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No Natal de 1960, Carolina se muda para a casa que comprou em Santana, mas que continua alugada para os parentes da ex-dona que não querem sair dali. Foi preciso muita paciência e persistência para se apropriar da casa. Carolina não ficou muito feliz com a nova residência: não gostava do bairro, algumas pessoas continuavam tratando a família com despeito (ela era a "autora favelada"), a casa precisava de reformas, estava suja e com pulgas, o que exigiu um gasto maior que o previsto. Sempre que havia um problema no bairro, culpavam os filhos dela, "esses favelados" . O preconceito e o racismo continuam muito fortes na vida dessa família.
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Outros problemas foram surgindo e o relacionamento com Audálio Dantas foi se desgastando cada vez mais. Ele administrava a conta do banco a pedido dela, mas Carolina começou a ficar cansada de ouvir que estava gastando demais. Achava que ele interferia muito na vida dela e ajudava pouco, e assim o dinheiro foi acabando.
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No fim de 1963 Carolina comprou o sítio em Parelheiros, e começou arrumar o lugar já pensando na mudança. Lá ela achava que ia conseguir plantar e sobreviver independente do aumento do "custo de vida" , que estava pesando bastante no orçamento. O livro já havia sido publicado em vários países, havia uma peça e um disco sendo gravados em sua homenagem, mas o sucesso já não era o mesmo dos anos anteriores, e os rendimentos também não.
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Esse volume é mais melancólico que o primeiro. Naqueles quatro meses passados em Osasco, Carolina estava eufórica, colhendo os louros da sua fama repentina. Viagens, programas de TV, muitos autógrafos. Em meio a essa euforia, se questiona sobre o futuro e a desigualdade social, o custo de vida que não para de aumentar (a inflação nessa época era altíssima). Percebe que as pessoas estão se aproveitando dela e fica triste e com raiva, porque quando passava fome não se aproveitava de ninguém. Mas ainda estava feliz. Nesse segundo volume, sinto uma mulher mais triste, preocupada e desiludida. A mágoa é o ponto forte de muitas passagens do livro.
Resenha Sandra Martins
Ter contato com as palavras de Carolina Maria de Jesus é ter contato com sua alma. E com a alma de muitos brasileiros. É enxergar uma verdade da forma mais crua e ao mesmo tempo, poética.
A resenha de hoje vai ser dupla: as casas de alvenaria de Carolina Maria de Jesus, lançadas pela Companhia das Letras esse ano.
Depois de sair do quarto de despejo (era como ela chamava a favela), Carolina experimentou a realização de um sonho ao morar numa casa de alvenaria. Foi a saída da favela do Canindé para o porão da casa de um empresário. Ainda não era o sonho completamente realizado mas foi o início de uma nova fase da vida de Carolina e seus filhos.
Foi o período de encontros para falar sobre seu livro, jantares, viagens e mais um mundo que foi se abrindo pra Carolina. E tanta mudança na vida acarretou mais outra troca de tetos. Dessa vez, ela e sua família se mudaram para o bairro de Santana. Mas os compromissos e a nova vida mais agitada a impediram de exercer o prazer que era desabafar nas folhas de papel.
Depois de viver todas as coisas positivas, negativas e dolorosas desse mundo que chegou como um cometa na vida dela, Carolina decidiu se mudar mais uma vez. Agora, foi para o sítio em Parelheiros, que foi sua última morada, acolhendo-a até o ano de sua morte em 1977.
Ler Carolina Maria de Jesus é ser impactade por uma verdade, por uma vida pesada, com muita dor e com a confirmação de ser um dos maiores nomes da literatura brasileira. E também é ver como muita coisa que ela passou ainda segue viva em nossos dias. Isso é muito doloroso mas também abre os olhos de quem tiver o mínimo de bom senso. Ler Carolina é marcante para o resto da vida. A prova são seus diários que até hoje fazem cair lágrimas e provocar muita reflexão.
Leiam
Carolina
Maria
De
Jesus.