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Procurando Jane – Heather Marshall 👩☎️
“É só dizer que está procurando Jane”
2010: Angela está arrumando algumas caixas onde trabalha, quando se depara com uma carta destinada a uma mulher que morava naquele prédio anos antes. A carta traz uma revelação sombria sobre a situação de mulheres Canadenses na década de 1970, e isso leva Angela até a “Rede Jane”.
1970: Evelyn é uma garota que “caiu em desgraça”, e por esse motivo acaba em um abrigo. Lá ela passa por situações de violênci4 e extremo desrespeito, o que a leva a almejar uma vida melhor. Anos depois ela se torna médica e um dos pilares da “Rede Jane”
1980: Nancy descobre da forma mais horrível que as mulheres sempre estarão em desvantagem nas suas escolhas, e depois de um evento traumático também acaba conhecendo a “Rede Jane”.
“Procurando Jane” não é uma leitura fácil, mas é extremamente necessária. O livro aborda a maternidade, o feminismo e o controle do corpo feminino. Chorei muitas vezes durante a leitura, chorei por ser mulher, por ser profissional da saúde e vivenciar no consultório histórias semelhantes, por perceber que o Brasil em muito se assemelha ao Canadá da década de 1980.
Leitura impactante e reflexiva sobre a união feminina e o direito de escolha.
A autora soube trabalhar muito bem as duas linhas temporais em que o enredo se desenvolve e unir eles com maestria.
As personagens são bem construídas, cheia de bagagem emocional, camadas e facilidades que as tornam críveis, cativantes ...
Um romance incrível, que poderia ser facilmente descrito como um ato político.
Eu amei o livro. Devorei em poucos dias por ser super interessante e com uma escrita simples.
Trata de assuntos super relevantes. Recomendo!
🙍♀️ Evelyn, Nancy e Angela estão ligadas por histórias de maternidade que remontam aos anos 60 e chegam até os dias atuais. A autora costura as vivências dessas três mulheres canadenses, desde as horrendas "casas de amparo maternal", que faziam tudo menos dar amparo, até as tentativas de um casal para conceber um filho, passando pela legalização do aborto no Canadá, em 1988, após muita luta.
😢 O texto por vezes descamba para o melodrama, mas ainda assim - ou justamente por isso - vi-me enredada pelas histórias das protagonistas, por seus anseios, expectativas, sofrimentos e conquistas. Foram vários os capítulos que me fizeram fungar (ou chorar mesmo). "Procurando Jane" é uma história de ficção, mas construída a partir de experiências bem reais, e é difícil não se emocionar em alguns momentos.
🤱 Como diz a autora, "Procurando Jane" não é sobre aborto, mas "sobre maternidade. Sobre querer ser mãe e não querer ser mãe e todas as áreas cinzentas entre os dois extremos. É sobre até onde as mulheres estão dispostas a ir para dar fim a uma gravidez ou para ficarem grávidas. (...) E o mais importante: é sobre mulheres se apoiando em suas escolhas individuais e sobre as consequências dessas escolhas". É também sobre amor: amor platônico, romântico, maternal, filial, amor por uma causa. E, sendo sobre amor, termina por ser sobre sacrifício.
⚖️ Foi coincidência ler "Procurando Jane" semanas antes de vir a lume o movimento norte-americano para revogar os direitos das suas cidadãs ao aborto seguro. Não existe lei ou jurisprudência capaz de efetivamente proibir mulheres de abortarem. O que a proibição e o tabu fazem é que algumas podem pagar profissionais decentes, ou viajar para países em que o procedimento é legal, enquanto outras, as pobres, a maioria, caem nas mãos de açougueiros ou charlatães, ou tentam por conta própria, correndo risco de morte ou de sequelas. Proibir o acesso ao aborto é elitista, segregacionista e cruel.
❗ Indico para quem quer desenvolver uma visão compassiva sobre o tema e para quem busca um romance que, se não é leve, é fluido e interessante.
✨ Estrelinhas no caderno: ⭐⭐⭐⭐⭐
Quando terminei a leitura de “Procurando Jane”, eu fiquei quieta, pensando sobre o que tinha acabado de ler e não sabia ao menos começar a organizar meus pensamentos. Para ser sincera, eu me sentia assim logo no começo da trama – por volta da página 52, eu já tinha tido mais emoções do que esperava, mas, agora, ao fim, posso afirmar que este livro é um livro escrito por uma mulher feito para mulheres. Mulheres que desejam serem mães, mulheres que não desejam, mulheres que se ajudam, mulheres que se amparam, mulheres que são fortes e mulheres marcadas por segredos maiores do que podem suportar. Mulheres mães, mulheres filhas, mulheres que sofreram, mulheres abandonadas, mulheres que lutaram, mulheres – um universo de mulheres entrelaçadas em 3 (ou mais) histórias que atravessam o tempo, fazendo com o que leitor entenda o poder do universo feminino.
Ufa. Esse tanto de emoções obviamente ainda estão em mim, mas vou tentar falar o mínimo possível sobre a trama em si porque não quero entregar a experiência de leitura do livro para vocês porque acreditem, vou falar desse livro até vocês cansarem e lerem. Então vamos lá, vamos começar explicando a trama de um livro que deveria sim, ser obrigatória a leitura para todas nós, independente do que acreditamos, porque é feito para pensarmos em todas escolhas que podemos fazer (novamente, independente do que acreditamos).
A trama segue 3 linhas do tempo e é dividida em 3 partes, alternando os capítulos com pontos de vistas das personagens (e seus nomes, para ficar bastante claro de quem é a visão que estamos acompanhando) e seus respectivos anos: temos um prólogo e logo somos apresentas a Angela, mulher lésbica que está tentando ser mãe por inseminação in vitro, tudo com a participação e envolvimento de sua companheira Tina. O ano é 2017 e Angela vive em Toronto, e, um belo dia, em seu trabalho (um antiquário de sua tia, que lhe empregou), ela encontra cartas antigas que nunca foram abertas. Uma dessas cartas era endereçada a uma mulher chamada Nancy Mitchell com o endereço da loja – mas a pegadinha é que a carta havia sido entregue há 7 anos, no ano de 2010. Mas, pensando mais um pouco, Angela chega a conclusão que a tal Nancy provavelmente deveria morar no apartamento acima da loja, e, intrigada, abre a carta, tomando um choque ao ler o conteúdo. A carta, repleta de informações muito pessoais, fora enviada pela mãe de Nancy, Frances, logo antes da sua morte, confessando alguns segredos que a mulher havia escondido de sua filha por toda a vida. Bastante afetada com o que leu, Angela decide que iria procurar Nancy para entregar aquela carta, apesar de não ter ideia por onde começar a procurar a mulher.
Logo no próximo capítulo, somos apresentados a Evelyn Taylor, também em Toronto, no longínquo ano de 1960. A jovem está chegando ao Lar Santa Inês para Mães Solteiras e aqui preciso apontar para a data: tenha em mente que a sociedade era outra e mães solo não eram aceitas pela sociedade. As mulheres que engravidavam sem estarem casadas eram segredadas da sociedade, e mesmo Evelyn só tendo estado com Leo, seu noivo, não importava: o julgamento chegou para ela. A família a mandou para o Lar Santa Inês para ter seu “erro” e o entregar para a adoção, mesmo ela ainda em luto pela morte prematura de seu grande amor, e claro que o sentimento de solidão e desolação toma conta da jovem. Há tanto para se falar dessa parte da história que eu não sei nem por onde começar e falo isso sinceramente: a dor das personagens, a forma como as pessoas usavam o desejo de outras mulheres de serem mães para conseguirem vantagens financeiras, o frio e a fome que passavam no lugar, tudo isso afeta a leitura de uma forma que eu não consigo explicar e digo que somente lendo você, leitor, irá entender. Ainda neste lugar de desolação, Evelyn conhece a jovem Margaret Roberts, e a amizade entre elas é real, já como Margaret é mais nova ainda e não consegue falar como engravidou (o que já nos prepara para a sua história de fundo). O laço entre as personagens é real e é o que as mantêm sã naquele lugar, deixando o coração do leitor apertado pelas duas.
E então somos apresentados finalmente a Nancy Mitchel no ano de 1979 e também em Toronto, a dona da carta que Angela descobriu e leu. Nancy tem uma vida bastante calma com sua família, tendo alguns embates com sua mãe, Frances, mas também de cara descobrimos que na verdade Nancy não quer ir para a festa pela qual a levara a brigar com sua mãe: ela queria acompanhar sua prima, Clara, até uma clínica de aborto. O que desenrola a partir dai é uma reflexão sobre juventude e as escolhas que jovens mulheres fazem com seus corpos e suas sexualidades. Não há uma resposta certa para nenhuma das respostas que qualquer um possa fazer, mas há uma resposta simples: deveríamos ser detentoras de nossas escolhas e nossos corpos. Mas, naquela época, em Toronto, as mulheres não tinham esse direito, e é em uma clínica clandestina que Clara irá procurar ajuda.
E é ai que entra o nome do livro: “Procurando Jane” é uma referência a rede Jane, a rede que as mulheres criaram a surdina para ajudarem outras que escolheram abortar, já como era um crime no país. As mulheres que auxiliam as médicas que efetivamente realizavam o procedimento corriam riscos de serem presas porque a policia obviamente estava investigando e tentando chegar até essa rede. E, moralismos a parte, é nada menos do que maravilhoso ler mulheres se auxiliando de todas as formas como podiam. Como já falei, não importa o que você acredita, o que você precisa entender é que cada mulher precisa ter sua escolha respeitada e sua dignidade preservada. Mas não posso enganar você que me lê, e mesmo sem dar qualquer outra informação, o titulo também faz referencia a outra Jane que está sendo procurada – e a resolução dessa trama é, sem sombras de dúvidas, o ponto alto de uma trama que já é emocionante e dramática, transbordando emoção e dor. E isso é tudo que falarei sobre.
Mas não há só tristeza, dor e desolação na trama: o amor maternal, romântico e familiar está presente em momentos que parecem sombrios demais, que quase fazem as personagens desistirem de acreditar que encontrarão ajuda. Existiram diversos momentos que quase chorei quando apoio e acolhimento chegaram para essas mulheres de diversas formas, em diversos anos, em variadas cenas. A explosão de sentimentos que essa trama carrega foi tão cara para mim, como mulher, que realmente me deixou uma forte impressão.
Esse livro é o tipo de livro que faz diferença ler. Faz diferença você ler sobre o sofrimento de outras mulheres mesmo nunca tendo passado por algo assim porque nos lembra que há pouco mais de meio século atrás nós mulheres éramos totalmente tolhidas da escolha de termos filhos sem um homem presente em nossas vidas e que haviam famílias que não acreditavam quando uma filha contava que era abusada por alguém de confiança (coisa que infelizmente acontece até os dias atuais, não vamos nos esquecer), faz diferença ler e entender que há mulheres que querem ser mães mesmo com obstáculos e também existem as que não desejam a maternidade. É uma pluralidade de universos, escolhas, vivências e sofrimento, tudo junto em uma narrativa que é capaz de derrubar qualquer leitor. Não tenho como realmente explicar a dor e o deleite que é acompanhar uma trama tão incrível – e ainda assinalo que você precisa ler a nota da autora no final para ver o trabalho de pesquisa que a autora se submeteu para se inspirar e criar a Rede Jane presente na trama. Eu prometo que você irá se emocionar, por todos motivos certo.