outras acreditando que estão fazendo o que é certo. Toda a parte que o próprio Samuel, já entrando em sua vida adulta, começou a seguir fervorosamente todas as regras me fizeram entender um pouco mais como as pessoas realmente se entregam aquele universo.

Acompanhar o crescimento de Samuel e a forma como ele tentava sufocar seu verdadeiro eu por medo de não merecer o paraíso ou decepcionar seus pais é uma leitura angustiante e forte, mas, ao mesmo tempo, é bom para abrir nossos olhos e entender o que as crianças do mundo LGBT+ passam por anos, tudo para tentar “se encaixarem” e fazerem com que se tornem somente mais um tijolinho na parede (sim, eu quotei Pink Floyd aqui). A dor que você vai sentindo ao acompanhar o garoto que somente queria ser quem ele era, com seus gostos e vontades artísticas, vai se tornando mais e mais palpável, tudo enquanto o próprio Samuel, envolto em um universo aonde não tinha tantas saídas, vai trabalhando de acordo com suas oportunidades com uma ânsia grande desenvolver e aproveitar um futuro diferente do qual ele cresceu.

O livro também teve um pacto muito grande em mim ao ler os relatos de quando Samuel entrou, pelo ProUni, em uma universidade. Ver e entender a forma como as politicas estudantis e sociais são capazes de nortear e dar uma chance a pessoas que não teriam aquela chance é extremamente necessário, ainda mais nessa fase tão controversa da história de nosso país na qual vivemos. Foi esclarecedor poder realmente ver o impacto que toda essas politicas podem transformar e dar oportunidades para quem não se veria naquele lugar se não fossem elas. Samuel começa a levar basicamente duas vidas, depois de tanto tempo tão devoto a Igreja: começou a se afastar dos cultos, mas ainda mantêm toda a capa que esperam dele, enquanto que com seus colegas de faculdade e naquele universo bem mais liberal, ele começa a despontar sua essência e permitir viver mais e mais sua verdade.

A medida que vai amadurecendo e entendendo o mundo novo que se abriu ao redor, conhecemos um Samuel mais ciente do que queria para sua vida, decidido a não mais se recolher dentro de si e ser feliz. Todo esse processo lhe leva a uma jornada de descobrimento, fazendo o leitor entender as dores e o anseios que ele passou em sua vida. E é assim que Samuel começa a se afastar da Igreja, escolhendo seu verdadeiro eu, decidindo ser feliz e abrindo o caminho para o espaço mais emocionante do livro: o momento no qual ele precisa contar a seus pais sua verdade. Confesso que parei a leitura nessa hora porque não sou dada a chorar e eu sabia que se continuasse, iria chorar, por todos os motivos bons e tristes, tudo junto: não podemos fugir de quem somos, e também não podemos fugir das reações das pessoas que amamos a nossas verdades. É delicado, doloroso, triste, bonito e emocionante ver a família de Samuel, tão voltada a religião, descobrir e ouvir sobre ele – mas não vou te dar spoiler nenhum sobre como eles reagem, vá ler o livro e se emocionar também!

Depois de todo esse processo, Samuel entendeu que precisava falar mais sobre suas experiências, e assim surgiu o rascunho de “Guardei no Armário”, que primeiro foi autopublicado por ele mesmo, agora ganhando novamente as prateleiras de todo Brasil pela Parelela em uma nova edição. Ao mesmo tempo, ele também criou um canal no YouTube com o mesmo nome, e confesso que já fiquei algumas horas por lá vendo tudo (você pode ir até o canal dele e se inscrever clicando AQUI). Durante toda narrativa do livro, Samuel ainda fala sobre os processos de criação do canal e como era frustrante entender algumas coisas do seu próprio canal (o que me machucou bastante ver como um criador de conteúdo tão bom quanto ele pode se sentir desprestigiado por coisas que não tem controle). Toda, absolutamente toda, jornada do Samuel causa um impacto genuíno no leitor, o fazendo entender o quanto aquele homem merece o respeito que conquistou e, principalmente, com tanto trabalho e estudo.

O livro ainda tem diversas transcrições de depoimentos de figuras bastante conhecidas na comunidade LGBT, como Silvetty Montilla, Spartakus Santiago e Nátaly Neri, entre outros, falando sobre assuntos como sexualidade, suas vidas e suas próprias experiências, tudo para o canal de Samuel e que acrescenta ainda mais emoção a tudo que já lemos. Lendo esse livro, eu só conseguia pensar nas pessoas que viriam a ler e se identificar, e como a representatividade importa. E como importa.

Mostrando a realidade dura de um homem preto procurando sua identidade, a busca de Samuel ressoa em todos que leem seus relatos porque ele é simples, direto, humano, sensível, real. Quantas pessoas que passaram por toda essa batalha nós podemos conhecer? Não posso te responder isso, mas posso agradecer a Samuel por ter compartilhado a história dele comigo, e me sentir um pouco próxima do Luiz, do seu pai, da sua mãe e da Miriã, que mesmo não me conhecendo, ganharam um lugar especial em meu coração, assim como Samuel, que me mostrou que somos quem podemos ser e por mais que a busca por quem realmente somos seja demorada, no final, vai recompensar. Parabéns e sucesso, Samuel. Vou te acompanhar em todos seus passos, torcendo por você.

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Eu já conhecia o trabalho do Samuel antes de ler "Guardei no Armário" e isso influenciou bastante a minha leitura desse livro. Boa parte do conteúdo é repetição do que já vi e ouvi várias vezes em seu canal, fazendo que eu não tivesse muitas surpresas ao lê-lo. A segunda metade, por exemplo, conta com transcrições de alguns vídeos do canal do autor e eu jávi a grande maioria desses conteúdos.

O começo do livro é muito bom, gosto de como o Samuel fala da sua trajetória, sempre com muito respeito ao passado e reconhecendo os erros e acertos que cometeu. Acho que ele pode ser ótimo para quem não conhece o autor e está em busca de mais vozes, das mais diversas, dentro da literatura.

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