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“memorial de aires” é o último romance escrito por machado de assis. publicado pouco antes da sua morte, em 1908, o bruxo do cosme velho arremata a sua carreira brilhante com um romance intimista repleto de intertextos ocultos escrito em forma de diário.
o diário pertence ao diplomata aposentado josé da costa marcondes aires (personagem importante em outro romance de machado, esaú e jacó) um sexagenário que está de volta à corte brasileira. ora versando sobre o cotidiano do seu círculo social, ora refletindo sobre questões universais humanas. entre o banal das intrigas das relações humanas, aires tece reflexões sobre a infindável passagem do tempo, o peso dos anos já findados e a solidão da velhice.
por ser uma escrita íntima, escrita para ficar reclusa nas mãos do seu narrador-escritor, aires escreve sem arrodeios seus pensamentos. assim, como em toda obra de machado, em uma pretensa afirmação, nas suas entrelinhas temos os mais sagazes comentários sobre a natureza humana.
a narrativa se passa entre os anos 1888 e 1889, anos com acontecimentos importantes na história brasileira, que, para um leitor desatento, o contexto histórico pode parecer eclipsado diante do dia a dia frívolo do grupo social de aires. porém, está disfarçado nos cantos da narrativa que expõe um império decadente, violento e desigual.
ademais, é inegável o paralelo da velhice de aires com a velhice do império, são dois corpos que estão caducos e com uma data de fim próxima, estão dando sinais do seu esgotamento, ainda tentam perdurar, mas no seu interior tem plena consciência da sua finitude próxima. aires é o mesmo antigo sujeito - a mesma antiga instituição - em ampla ruína com reminiscências de um tempo que já fora ofuscante.
aires também se relaciona com o próprio machado de assis. semelhantes na solidão da velhice, encaramos o fim da narrativa com o dissabor da melancolia, doce e, ao mesmo tempo, amarga. o fim da narrativa é a anunciação da passagem de ambos, deixando aos caros leitores a aprendizagem de lidar com a finitude.