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Um livro surpreendentemente interessante, melancólico e divertido. Somos inseridos no desgastado e mal cuidado apartamento da família de Lúcio e na vida daquelas pessoas que aparentam ser sem lar, mas de alguma forma funcionam como um organismo dependente. O texto é tão cru e honesto que fica difícil não se sentir na pele daquelas adolescentes deslocadas, imaturas, cheias de dúvidas e dores.
Nesse livro iremos conhecer uma família completamente disfuncional que vive em um apartamento de classe média, Lúcio o patriarca da família tem sérios problemas - ele é acumulador. Ele e suas filhas vivem em um ambiente nada agradável, o local está infestado de bichos, muita sujeira e toda a tralha que Lúcio acumula.
Suas filhas quando não estão passando fome a ponto de pedir comida para ele, estão na casa dos vizinhos pedindo ovos.
Com uma narração em primeira pessoa por uma das filha dele, acompanhamos o dia a dia dessa família e toda a carga emocional que é viver com alguém que tem essa doença. O livro possuí capítulos curtos, o leitor tem a sensação de estar lendo um diário onde Abigail conta sua rotina.
Vemos que a garota parece não ter noção do grande problema que sua família está passando, as vezes ela tenta esconder suas emoções e a medida que vai crescendo vemos as experiências que ela está sendo submetida.
Lúcio é um pai que deixa as filhas passarem fome a ponto de alimentá-las as vezes quando pedem, as garotas sofrem vários tipos de agressões de estranhos, uma das filhas vive quase o tempo todo na casa das amigas, enquanto Abigail passa bastante tempo no local em meio a sujeira.
A família realmente está despedaçada e a medida que o leitor vai lendo ele percebe que algumas situações são descritas de forma tão leve - num tom até tedioso -, Abigail não tem noção de quanto aquelas situações são erradas, realmente uma adolescente sem qualquer direção.
É uma leitura breve e sem tanto aprofundamento, mas ao mesmo tempo tão forte que faz o leitor refletir sobre as situações. Vamos vendo todas essas coisas horríveis acontecendo, mas ninguém parece se importar a ponto de parar aquilo.
Apesar de estar envolvida com a história, eu não consegui me conectar com nenhum personagem, foi um livro que gerou desconforto pela situação em que todos se encontravam e pequenas reflexões, mas nada além disso!
Esse foi meu primeiro contato com a escrita da autora, é bastante fluída, mas no momento não leria novamente algo da mesma. Talvez eu tenha esperado demais dessa história, não me entenda mal, ela não é nenhum pouco ruim, mas também não foi uma leitura extraordinária.
Esse livro foi disponibilizado para mim através da plataforma netgalley, por ter lido o ebook não tenho nada para comentar sobre a edição física.
E como sempre digo: eu posso não ter gostado, mas leia e tire suas próprias conclusões.
"Os tais caquinhos" é um romance de formação do qual eu gostei muito .
Nessa narrativa, temos Abigail e Berta, adolescentes que vivem o pai acumulador. em uma cidade do Nordeste brasileiro, em meados dos anos 1990. A relação dos três é conturbada, e claramente vemos os cacos - assim como as baratas - que compõem essa unidade familiar.
Natércia Pontes foi muito precisa na narrativa bem agridoce da adolescência e dos conflitos familiares por meio da narradora Abigail. A questão da acumulação ( que aflige o pai e o habitar das meninas ) como sintoma de trauma foi bem colocado, e deixou a falta de zelo bem real, como um personagem da história.
Gostei muito do estilo e quero conhecer mais da autora !
{#ResenhaConexõessingulares} ❝Não sonhe que o sofrimento tem recompensa porque não tem!❞
Eu tinha duas metas principais esse ano em relação às minhas leituras: não me prender a zona de conforto e ler mais nacionais. Duas metas que foram plenamente cumpridas com a leitura de "Os tais caquinhos" da Natércia Pontes, o segundo livro que eu li para o desafio dos cinco livros nacionais da Companhia das Letras.
Esse livro é um romance de formação narrado em forma de diário pela Abigail que de maneira não linear vai nos apresentar os caquinhos que formam a vida no apartamento 402, onde vive com a irmã Berta e o pai Lúcio, sem comida e com muitas baratas.
❝Minha maior preocupação era essa: como aninhar nos braços o meu filho, se o que eu tinha no lugar dos braços eram dois gravetos pálidos que mal sustentavam minha cabeça?❞
Apesar do pai ser acumulador, eu senti que uma das pessoas mais apegadas fossem a própria Abigail, na qual o apartamento bagunçado com as caixas de papelão, bandejas de isopor, cacarecos, poeira e copos sujos refletissem o seu próprio estado. Se cercar com os acúmulos do seu pai em uma tentativa de preencher os seus vazios.
Esse é um daqueles casos onde o livro ultrapassa as páginas e incomodam, no melhor sentido da palavra. Em alguns momentos o cheiro do apartamento 402 invadia meu quarto, em outros eu pausava a leitura pensando como era possível o pai permitir que elas vivessem daquele jeito, queria cobrar amor mas ele já amava. Entendem a dificuldade?
Precisei de uns dias para refletir o que foi essa leitura antes de vir falar sobre e para ser sincera até hoje não consegui processar todos os aspectos do que li, é um livro diferente mas que definitivamente vale a pena conhecer.
⚠️ O livro pode conter gatilhos sobre relacionamentos abusivos, alcoolismo, mais de um tipo de violência, abandono, pensamentos intrusivos, aborto e problemas familiares.
Os tais caquinhos- Natércia Pontes
@companhia das letras
Nota
Abigail, Berta e Lúcio , são os três moradores do apartamento 402, onde reina o caos e a sujeira. Logo de cara vemos que Lúcio é um acumulador compulsivo, que guarda as coisas mais estranhas, tornando sua casa um lugar insalubre para suas duas filhas adolescentes viverem.
Lúcio, é um pai amoroso, porém inapto. Ele deixa as meninas passarem fome de forma constante e diz que isso é bom para elas. Além de deixar as duas em estado de semi abandono, porém dá pra ver que da sua forma torta, ele às ama.
As meninas vão se criando, aproveitando todas as oportunidades que surgem e sofrendo agressões inimagináveis de terceiros, advindas do abandono afetivo que tornou elas dependentes das migalhas de afeto dos outros.
Uma das garotas chega a passar muito tempo na casa de amigas, quase não voltando para o lar. Vivendo da caridade dos pais das amigos.
Berta é dita popular, e isso acaba facilitando as coisas para ela. Já Abigail é uma adolescente tímida, carente e dependente. E triste ver que as meninas praticamente não teriam futuro, que seu pai se encarregou disso.
Ele livro fala sobre os fragmentos de acontecimentos que vão formando a história, a vida das personagens feitas a partir dos cacos do que ficou pra trás.
Eu acho que pra qualquer tipo de arte funcionar pra mim, ela precisa ter ~alma. Algum tipo de verdade, de autenticidade que se permita reconhecer (ou reconhecer alguma pessoa) por trás daquela obra. Nisso, estão incluídos os livros.
"Os tais caquinhos" conta a história de Abigail, Berta e Lúcio (duas adolescentes e o pai), uma família meio estranha que vive num apartamente MUITO estranho, cheio de baratas e acúmulos. É um livro MUITO bem escrito, as frases são bem construídas, as imagens são muito bem criadas (você consegue visualizar muito bem os ambientes), é tudo muito bem feito. Mas falta alma.
Durante a leitura desse livro, eu me peguei continuando porque eu queria ler mais daquela escrita, mas não me importava tanto assim com os personagens nem com o que ia acontecer com eles. Eu adoro coming-of-ages e fiquei muito animado quando vi que ia sair um que se passa em Fortaleza. Gostei de ter lido, mas faltou. 3,5
Às vezes a gente precisa dê um choque de realidade, um que nos acorde e nos mostre que nem tudo é perfeito e que não é só na nossa família que há problemas.
Os Tais Caquinhos representa muito bem esse tipo de realidade. Entender como uma relação familiar funciona, vista pelo ponto de vista de outra relação familiar, pode parecer confuso, como também pode parecer bem reflexivo e até um pouco reconfortante.
A autora trata nessa trama o ponto de vista de uma criança que é filha de uma pessoa acumuladora, porém, tudo o que é guardado tem valor sentimental. Ou seja, será que o acumular é realmente uma compulsividade, um tipo de TOC, ou um jeito de guardar lembranças?
"Filha, não jogue as minhas coisas fora. Eu imploro. Nelas eu guardo a minha vida inteira."
A narrativa passa-se nos anos 90, e mostra o quão caótica pode ser a formação da adolescência quando a sua base apresenta diversos problemas.
A autora Natércia Pontes nos dá esse romance de formação escrito de forma realista, que faz com que a gente se sinta uma das personagens descritas na história.
Comecei a leitura de “Os tais caquinhos” com certo estranhamento, que logo foi substituído por uma crescente curiosidade. Logo concluí que o estranhamento era importante - e coexistia com todo o lirismo de uma vida cíclica, sempre igual e diferente em cada detalhe e repetição. Há uma familiaridade de quem cresceu brasileiro, embora estas se apresentem tanto em nomes da cultura popular como também nos pensamentos e angústias de quem é humano antes de qualquer outra coisa: com cada falha e beleza que existem tão misturadas nessa experiência. Uma leitura rápida, atípica, curiosa e geradora de rememorações de um passado em algo coletivo.
Essa semana a @companhiadasletras propôs um desafio, ler cinco livros curtos de autores nacionais em uma semana. Não li cinco livros pois continuo trabalhando. Além da concentração que se esvai com todos os acontecimentos diários de nosso país. Escolhi um deles, os tais caquinhos de Natércia Pontes . É engraçado que a escolha culminou com o momento onde estou, junto a minha mãe, me desfazendo de coisas muito antigas que temos na casa (um processo de descobertas, alegria e raiva) e um dos personagens se parece muito com ela em questões de ser acumulador.
Automaticamente quando vemos o título, é impossível não lembrar da música ´´pra começar `` de Marina Lima. E esses tais caquinhos fazem sentido ao pensar que a história se passa nos anos 90, época do auge da cantora. Esse apartamento no qual vive uma família atípica, onde moram duas irmãs com o pai. As duas outras irmãs foram embora com a mãe. O apartamento deles é um lixão, o pai, acumulador mas extremamente afetuoso tem muito pouca noção do que de fato é a paternidade. Inclusive ele esquece de comprar comida. Até em questões de higiene as meninas não tiveram orientação. As irmãs passam por diversas questões da adolescência solitárias, mas ao mesmo tempo com um imenso amor pelo pai no qual entendem o jeito torto e despreocupado. O livro é composto por muito fragmentos e pelo próprio caos. A desordem está instaurada nas próprias páginas pra que a gente de fato se sinta dentro daquele lugar. No final, fiquei sentindo vontade de assistir os tais caquinhos em filme, pensei nesse universo transportado pra tela do cinema. Vamos aguardar
Peguei Os tais caquinhos despretensiosamente, e fiquei muito surpresa. Leitura fluida, uma estrutura não-linear bem diferente da convencional, e personagens fáceis de se empatizar, ainda que todos tenham suas falhas e problemas.
No livro, o cotidiano de uma família vivendo em condições muito peculiares, com um pai acumulador e negligente, é contado por uma narradora sarcástica e perspicaz.
O livro é extremamente sinestésico, com descrições muito precisas (e, por vezes, escatológicas) da rotina de uma família disfuncional.
Considero um bom livro para sair de ressacas literárias, e quero ler outras obras da Natércia.
Uma família em colapso, que vive cercada por um ambiente de penúria, entulhos, sujeira e escassez material. O caos do apartamento é o reflexo desse núcleo familiar. A carência do mais básico, o abandono materno e de uma estrutura familiar compromete o convívio de Abigail com seu pai e sua irmã. Ela, uma adolescente que tenta levar uma vida normal e encontrar em relacionamentos a fuga desse caos, descobrirá que amadurecer não é nada fácil. Aos poucos, vamos conhecendo fragmentos dessa história. um livro bastante tocante
Os tais caquinhos
Natércia Pontes em seu livro Os tais caquinhos retrata a rotina de uma família (pai e duas filhas) em um apartamento fora dos padrões de limpeza e higiene. Narrado pela perspectiva de Abgail, filha de Lúcio e irmã de Berta, de maneira caótica apresenta vivências, lembranças e anseios de sua vida, esta cheia de sonhos comuns a toda adolescente. Com um pai acumulador e uma irmã mais nova que consegue viver longe da ‘bagunça’, mesmo quando está no mesmo ambiente.
O apartamento 402 é abarrotado de coisas que não tem utilidade, mas que o pai não quer se desfazer dizendo que sua vida está em cada uma das caixas, insetos e sujeira são parte do lar. A narrativa oscila entre ternura e desprezo, cheia de tristeza e momentos tensos.
Temas como a fome, a desigualdade social, gravidez na adolescência, alcoolismo, acumulação e relações familiares são abordadas de uma maneira muito realista pela autora. De fato uma realidade que, infelizmente, existe e ela soube conduzir com ma
estria.
Não foi uma leitura fácil, ao mesmo tempo que você sente desejo por saber a história, entender as relações conturbadas você sente repulsa. É possível sentir as descrições da autora, o cheiro da sujeira, as baratas, o mofo, uma atmosfera soturna.
Uma narrativa complexa e que me causou desconforto por muitas vezes. A estrutura do livro retrata a história com capítulos curtos e alguns que senti não fazer muito sentido, retratando uma família que sofre inpumeros percalços e vive um misto de sentimentos, falas e ações inacabadas. Mas tudo isso casou muito bem quando cheguei ao final da história, pois ao meu ver esta ‘bagunça’ parece ser proposital da autora para complementar a sensação que temos durante a leitura.
Ainda estou em dúvida se achei o livro nota dez, mas recomendo muito a leitura, pois ele cumpre o papel de fazer o leitor mergulhar e sentis a história.
GATILHOS: abuso, violência
Estamos participando do Desafio Literário da Companhia das Letras: 5 livros nacionais em 5 dias. Durante toda essa semana, postaremos nossas impressões dos livros aqui no site em nosso Instagram, Convidamos todos a participarem conosco – para todas as dúvidas, basta ler nosso post completo sobre o desafio.
Explodi em sentimentos ao ler “Os tais caquinhos” e confesso que nem todos foram associados a uma leitura agradável: senti nojo em diversas passagens da trama, mas, para explicar isso, preciso voltar e, bem, começar do começo e falar da nossa personagem principal. A narração se dá através dos olhos de Abigail, irmã mais velha de Berta e filha de Lúcio. Abigail é uma adolescente que se ressente do caos que é sua vida e o velho apartamento que moram, aonde o pai acumula todos os tipos de objetos, chegando pilhas de jornais velhos até o teto. Lúcio, por sua vez, é um pai relapso porque é um ser humano alheio ao que acontece ao seu redor, colocando seus sentimentos naqueles objetos que ele diz precisar. Já Berta, a irmã mais nova, encontra sua sorte em suas amigas que lhe dão o mínimo de dignidade para existir.
Abigail é impulsiva, forte e perdida, como a maior parte dos adolescentes. Ela tenta se descobrir e encontrar seu caminho no meio do caos que vive, em um lugar que nem comida suficiente para poderem sobreviverem tem. Claro que o lugar está infestado de insetos também, principalmente as baratas – e vocês podem imaginar como era difícil ler sobre aquele lugar caótico, assim como as pessoas que viviam entre aquelas paredes.
Mas, além disso, há também muitas perguntas que ficaram sem resposta na narrativa. Entendo bem que foi a escolha da autora, mas, pra mim, me deixou com a sensação de que eu que precisava tapar os buraquinhos que faltavam. Queria saber mais sobre Lúcio, queria entender como as coisas chegaram naquele ponto, mas também entendo completamente que a narrativa não era sobre ele e sim sobre a filha dele, adolescente, errática, precisando de um porto seguro que não tinha. Ainda me pergunto aonde a mãe de Abigail estava, já como ela dedica um capitulo de seus pensamentos à mulher – ou a falta dela em sua vida, melhor falando.
Mas na vida de Abigail não é só a mãe que falta: é basicamente tudo. Por diversos trechos, eu queria puxar a garota das páginas e ter uma conversa com ela, tentar acalmar o coração dela e falar para ela desacelerar um pouco, que ela ainda tem muito, muito para viver. A narrativa é caótica, sufocante e em muitos trechos, dolorosa porque Abigail está procurando fora dela o que ela pode encontrar dela. Ela precisa se encontrar antes de qualquer coisa, mesmo que seja no meio de um apartamento repleto de coisas velhas e insetos e, enfim, juntar seus caquinhos.
A Companhia das Letras lançou o Desafio 5 Livros Nacionais em 5 Dias e Os Tais Caquinhos, de Natércia Pontes, autora de Copacabana Dreams (finalista do prêmio Jabuti), foi o que mais me interessou da lista. Minha curiosidade sobre o livro já vinha desde a live de fevereiro que assisti da editora sobre lançamentos para blogueiros e livreiros, portanto, ao ter a possibilidade de ler o e-book cedido pela Companhia das Letras através do sistema Netgalley, iniciei a leitura com boas expectativas.
Estas foram superadas e o livro me agradou muito mais que o imaginado. O clichê aconteceu: lamentei que seja curtinho, pois me apeguei à ele e entrei em "ressaca literária" ao finalizá-lo, tanto que dos três dias que separei para a leitura do desafio (pretendia ler dois ou até mesmo três livros) só consegui ler um dia apenas; nos outros dois dias só pensava em Os Tais Caquinhos e confesso que a obra me destruiu um pouco, num sentido positivo.
A capa também me atraiu à primeira vista. A imagem é exótica, estranha, e ao mesmo tempo cotidiana e simples. É de Ale Kalko e utiliza a obra de 2013, Falconeira, de Julia Debasse, uma acrílica sobre linho do acervo Galerias Portas Vilaseca, reprodução de Rafael Salim. Creio que a imagem combina muito, pois algumas passagens envolvendo insetos, principalmente um gafanhoto, são marcantes.
Por favor, acesse o blog Leitora Viciada para ler a resenha completa: https://www.leitoraviciada.com/2021/04/os-tais-caquinhos.html
Nessa narrativa, Natércia Pontes apresenta uma família disfuncional que vive em um apartamento de classe média em algum cidade litorânea. O maior problema é que o patriarca, Lúcio, é um acumulador. Sendo assim, ele e suas duas filhas vivem em um ambiente extremamente hostil, dividindo o que chamam de lar com tralhas, sujeira e bichos. A narrativa é em primeira pessoa, fragmentos de uma semi-vida sob o ponto de vista da filha mais velha, Abgail. Os diversos textos são curtos, realmente "caquinhos" que, juntos, levam a um desfecho um tanto quanto esperançoso.
A premissa é boa, mas não foi um livro que curti, sinceramente. Não porque a escrita é ruim — pelo contrário, achei a sacada da autora em relação ao título do livro inteligentíssima —, mas porque o ambiente em que os três personagens principais vivem é muito nojento e ninguém faz absolutamente nada para mudar aquela realidade — o que, para mim, é o problema central do livro. Convenhamos que não é muito agradável ler sobre comidas mofadas na geladeira, pilhas de copos sujos e gordurosos na pia e baratas passeando pelo rosto das pessoas enquanto elas dormem... Não sou muito familiarizada a esse caos e me incomodei demais.
O romance de formação da autora Natércia Pontes vai falar sobre Abigail e sua família, que vivem no apartamento 402 em um bairro de uma cidade não nomeada.
Essa família disfuncional tem um grande problema: O patriarca, Lúcio, é um acumulador com zero preparo para criar duas adolescentes. Abandonando recentemente pela esposa, madrasta das meninas, seu quadro só tende a piorar. De inicio eu tive a impressão de que a família era muito pobre, com a casa cheia de tralhas e acumulando bichos e mais bichos, principalmente baratas, eu só conseguia imaginar aquelas famílias do programa Acumuladores que mal vê a luz do sol entrar de casa e possui geladeira e armários cheio de comidas estragadas, entretanto isso não passa de uma pequena omissão da autora, talvez, para fazer com que o leitor perceba que certos problemas não escolhe classe social. A família é de classe média, talvez baixa, que possuem recursos para viver em um local limpo e bem cuidado, mas que o problema do responsável impossibilita isso. No meio de tudo isso a narradora, Abigail, conta sua adolescência em meio a fome ao desejo de viver bem.
O livro não tem uma narrativa como estamos acostumados, assim como o título a história é contada em forma de "caquinhos", pedaços e fragmentos de uma adolescência com abuso de álcool, cigarro, abuso sexual e agressão. Em meio as confusões e palavras quase desconexas há diários, cartinhas, listas, poemas para completar tudo o que ela gostaria de dizer. Eu gostei muito dessa forma, apesar de eu até ter criticado um livro recentemente que tinha uma narrativa semelhante, pois aqui a autora conseguiu encaixar tudo de uma forma que o leitor consegue entender a história. Não basta colocar uma narrativa diferente na história se nem todos os leitores vão conseguir entender ou absorver algo e esse era meu medo ao começar a leitura e perceber isso, mas fiquei muito feliz em ver que tudo foi tão encaixadinho e muito bem abordado que mesmo sendo em caquinhos eu consegui ver tudo, sabe?
Abigail nunca entendeu muito bem os problemas de sua família, mas ama seu pai a ponto de todas as noites ir conferir se ele ainda está respirando, ama a sua irmã o suficiente para sentir falta quando ela some para a casa de uma amiga e mal dá noticias por semanas, mas parece que não se ama o suficiente para cuidar de si. Em certo momento há até uma reflexão sobre isso e após uma tragédia ela passa a mudar aos poucos e também entende que não depende somente dela. Sendo jovem no inicio dos anos 90, para mim foi muito fácil imagina-la como os adolescentes de filmes dessa época, em que se perdia para tentar tapar o buraco que a vida imperfeita deixava, se apaixonando facilmente por qualquer um e aceitando aquele amor que ela acha que merece. Com certeza é uma personagem que eu vou ter um carinho, pois o tempo todo me vi torcendo por ela e tentando aconselha-la.
Acho importante avisar que o livro tem muitas descrições sobre a situação da família e principalmente da casa. Então ao ler esse livro esteja preparada para cenas com baratas e ideias desses bichos nojentos andando pela sua cara durante o sono. Acho que algumas pessoas tem estomago fraco para isso e eu mesmo odiando baratas com todas as minhas forças procurei nem pensar nisso, mas essas descrições são necessárias para compor toda a ideia do livro e após alguma tempo a gente acaba se acostumando. Os Tais Caquinhos é um livro incrível com uma "trilha sonora" maravilhosa, uma delas sendo o álbum "Angel Dust" do Faith no More, uma banda que eu adoro.
Gostei bastante desse livro, que acabou de ser lançado pela Companhia das Letras, mas já preciso dizer que é um pouco pesado e incômodo. Tem muitas cenas escatológicas, e é preciso ter estômago pra aguentar. Os capítulos são bem curtinhos, e os títulos são bem diferentes, com algumas passagens que remetem a músicas da Marina Lima (como "As coisas não precisam de você", "outros olhos e armadilhas") e outros bem loucos e desencontrados.
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Abigail, que é a narradora dessa história, vive com seu pai, Lucio, e sua irmã, Berta, em um apartamento imundo. Lucio é um pai amável, carinhoso com as filhas, mas é um acumulador e um tanto sem higiene: a casa vive cheia de baratas, traças, cupins, sujeira. Logo no começo ficamos sabendo que a ex-mulher de Lucio saiu de casa levando duas outras meninas, e convenhamos, não deve ser fácil dividir uma casa com uma pessoa assim.
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"Filha, não jogue minhas coisas fora. Eu imploro. Nelas eu guardo a minha vida inteira".
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Aparentemente esse abandono foi decisivo para o declínio dos três que sobraram ali - diria que ficaram igual barata tonta, como as baratas do resto do apartamento. Lucio não tem a menor ideia de como cuidar dessa família, e as meninas crescem bem largadas, inclusive passando fome, porque ninguém compra comida em casa.
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"Mas, a despeito dos buracos negros e da temperatura baixa do ambiente (...), havia uma ligação forte que nos unia, um sentimento bruto de família, uma cumplicidade gelatinosa que nos protegia como uma placenta. Estávamos juntos. Éramos juntos".
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As irmãs são adolescentes, e todas as cenas típicas da vida adolescente estão ali: colégio, amigas, namorados, fofocas... Berta tem uma vida um pouco melhor que a da Abigail porque acaba sendo acolhida pela família de uma amiga, e aí eu também acho que fica claro a ausência de uma mãe em casa: Berta tem essa referência na mãe da amiga, e com isso suas roupas são mais limpas, seu quarto é cheiroso, ela tem mais higiene que Abigail, que não tem essa referência e é bem porquinha. As duas acabam criando uma rivalidade em função dessa diferença, apesar de ficar claro que elas se gostam. Até que algo inesperado acontece com Abigail, e isso acaba unindo muito esses três.
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Foi uma leitura bem rapidinha, mas senti nojo quase o tempo todo. Dei algumas risadas de nervoso, uma vontade de dar uns tapas no Lucio e na Abigail, mas enfim, gostei da história.