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Pança de Burro foi um desses livros que embaraçou quase todos os meus sentidos. As palavras possuem seus sabores, temperaturas, formas que vão além do seu significado. No livro de Andrea Abreu a temperatura é sentida no sabor que as palavras ecoam na boca. Um texto jovial, uma linguagem nova que me chegou não como aquela moeda gasta, mas sim como uma moeda única.
Em capítulos curtos, acompanhamos a amizade de duas meninas. Uma se chama Isora, a outra é apenas apelidada de “Shit”. A partir das andanças pelas ruas da zona rural de Tenerife nas Ilhas Canárias, essas duas meninas pré-adolescentes vão descobrindo o mundo que cada uma carrega. Sobre olhares curiosos e atrevidos, inveja e admiração, esses mundos, (um vulcão impetuoso), explodem em dores, indiferenças, preconceitos, simultaneamente, em que o despertar da sexualidade desabrocha como uma raiz insaciável penetrando sobre a terra.
Eu poderia falar dessa relação de amizade de duas meninas, do acerto da perspectiva que a autora escolheu narrar essa história, das relações familiares, seus segredos. Mas não posso ocultar o que mais me marcou no texto; a linguagem.
Fez-me lembrar do filósofo Merleau-Ponty que tratava a linguagem como uma modalidade e expressão do corpo. Linguagem que antes servia apenas como instrumento do pensamento, agora ela faz parte do mundo da experiência, uma faculdade do mundo sensível tão familiar a nós. A linguagem de Pança de Burro nos mostra o poder da maleabilidade das palavras, sua capacidade de adaptação no leitor. Pra mim só resta pegar emprestado o conselho do poeta Drummond:
Chega mais perto e contempla as palavras/Cada uma/tem mil faces secretas sob a face neutra
Que livro maravilhoso esse dessa jovem das Ilhas Canárias. A Andrea Abreu escreve de uma maneira leve e ao mesmo tempo pesada a saida da infância de duas meninas. Amigas de escola, essas meninas vivem aquela amizade que todos um dia vivemos. Uma sendo autoritária e a outra um tanto submissa. E é nesse imbróglio que se passa o Pança de Burro. Uma delicia de livro.
Um livro bem diferente de diversas coisas que já li na vida. Ao mesmo tempo triste, hilário e muito, muito, escatológico. Bem rápido de ler e indico demais para quem quer uma leitura que tire da zona de conforto, sem ir para um lado cansativo. Digo "tire da zona de conforto", porque acho bem difícil que esta leitura esteja dentro da zona de conforto de alguém. Muito bom!
Acho que essa foi a primeira vez em que tive tanta dificuldade em avaliar uma leitura. Acabei dando três estrelas mas, a real, é que não sei se estou sendo justa.
Achei uma leitura densa e indigesta em muitas partes. Gostei muito de tantas outras e, principalmente, da originalidade da obra.
Não sei, até agora, reduzir a experiência em
um "gostei ou não gostei". Acho que é uma obra que merece ser lida e sentida. E que, cada um, extraia dela algo diferente para si.
Independente de qualquer coisa, não é uma história esquecível, pelo contrário. Consigo compreender o sucesso que tem feito mundo a fora. Mas, realmente, ainda não sei falar muito sobre.
Escolhi esse livro pra solicitar porque me pareceu uma leitura diferente e instigante. De fato, ao ler, vejo que é um livro bastante curioso, de certa forma, constantemente tensionado, margeado. Uma poética suja, uma beleza abandonada, é uma história que está sempre nos deslocando também, a partir da mescla de sentidos e sensações (belas, complexas, deprimentes, manchadas) que nos causam essas mulheres e suas relações.