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O autor principal é um homem incompleto e, por essa incompletude, ele leva uma vida sem graça. Esse livro me passou uma vibe 'travessura da menina má', porém, não chegou aos pés deste.
Hajime é um jovem fortemente ligado à música, onde parte dessa ligação acontece devido a sua amizade com Shimamoto, que é uma grande amiga da escola. Ambos compartilham momentos únicos ouvindo Jazz e outras músicas ocidentais da década de 50 através de discos de seus pais, e esse interesse em comum une os dois jovens de forma a marcar ambos para sempre.
Pela ação do destino, Hajime muda de escola, deixando Shimamoto e os constantes encontros para trás. Ambos seguem sua vida, crescendo e conhecendo os momentos únicos da infância e adolescência, dessa vez, cada um em seu respectivo caminho, tão distantes que os desencontros separam o casal de estimados amigos - ou jovens amantes, como Hajime acaba por notar através da ação da puberdade e dos desejos inerentes dessa época.
Hajime segue normalmente sua vida, conhecendo novas pessoas e vivendo a experiência de um jovem adulto se preparando para uma vida tranquila durante os anos vindouros. Novos interesses românticos surgem e vão embora, mas uma lacuna parece sempre estar aberta, como se um pedaço de Hajime tivesse ido embora para nunca mais voltar.
O livro se trata de uma história tão simples, comum, que poderia acontecer com qualquer pessoa. De forma clara e honesta, o livro conta a história de um homem infeliz com suas escolhas, com sua vida, que por mais bem sucedida que seja, faz com que o personagem principal busque suprir na infidelidade o vazio que percorre seu ser dia após dia.
O romance que ocorre no livro, que é o pilar da história, é construído em cima de uma aventura extra conjugal do personagem principal. Para mim, foi difícil ler páginas de um adulto que arrisca um casamento bem estruturado se baseando numa paixão infantil, mas como dito anteriormente, o autor escreveu uma história que pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer momento. Não é difícil ouvir, presenciar ou até vivenciar amores extra conjugais, e o autor deixou o pudor de lado para escrever sobre os mais profundos desejos do personagem principal da forma mais carnal e pura possível.
Neste livro, o autor, Haruki Murakami, deixou o misticismo, o suspense e as confusas histórias sobrenaturais de lado para se focar em um enredo mais pé no chão, mais comum e realista, apostando numa escrita voltada para a paixão e os desejos, trazendo sua escrita característica mais uma vez para sua obra. O livro trás um estilo mais leve e fácil de entender do que outros romances de maior sucesso, como 1Q84, uma das obras mais famosas do autor.
Murakami é um dos meus autores preferidos e com a oportunidade de ler Sul da fronteira, oeste do sol em mãos, me joguei na leitura. O diferencial desta vez é que o fator fantástico não está presente, e torna a experiência bem interessante.
O autor sempre trabalha com a falta de esperança dos seus personagens e Hajime segue essa linha. É um personagem que incomoda bastante, pois ele tens suas próprias frustrações e vazios, está sempre insatisfeito, enquanto também é o fator que causa os mesmos sentimentos em outras pessoas, como Izumi e Yukiko, e até mesmo em Shimamoto.
É uma pessoa difícil de ter empatia, sendo o responsável pela própria condição, aceitando tudo, sem objetivos e não tendo consideração pelos sentimentos e desejos dos outros em seus relacionamentos. Li muitos livros do autor, e acho ser a primeira vez que tenho tão pouca simpatia com um protagonista dele e acho ser intencional sua estrutura. Afinal, Hajime é um homem beneficiado por sua posição na sociedade, que não amadurece nem cresce, ameniza os próprios erros e somente lamenta nunca encontrar nada que preencha essa falta que sente.
Falando assim parece que não gostei do livro, mas é ao contrário: tendo esse protagonista tão cheio de defeitos, podemos analisar nossas próprias escolhas e como podemos influenciar a vida de outras pessoas com nossas atitudes. Hajime tem uma conduta reprovável, e por isso mesmo parece muito com pessoas que conhecemos e até com algumas características nossas.
Referências a gato e jazz, música no geral, personagem que some são elementos comuns nos seus livros e aqui não foi diferente. Outro ponto comum em seus enredos é a crítica ao capitalismo, sendo que através de Hajime, ele mostra a contradição de quem critica, mas se favorece do sistema, principalmente aproveitando conexões nem sempre honestas.
Tenho problemas com a maioria das personagens femininas desenvolvidas pelo autor, mesmo quando elas são interessantes como a Shimamoto. Dá para perceber toda a carga dramática que ela possui, no entanto vemos somente as mesmas migalhas que o Hajime. Eu entendo que por ser um livro em primeira pessoa, quase uma autobiografia do protagonista, vemos o que ele vê, porém não alivia a sensação que o livro, já muito bom, seria incrível com algum aprofundamento sobre as dores da Shimamoto.
Ainda sim, é claro para mim como o autor consegue segurar o leitor do começo ao fim. Sua narrativa é fluida, leve, nos dá mais informação do que pensamos receber num primeiro momento (como um pouco da economia do Japão após a década de cinquenta). Foi rápido, gostoso de ler, cheio de reflexões e bem Haruki Murakami.
O livro é narrado por um homem na faixa dos 30 anos, Hajime. Nascido nos anos 50, em uma época na qual era comum que famílias japonesas tivessem mais de um filho, o fato dele ser filho único foi uma característica marcante de sua formação. O receio de ser lido como introspectivo e egoísta o preocupava já na infância, mas ele encontrou compreensão e acolhimento na amizade mais significativa que fez: com uma menina chamada Shimamoto. A jovem também era filha única e esse fato parece ter sido a primeira fagulha de conexão entre os dois. Somado a isso, Shimamoto tinha um problema na perna que atrasava sua locomoção, tornando-a uma garota bastante sozinha. Os melhores amigos são separados quando a família de Hajime se muda, e o leitor passa diversos capítulos sem ouvir falar de Shimamoto enquanto o protagonista conta sobre os anos seguintes, do ensino médio até a entrada na faculdade e a chegada aos 30 anos. É nessa circunstância que Shimamoto reaparece em sua vida, bagunçando o status quo e a estabilidade que Hajime finalmente parecia ter alcançado em sua vida adulta.
A vida de Hajime não tem nenhum elemento particularmente fantástico, mas a forma como Murakami conduz a narrativa torna o ordinário interessante. A fluidez das palavras e das lembranças do protagonista fazem com que seja muito fácil passar as páginas, ainda que Hajime não seja um personagem do qual eu tenha gostado muito. Mas talvez justamente por expor todas as suas falhas é que o narrador se torne tão palpável e humano aos olhos do leitor. Ainda assim, é importante frisar que, apesar de ser natural cometermos erros, as escolhas de Hajime que mais me incomodaram tiveram relação com sua infidelidade às mulheres com quem se relacionou.
O dilema do protagonista sobre o estigma do egoísmo de filho único pode ser visto na forma como ele se relaciona com todas as mulheres de sua vida, excetuando Shimamoto. Em nenhum momento o leitor tem vislumbres mais profundos sobre Yukiko, por exemplo, e o único momento em que sua esposa ganha voz é também o momento em que Hajime precisa enfrentar suas próprias fraquezas, sendo a minha passagem favorita do livro. Mas existem páginas e mais páginas dedicadas à obsessão de Hajime pela amiga/paixão de infância. Um dos motivos pelos quais o protagonista relata ter dificuldade em se vincular a mulheres que conheceu diz respeito a não ver nelas algo “especial”, algo que seja “feito só para ele”. E aqui se apresenta mais uma das características nada palatáveis do narrador: a forma como ele projeta nas mulheres aquilo que ele busca, desumanizando-as e fazendo com que elas precisam atingir esse objetivo que ele tanto busca (e que aparentemente apenas Shimamoto está à altura).
E mesmo sobre essa mulher tão importante em sua vida nos é revelado pouco. Ela é um mistério por si só, e é a protagonista dos devaneios de Hajime. Ele passa os dias imaginando quando Shimamoto virá ao bar novamente e se põe a divagar sobre como seria sua vida se tivesse tomado decisões diferentes que o aproximassem dela. Por meio de seus questionamentos, Murakami leva o leitor a refletir sobre os próprios “e se?” que a vida apresenta. E se eu tivesse mantido contato com uma pessoa importante? E se eu tivesse feito escolhas diferentes? Nenhum de nós, e nem mesmo Hajime, tem essa resposta, porque simplesmente não podemos mudar aquilo que já foi percorrido.
Ainda que Sono tenha sido uma leitura da qual gostei mais, Sul da Fronteira, Oeste do Sol foi mais uma experiência positiva lendo Haruki Murakami. O autor é muito bom em nos conduzir por reflexões existenciais e nos fazer questionar nossas decisões e trajetórias de um jeito bastante relacionável. Ainda que Hajime seja um personagem cheio de falhas, ele é também muito real e humano, o que torna possível a identificação. Se você busca por um livro que não se revela de imediato, mas que aos poucos vai desnudando as questões interiores dos personagens, essa é uma boa escolha. Recomendo. ;)
𝗦𝘂𝗹 𝗱𝗮 𝗙𝗿𝗼𝗻𝘁𝗲𝗶𝗿𝗮, 𝗢𝗲𝘀𝘁𝗲 𝗱𝗼 𝗦𝗼𝗹
Haruki Murakami @alfaguara
❝— Quando olho pra você, às vezes me sinto olhando para uma estrela distante. É uma luz muito nítida, mas foi emitida há dezenas de milhares de anos. Pode ser o brilho de um corpo celeste que já nem existe mais. E mesmo assim às vezes é mais real do que qualquer outra coisa.❞
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📑 Hajime é um homem de 37 anos que está relembrando de sua vida. Ele conta desde a sua infância marcada por ter sido filho único num país onde isso algo raro, até a vida adulta, sendo tudo isso permeada por uma sensação de não ser suficiente.
Esse foi o meu primeiro contato com a escrita do Haruki Murakami e confesso que estou até o momento sem saber exatamente o que achei. Ao mesmo tempo em que o livro me cativou, chegou num ponto em que a história ficou cansativa para mim, mas ainda assim não tirou o brilho da história.
Eu passei um tempo considerável lendo esse livro, não que a leitura fosse ruim, mas eu não consegui me envolver 100% com a história.
Hajime é um personagem bem humano e podemos ver isso através de seus pensamentos e de suas atitudes que são tomadas baseadas em traumas e lembranças vividas por ele. Ele cria em sua mente uma fantasia com Shimamoto, uma amiga de infância da qual ele perdeu o contato ainda criança e que muitos anos depois reencontra.
Mas, apesar disso, Hajime não nos mostra totalmente o que está pensando, vemos apenas uma pequena parte de sua mente. Sem contar que os outros personagens à sua volta, como sua esposa Yukiko, seu sogro, suas filhas, ou até mesmo Shimamoto, são apenas citados ou mostrados em rápidos diálogos, sabemos apenas o que Hajime acha deles. Pelo menos até parte do livro, pois no final do livro temos uma participação maior de Yukiko que se mostra diferente do que o marido percebia.
Um ponto alto do livro é que Murakami insere na história descrições tão vívidas que por vezes parece que estamos ali ou que aquilo foi realmente vivido pelo autor, são paisagens, nome de músicas, tudo parece bem real.
A fragilidade do ser humano representada nessa história, e de uma mestria tão grande, que me apaixonei pela escrita do autor logo de inicio, mas sem dúvida é uma história forte que merece ser lida.
Murakami é um dos meus autores preferidos, mas as últimas experiências que tive com o autor não foram das melhores. Eis que li "Sul da fronteira, oeste do sol" e redescobri o que tanto amo nesse autor.
A história é uma das melhores que já li dele e trata de temas muito presentes em sua obra. Acompamos um homem, de criança até a sua vida adulta, e os amores que ele vive em sua vida.
Ao contar essa história, o autor consegue representar muito bem o amor, mas não o que estamos acostumados a ver em comédias românticas, aqui o amor é a intimidade, a vulnerabilidade e conseguur enxergar a outra pessoa. Também temos interessantes reflexões acerca da sociedade, modernização, tradição, entre outros. Recomendo demais!
Mais um que você pode ler sem saber o autor e vai dizer "isso aqui tem cara da Murakami", não apenas pelo toque de dúvida sobre coisas que acontecem ou sobre o passado dos personagens vir à tona depois de muitos anos fazendo o protagonista refletir sobre sua vida inteira, mas por fazer o leitor mergulhar dentro das personagens como poucos autores conseguem fazer.
A leitura é rápida, o texto não é cansativo e o livro é muito bem escrito. Gostar das pessoas que estão ali nas páginas é outra história. Não consegui gostar de Hajime mesmo que ele nos faça pensar também, muitas vezes, como ele. É um livro curto, então pode ser uma porta de entrada para o autor, se você tem interesse em começar alguma coisa dele. Ainda não superou Tsukuru Tazaki como o melhor, mas no final das contas eu achei bom.
A escrita do Murakami é sensacional, antes que eu começasse a ler me aconselharam a não questionar a narrativa e embarcar na pira do autor, e assim foi feito. A história consegue te levar tão longe e te fazer se sentir tão perto do que tá acontecendo. Foi uma bela escolha pra maratona Maysian.
Uma bela escrita, fluida e reflexiva. A história tem pontos não explicados que dão o tom da obra, mantendo o leitor em constante estado de expectativa. A descrição do contexto também é bem interessante.