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Um dos melhores livros brasileiros já escritos. Prosa envolvente. Trama tocando. Antônio Xerxenesky amadureceu como escritor desde As Perguntas.

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“Seria a melancolia contagiosa, transmissível como o vírus da gripe? Seria possível uma epidemia de tristeza?”

Melancolia e vírus na mesma frase. Epidemia e tristeza também dividem uma sentença. A junção desses fatores inevitavelmente nos remete aos tempos atuais, ainda que soe repetitivo. E não estamos em uma repetição de acontecimentos, de sentimentos, de um sem sentido transmissível? Ao mesmo tempo, o repetir pode aliviar, ajudar o fardo a ficar mais leve ou ao menos suportável.

Nicolas até acreditava nisso. Psiquiatra francês, foi trabalhar em um hospital psiquiátrico suíço com métodos de tratamento humanizados no período pós-guerra. Atendeu pacientes que estiveram envolvidos na Segunda Guerra Mundial, por violência sofrida ou causada, direta ou indiretamente. Lidar com eles e com a imparcialidade de um país que se manteve neutro no conflito, despertou fantasmas do passado do médico, fazendo-o questionar sua capacidade profissional e sua saúde mental.

É fascinante nos identificarmos com um livro, mas se o assunto é pesado, perguntamos se queremos mesmo nos identificar. Tal conflito é um dos pontos que, para mim, tornam um livro tão bom. Antônio Xerxenesky praticamente criou um ensaio sobre a melancolia em suas várias dimensões, como atinge cada pessoa de maneira distinta, provando que depressão não tem rosto; um alto intelecto ou um sorriso podem esconder uma tristeza infinita.

Pela época que ambienta a trama, vemos um retrato das pessoas como indivíduos e como sociedade perante um regime autoritário, o que conversa muito com a situação atual do nosso país. Política, religião, princípios, posicionamento, omissão, loucura coletiva: estava tudo lá, na Segunda Guerra Mundial, e está tudo aqui, ao nosso redor.

Este é o primeiro romance do autor que leio e quando dizem que é sua melhor obra, eu acredito. Com personagens tridimensionais, o livro nos faz olhar com mais atenção às pessoas e a nós mesmos, faz-nos entender que lidamos com uma patologia que precisa ser tratada como tal. Pelo título, fica claro que possui gatilhos. Mas é um baita livro, e eu recomendo.

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Resenha Sandra Martins

O romance de Antônio Xerxenesky é uma obra que te devasta e te levanta. Que causa muita reflexão sobre doenças mentais, seus métodos de tratamento e as relações humanas de quem trata as pessoas com doenças psicossociais.

A narrativa conta a história do casal Nicolas e Anna, que vão morar numa cidadezinha da Suíça por causa do emprego de Nicolas. Ele é o novo psiquiatra de uma clínica que trata traumatizados de guerra, esquizofrênicos dentre outros. Isso tudo pós segunda guerra mundial.

Só que nem tudo é neve no reino do chocolate e do paraíso fiscal. Anna logo se entedia com a calmaria do lugar e Nicolas começa a ficar melancólico (como era o diagnóstico da depressão) ao se envolver emocionalmente com os pacientes e seus dilemas.

No meio desse turbilhão, ele encontra forças pra questionar os métodos de tratamento, como o eletrochoque e lidar com a descoberta de uma droga que ameniza os casos de ansiedade.

Com isso, ele começa a se perguntar se sua profissão ainda tem função, já que o remédio está “tomando o lugar” da terapia da fala. Esse é apenas um dos pontos de tormenta de Nicolas. Oposto ao esposo, Anna na sua inquietação, acaba conseguindo um emprego bem sucedido em Genebra.

E daí, mais coisas vão acontecendo e prendendo a gente na leitura. Esse foi outro livro que só soltei quando terminei e valeu muito a pena!

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Sem dúvida o melhor trabalho de Xerxenesky. Na busca por uma reinvenção da sua literatura, o autor entregou um texto maduro, que ainda bebe dos ensinamentos da literatura de gênero, mas traz reflexos mais pungentes sobre o mundo e ao mesmo tempo mais pessoais.

Embora se passe em 1953, numa pequena cidade na Suíça, o romance se comunica com a experiência do Bolsonarismo e, principalmente, nos faz refletir sobre o que virá depois, “como seguir em frente?”. Em uma tristeza infinita, seus personagens lidam com a questão do pós-nazismo. Como ser médico e tratar um paciente que defendia um regime fascista e destruidor? Como olhar para uma pessoa na fila da padaria, desejar-lhe bom dia, tratá-la com respeito, sabendo que apoiou a loucura desvairada de Hitler?

Uma tristeza infinita é um romance sobre depressão, mas também sobre responsabilidade e a culpa. Demonstra o interesse do autor por epidemia de saúde mental que vivemos atualmente, sobre a ascensão criptofascista no Brasil, concatena conhecimentos de Einstein e Freud, passando também pelas artes plásticas sem nunca soar pedante ou como uma aula de professor.

Assim como os testes de Rorschach comentados na história, é um livro onde as manchas se abrem a inúmeras possibilidades.

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Sabe aquele livro que te toca na alma? Pois é, esse é um desses livros.
O autor nos faz encarar de frente alguns traumas, através dos olhos dos pacientes do Dr. Nicolas, um jovem psiquiatra que reinicia sua vida em uma outra cidade, um novo emprego, após sofrer de um surto.

A história se passa logo após a Segunda Guerra Mundial, razão pela qual diversos personagens estão apresentando problemas mentais decorrentes de suas experiências nesse período.

Nicolas e um médico humanitário, ele se recusa a aplicar métodos mais radicais em seus pacientes, preferindo ter uma boa conversa com eles, que aos poucos vão se abrindo e revelando seus traumas, fazendo com que o próprio médico descubra coisas sobre si que optou em ignorar ao longo dos anos.

A medida que vamos avançando na história vamos sentimos uma angústia, que nos faz imaginar que a trsitezq de fato é algo sem fim, mas vão surgindo diálogos, ideias, pequenos episódios que nos faz ver que podemos ser felizes, independente da tristeza que carregamos no peito e que cerca nossa existência.

Esse é sobretudo um livro sobre fé, não apenas em um ser sobrenatural, mas em nós mesmos, em nossos irmãos de luta, na humanidade.

Eu amei a leitura, agora me conta, você leu algum livro desafiante ultimamente, qual foi?

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Nunca tinha lido nada desse autor e fiquei encantada com a escrita dele. Um romance que se passa logo depois da segunda guerra mundial em um vilarejo da Suiça. Um psiquiatra e sua esposa se mudam da França para empregar-se em um manicômio nesse vilarejo com pouquissimos habitantes. E lá, Nicolas se depara com diversos doentes com cargas emocionais derivados da guerra. Até mesmo o médico também tem sua tristeza infinita... Maravilhoso o livro.

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