Member Reviews

Distopias sempre estiveram na minha listinha de gêneros literários preferidos, então, assim que esse livro apareceu como opção de leitura, aceitei na hora. E, ao saber que foi escrito por uma autora portuguesa, percebi que foi uma decisão acertada.

Toda a trama é desenvolvida em um período de 12 horas, contadas de forma decrescente, indicando ao leitor que algo com grandes consequências acontecerá. Trata-se da realização de um plano criado por três amigos (Aurora, Ira e Ossi), para destronar o Rei. Paralelo a isso, vamos acompanhando outras personagens dividindo o mesmo cenário fictício. Cada capítulo é equivalente a uma hora, e em cada um deles, todas as visões são mostradas. Creio que essas mudanças de visões no mesmo capítulo diminuíram um pouco o ritmo da trama, mas nada que atrapalhasse absurdamente o desenrolar do que estava sendo contado.

Um ponto positivo foi o desenvolvimento de algumas personagens, como o trio Aurora, Ira e Ossi, e Úrsula e Félix (mãe e filho), aos quais a autora desenvolveu um pouco mais suas histórias e personalidades. O cenário criado também é um ponto bastante positivo, pois Alexandra criou uma região fictícia, com direito a suas próprias geografia, cultura e lendas.

“Os três abraçam-se, só respiração, só corpo (oxigénio, hidrogénio, nitrogénio, carbono), até esse pó de estrelas la no começo. Nem a vida na Terra teria começado sem estrelas, nenhuma bactéria, nenhum coração. Três corações a bater juntos: afastam-se. Ira segue para a direita, em direção à foz, Ossi vai desamarrar o barco, Aurora corre para a duna.” Posição 481

Em relação a escrita, gostei bastante. A autora consegue dar características diferentes a cada uma das visões narrativas. Em uma, ela utiliza uma espécie de jogo de palavras, que deixa o texto próximo ao poético. Em outra, utiliza termos e expressões de Portugal. Enfim, em meio a tantas visões, conseguimos, sem muitos esforços, distinguir qual núcleo está sendo acompanhado.

“O sol dá-lhes em cheio. Três corações, seis pulmões, biliões de nervos numa cama de rede, tórax com tórax, boca com nuca, côncavos, recôncavos, convexos. Jovens como a flor do cacto de Alendabar, a praia onde acordam.” Posição 31

Um dos pontos negativos que achei foi a questão do não aprofundamento da distopia em si. Ficou apenas nos relatos e/ou comentários das personagens. Senti falta de foco em cenas e ações que mostrassem, de fato, o que fez/faz Alendabar ser considerada uma sociedade distópica. Temos a figura do Rei, mas, sinceramente, não consegui nutrir uma antipatia pelo mesmo, pois foram poucos os relatos sobre sua tirania. Outra coisa que me incomodou foi a frágil conexão entre as histórias paralelas. Imaginei que, em algum momento, a interação entre elas seria bem maior, mas ficou apenas uma sensação de tramas soltas em um mesmo cenário.

Finalizo a resenha indicando aos amantes de uma trama levemente distópica e com uma pegada mais objetiva.

Was this review helpful?