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Casa de Alvenaria traz uma outra perspectiva de Carolina Maria de Jesus, depois do "diário de uma favelada", agora ela está em Osasco, numa casa de tijolos que tanto desejou e ainda mais crítica. O que mudou com a fama? O que o diário dela conta de 1960 que mostra as viagens, os encontros, Carolina segue sendo atemporal, em vários, aspectos. Recomendadíssimo!
Para quem já leu o famoso livro da autora QUARTO DE DESPEJO - Diário de uma Favelada, sabe que a narrativa acaba quando o livro da autora foi descoberto e está para ser publicado.
Então apesar de dizerem que o Casa de Alvenaria 1 e 2 poderiam ser lidos de forma independente, achei que ler na ordem seria a melhor forma de acompanhar a continuação desse história, já que nesse livro a Carolina continua a narrativa exatamente de onde parou a anterior.
Muito bom ver a Carolina ganhar uma nova vida longe da favela. Ter comida na mesa. Poder alimentar os filhos. Conhecer o Brasil.
Mas o que me irritou muito foram os oportunistas que cercavam-se dela para pedir, coisa que ela mesma não fazia quando estava passando fome, ela trabalhava o dia e muitas vezes a noite inteira catando papelão... Só lendo o QUARTO DE DESPEJO para ver o tamanho das agruras pelas quais ela passou.
Muito difícil a Carolina conseguir administrar a fama, tantas viagens para divulgar seu livro, esgotamento físico, filhos, casa... e principalmente lidar com o não pertencimento, saiu da favela sob apedrejamento e em sua nova moradia seus filhos eram espancados pelos vizinhos que não aceitavam uma negra escritora famosa.
Um livro que nos faz refletir sobre os problemas que ainda encontramos no Brasil da década de 1960. E nos reforça a ideia de que os livros tem o poder de mudar pessoas.
Resenha Sandra Martins
Ter contato com as palavras de Carolina Maria de Jesus é ter contato com sua alma. E com a alma de muitos brasileiros. É enxergar uma verdade da forma mais crua e ao mesmo tempo, poética.
A resenha de hoje vai ser dupla: as casas de alvenaria de Carolina Maria de Jesus, lançadas pela Companhia das Letras esse ano.
Depois de sair do quarto de despejo (era como ela chamava a favela), Carolina experimentou a realização de um sonho ao morar numa casa de alvenaria. Foi a saída da favela do Canindé para o porão da casa de um empresário. Ainda não era o sonho completamente realizado mas foi o início de uma nova fase da vida de Carolina e seus filhos.
Foi o período de encontros para falar sobre seu livro, jantares, viagens e mais um mundo que foi se abrindo pra Carolina. E tanta mudança na vida acarretou mais outra troca de tetos. Dessa vez, ela e sua família se mudaram para o bairro de Santana. Mas os compromissos e a nova vida mais agitada a impediram de exercer o prazer que era desabafar nas folhas de papel.
Depois de viver todas as coisas positivas, negativas e dolorosas desse mundo que chegou como um cometa na vida dela, Carolina decidiu se mudar mais uma vez. Agora, foi para o sítio em Parelheiros, que foi sua última morada, acolhendo-a até o ano de sua morte em 1977.
Ler Carolina Maria de Jesus é ser impactade por uma verdade, por uma vida pesada, com muita dor e com a confirmação de ser um dos maiores nomes da literatura brasileira. E também é ver como muita coisa que ela passou ainda segue viva em nossos dias. Isso é muito doloroso mas também abre os olhos de quem tiver o mínimo de bom senso. Ler Carolina é marcante para o resto da vida. A prova são seus diários que até hoje fazem cair lágrimas e provocar muita reflexão.
Leiam
Carolina
Maria
De
Jesus.
Após a publicação do Quarto de Despejo em 1960, Carolina e os filhos saem da favela e se mudam para Osasco, para morar no porão da casa de um empresário. Fiquei com a impressão de que esse empresário queria mesmo era fazer o nome com o "gesto de caridade" de abrigar a família da mulher que estava vendendo livro como água. A saída da favela do Canindé foi violenta, com pedradas e xingamentos dos ex-vizinhos. Pouco depois, Carolina aluga uma casinha para a família, em Osasco mesmo, mas sem a interferência do empresário.
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Se antes o que a incomodava era a fome, a incerteza e o medo do futuro para os filhos, agora Carolina lida com outras questões. Seu livro é um sucesso, e ela viaja pelo Brasil para fazer a divulgação. O tempo para ler e para escrever desaparece, o que irrita muito a autora. Os filhos também trazem muita preocupação, porque nem sempre pode levá-los e quando deixa-os aqui aos cuidados de alguém (sempre pagando), percebe o desleixo dos cuidadores. A fama de que estava rica era um problema, porque tudo saía mais caro pra ela. Fora a quantidade de bajuladores que queriam uma graninha fácil - são muitas pessoas pedindo diariamente uma ajuda, uma sociedade, uma doação.
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O racismo está tão presente nesse livro que chega a incomodar o leitor. Muitas vezes Carolina se sentia deslocada nos eventos de autógrafos dos seu próprio livro. "quando estou entre brancos, tenho a impressão que eles detestam a minha presença". Há uma passagem em um hotel de luxo do Rio de Janeiro em que ela e os são tão destratados que dá raiva.
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Há uma tensão permanente em relação a Audalio Dantas, o jornalista que editou o livro. Inclusive ela escreve esse "casa de alvenaria" em obediência a ele, que acreditava que uma continuação com a mudança de vida da autora despertaria a mesma curiosidade do primeiro. Mas Carolina não queria mais, e inclusive tinha medo: "quando escrevi contra os favelados fui apedrejada. Escrevendo contra a burguesia, podem enviar-me um tiro".
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Esse livro se passa entre agosto e dezembro de 1960, mas parece muito mais tempo, de tantas atividades que Carolina participou. No final do ano, comprou a tão sonhada casa própria em Santana, e faz a mudança no Natal de 1960.
Após o lançamento do primeiro diário, a autora adquiriu certa notoriedade no meio culto do país, recebendo várias homenagens.
Carolina conseguiu sair da favela, mas morou um tempo de favor na casa de um de seus benfeitores. Nesse volume, fica claro esse momento de transição de sua vida
Ela mostra como ficou desiludida com a sala de estar da casa de alvenaria, onde as pessoas viviam de aparência, exigiam dela dinheiro para realizar seus próprios sonhos e chegavam até a desperdiçar alimento.
Em vários momentos ela deixa claro que a educação e a única saída para as pessoas menos favorecidas do país. Por esse motivo ela sempre priorizava as visitas a escolas e livrarias, para divulgar seus livros e dá palestras.
Mas ela também mostra um lado relapso, quanto a criação dos filhos, e o preconceito referente a mulher casada, que ela achava que deveria ser submissa ao marido.
Esse é um livro diferente do anterior, que tinha como tema a fome e o descaso público. Esse já fala de sonhos, desilusão e exploração.
Já leu algo dessa autora incrível? Que tal prestigiar esse volume ?
Em Casa de Alvenaria - volume 1: Osasco, Carolina Maria de Jesus narra os acontecimentos de sua vida após a publicação de Quarto de Despejo. E assim como em Quarto, ele é narrado em forma de diário.
Preciso começar falando um pouco sobre a autora, Carolina Maria de Jesus foi uma mulher negra, com pouco estudo (ficou apenas dois anos na escola), que acabou virando catadora de papel para sustentar a si e aos 3 filhos. Como sempre gostou muito de ler e escrever, mantinha um diário. Um dia, o jornalista Audálio Dantas, enquanto fazia uma matéria na favela, conheceu Carolina e ela lhe mostrou o diário, que acabou sendo editado e publicado como Quarto de Despejo. O livro fez enorme sucesso e Carolina passou a viajar pelo país, conhecendo leitores e dando autógrafos e é essa fase da vida dela que Casa de Alvenaria retrata.
O diário já começa com a saída de Carolina da favela, pois a notoriedade que ganhou com a publicação de Quarto de Despejo fez com que muitos de seus vizinhos ficassem contra ela e passassem a tratar mal seus filhos.
Com a notoriedade, Carolina passa a ser vista por muitos como alguém que pode mostrar as dificuldades que enfrentam e, por onde passava, era comum que as pessoas a abordassem pedindo que incluísse alguma denúncia em seu próximo livro.
Uma coisa que gostei muito, foi que a editora manteve a escrita da autora o mais fiel possível, sem corrigir erros de vocabulário, acentos e concordância. Isso deu um toque de pessoalidade ainda maior ao livro e mostrou, que mesmo com o pouco estudo formal, Carolina conseguia se expressar muito bem.
Com essa leitura, fiquei ainda mais curiosa para ler Quarto de Despejo e suas outras obras. Meu primeiro contato com o trabalho da autora foi assistindo a peça Diário de Bitita, em 2019 e desde então estava muito curiosa para ler algo dela.