Member Reviews
Sou apaixonada pela autora. Carro Michele é um romance onde predominam as cartas, e é interessante como a autora consegue construir personagens tão profundos sem uma narrativa formal.
Na superfície, a história dessa família que vê Michele saindo de casa e indo pra Londres, meio sem motivo, um jovem que aparenta ser meio perdido na vida, sem ambição, sem trabalho. Mas em segundo plano, a história da Itália, que no início dos anos 1970 sofre uma tentativa de golpe de Estado e insufla a resistência antifascista - movimento ao qual Michele faz parte. Pelas cartas, percebemos que é um cara inteligente, que lê Kant e Proust, que se preocupa muito com os outros, e que está com medo do futuro.
Um livro cheio de passagens bonitas, profundas, sobre a vida, os amores, a família, e sobre os nossos valores. Eu amei demais essa leitura - mas já imaginava porque com essa autora, não tem erro.
Resenha Sandra Martins
Cartas de pessoas perdidas querendo se encontrar. Cartas que preenchem uma solidão ou servem de bússola numa rota de fuga. Cartas que contam a história de uma família italiana nos fins da década de 60, começo de 70. Uma Itália sob a iminência de um golpe e o consequente comando fascista.
Michele, seus pais, irmãs e amigos são envolvidos numa trama que mostra com sutileza a invasão fascista no país italiano.
Dentro desse contexto, vemos uma família quebrada: uma mãe solitária e depressiva, um pai ausente e que só tem amor por Michele, duas irmãs em casamentos por conveniência e costume e amigos que completam essa mistura de personalidades também perdidas em seus trajetos.
No decorrer da história, vamos entendendo a razão da fuga de Michele e o afastamento de sua família, dentre outras coisas.
Um ponto interessante no livro são as personagens femininas. Elas que conduzem todo o desenvolvimento da trama, tornando-a mais instigante e mostrando a realidade das mulheres italianas na época.
Natalia Ginzburg escreveu uma narrativa que mostra a mais íntima célula do ser humano, com suas nuances positivas e negativas, seus altos e baixos. Uma leitura curta e muito boa, que nos prende e nos faz ler carta após carta para descobrir o que realmente aconteceu com o protagonista.
Este livro é o meu segundo de Natalia Ginzburg - eu já havia amado "As pequenas virtudes". Caro Michele é um lindo romance familiar sobre a tentativa de diálogo com o personagem homônimo, no que também acabamos conhecendo as questões de seus interlocutores. Há também o tom político das obras da autora, que considero singulares e essenciais. Sempre são inseridos com muita destreza à narrativa. Com essa família em pedaços, a autora constrói um drama familiar sensível e poderoso na Itália pós-fascismo. Imperdível!