Mais um ótimo trabalho da Penguin Companhia, ótima tradução e texto de apoio, como sempre enriquecendo a leitura.
Um ótimo clássico que trata sobre colorismo e que tem muito o que falar. Uma história única que discute temas importantes. É uma leitura rápida e fluida, pronta para se ler em um dia só e ficar semanas pensando na história e as discussões que ela trás. As discussões trazidas nesse livro estão muito em alta hoje em dia, principalmente nos Estados Unidos. Ler esse livro é aprender sobre o colorismo de uma forma simples e eficaz. É muito importante ouvir sobre esses temas de pessoas negras, principalmente que já tiveram essa vivencia. Por isso fico muito feliz desse livro estar no catálogo da companhia das letras, trazendo um livro com responsabilidade. Esse livro é uma porta de entrada para que podemos pesquisar mais sobre o colorismo e é muito gratificante ver um livro tão importante em uma edição tão linda. A capa e o texto de apoio aumentam a experiência com o livro tornando muito gratificante a experiência com o leitor.

“de passagem” da nella larsen é um clássico romance do “renascimento do harlem”, um importante movimento cultural ocorrido durante a década de 1920 no bairro harlem em manhattan, nova iorque. cujo legado foi o reflorescimento do orgulho racial, intelectual e expressão artística, política, cultural afro-americana.

irene e clare, duas mulheres negras de pele clara, amigas de infância que, com o tempo, se afastam. anos depois, elas se reencontram em um hotel, um espaço estritamente segregado devido às rigorosas leis raciais de jim crow em vigor nos estados unidos. contudo, pela passabilidade branca das duas, elas conseguem adentrar em locais até então proibidos para as pessoas negras. chega a ser intrigante que, em uma sociedade extremamente violenta e segregada como a norte-americana, a falsa democracia racial brasileira aparece como um refúgio para a comunidade negra.

é nesse encontro que a narrativa começa. em um simples chá da tarde, reatam os laços em uma relação complexa envolta de medo e tensão. pois, ambas tomaram caminhos diferentes uma da outra, clare casa-se com um homem branco racista, enquanto irene é uma dona de casa de uma família afro-centrada. assim, perigosos são os desdobramentos dessa relação, tensionando ao limite de cada uma.

a escrita de nella larsen é repleta de camadas e subentendidos, em que, mesmo em ambientes e situações teoricamente despreocupadas, como um chá da tarde ou um baile, existe o prenúncio de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento, uma apreensão que percorre cada linha do romance. o pequeno romance - em torno de 150 páginas - é grande nos temas discutidos. colocando em debate colorismo, identidade, desejos, meios de existência e sobrevivência em um contexto duro. interseccionando a leitura não só da questão racial, mas também da questão de gênero e classe.

a nova edição da penguin que vem com o título “de passagem” (uma referência ao “passar-se” de irene e clare - por brancas, por si mesmas) conta com a tradução de floresta, apresentação de bianca santana e posfácio de ruan nunes silva. em 2021, o romance de nella larsen foi adaptado pela netflix, estrelada por tessa thompson e ruth negga.

Irene e Clare são duas mulheres negras de pele clara que vivem vidas opostas nós Estados unidos da década de 20: enquanto Irene é casada com um médico negro bem sucedido e mora no Harlen, Clare é casada com um homem branco racista e que não faz ideia da raça dela.

Quando as duas se reencontram, Clare se sente atraída pela vida de Irene, inserida na comunidade enquanto Irene se revolta com e as escolhas de Clare.

O livro é interessantíssimo e mostra uma prática que era muito comum na época nos estados unidos, onde pessoas negras que podiam passar como brancas deixavam sua vida e família para trás para ter uma vida que aparentava ser melhor.

A segunda metade do livro é surpreendente e o final é chocante. Daqueles livros que ficam com você por um bom tempo.

O livro é narrado por Irene, uma mulher negra, casada com um médico também negro e que vive uma boa vida no Harlen, em meio a compromissos sociais de valorização da cultura afro-americana.

Em um momento, ela reencontra Clare, uma antiga conhecida dos tempos da infância. Clare é também negra, mas casada com um homem branco e Irene se surpreende ao perceber que Clare se passa por branca, sem o marido fazer ideia de sua identidade racial.

Foi um livro em que não gostei particularmente de nenhuma das personagens principais: Irene parece menosprezar Clare e se achar superior por não precisar se passar por branca, enquanto Clare parece invejar a vida da “amiga”.

Me encantei com a forma que Nella constrói a narrativa e como cria um final surpreendente e que levanta mais perguntas. De Passagem foi publicado originalmente em 1929, retratando a sociedade americana da década de 20. É interessante perceber o quão atuais são os temas que ela aborda.