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Escrito ainda na juventude de Jane Austen, o romance A abadia de Northanger (Northanger Abbey) foi publicado apenas posteriormente, em 1817, logo após a autora falecer, aproximadamente vinte anos depois de quando foi originalmente escrito.
A obra retrata – do modo marcante de Austen, satírica perante a sociedade da época e o corpo que a compunha – a personagem Catherine Morland, jovem leitora que, ingênua demais, principalmente por conta dos livros que lê, molda a própria realidade baseada nos romances góticos que consome durante o livro, dando destaque para Os mistérios de Udolpho (The mysteries of Udolpho) de Ann Radcliffe, obra que Austen cita repetidamente na trama enquanto Catherine explora os prazeres e desprazeres da cidade inglesa de Bath.
Diferentemente dos outros trabalhos de Austen, em A abadia de Northanger a autora se dirige ao leitor por algumas vezes. Em algumas desses momentos, Jane Austen aproveita para sair em defesa do gênero do romance, se dirigindo não somente ao leitor, como também à classe romancista.
“Pois não vou adotar esse mesquinho e grosseiro costume, tão comum entre romancistas, de degradar com sua censura desdenhosa os próprios trabalhos. [...] Não posso aprovar tal coisa. Deixemos aos críticos insultar à vontade tais efusões de imaginação, e a cada novo romance lançar seus surrados ataques contra o lixo que hoje faz gemer as prensas. Não abandonemos uns aos outros; somos um corpo ferido.”
Jane Austen não se revolta à toa. Em meados do século XVIII, o romance gótico atinge o seu clímax na Inglaterra. Ann Radcliffe, inclusive, referenciada por quase toda a obra de A abadia de Northanger, tem seu romance gótico mais famoso publicado em 1794, sendo este também o livro mencionado diversas vezes como a leitura que Catherine passa horas a fio investida, Os mistérios de Udolpho. O romance gótico apresenta heroínas fragilizadas que são confrontadas com situações de “risco” em lugares assustadores – abadias, castelos, moradias em ruínas etc. A virtude das protagonistas é posta à prova por temíveis vilões e/ou situações sobrenaturais para que, ao final da narrativa, as personagens possam reafirmar a sua castidade e atingir o ideal de feminilidade defendido no período.
A essência do romance gótico, então, atrela-se diretamente à essência do gênero do romance que, nas próprias palavras de Austen, revela “as maiores faculdades do espírito, em que o mais completo conhecimento da natureza humana, o mais feliz traçado de suas variedades, as mais vivas efusões de inteligência e humor são oferecidas ao mundo na linguagem mais seleta”. Em A abadia de Northanger, a autora faz questão de sair em defesa do romance, portanto, por conta das discussões que perpassaram o século XVIII sobre tal gênero; periódicos com resenhas opositoras ao romance eram muito comuns e, mais ainda, quando a leitura e escrita eram feitas por mulheres.
Eram levantados questionamentos sobre o efeito que a leitura de tal gênero poderia ter na mente e no comportamento feminino, uma vez que o gênero – isto dito literalmente por Jane Austen – explora a natureza humana em todas as suas formas. Jane Austen utiliza do mesmo argumento dos opositores do gênero para, ao contrário deles, sair em defesa do romance.
“Aquele que, homem ou mulher, não sente prazer na leitura de um bom romance deve ser insuportavelmente estúpido.”
Ainda no sentido de utilizar do mesmo argumento dos opositores do romance para, em contrapartida, sair em defesa do gênero, Jane Austen desenha maravilhosamente a personagem Catherine Morland como a mocinha que os críticos e opositores ao romance tanto temiam. Catherine é jovem, ingênua, idealista, sonhadora e imaginativa. A personagem, ao visitar a abadia de Northanger – a convite dos irmãos da família Tilney –, devido à leitura de romances góticos como Os mistérios de Udolpho, supersticiosa, começa a fabular que o general Tilney, pai dos irmãos, assassinou a própria esposa e mantém o segredo de todos. Catherine passa algumas noites na abadia investigando o suposto assassinato, até ser pega em flagrante por Henry Tilney, que lhe dá um sermão e faz Catherine cair em bom-senso.
“Querida senhorita Catherine, considere a terrível natureza das suspeitas que você tem. De onde vem tais julgamentos? Querida senhorita Morland, que ideias você tem admitido?”
Jane Austen, então, ao trazer à tona o que os opositores ao romance tanto temem – mocinhas jovens que têm a mente corrompida pela leitura de romances góticos – acaba, novamente, defendendo o gênero do romance de forma astuta. A autora, desde o início do livro, deixa claro que Catherine nunca foi uma leitora.
“Catherine, que por natureza nada tinha de heroica, preferisse críquete, beisebol, andar a cavalo e correr pelos campos aos livros.”
Desse modo, Jane Austen culpabiliza o mau leitor pela má internalização daquilo que lê. Catherine não teve tais comportamentos absurdos, como o de achar que seu hospedeiro havia assassinado a própria esposa, por conta de Os mistérios de Udolpho. Catherine, por não ser uma leitora crítica, não soube internalizar tal romance e acabou misturando-o com a sua realidade. Quem sabe Catherine poderia assimilar melhor as ideias romanescas se lhe fosse permitido o acesso às letras da mesma forma que foi permitido a Henry Tilney, por exemplo. A personagem que a trouxe ao bom-senso não o fez somente por ser mais inteligente, racional ou competente que Catherine, mas sim porque lhe foi autorizada e permitida a inteligência, a racionalidade e a competência; o acesso que Henry obteve ao pensamento crítico desde rapaz, Catherine nunca usufruiu – mesmo enquanto jovem moça. A falta de instrução, sim, pode corromper jovens; não a leitura de romances, Austen quer nos dizer.
“Embora a nossa produção tenha proporcionado mais amplo e autêntico prazer do que as de qualquer outra corporação literária do mundo, nenhuma espécie de composição foi mais vituperada. Por orgulho, ignorância ou moda, nossos inimigos são quase tantos quantos nossos leitores.”
"A abadia de Northanger", de Jane Austen, é uma obra surpreendente que mistura comédia, romance e suspense em uma história envolvente. A protagonista Catherine Morland é uma jovem ingênua que se encanta pelo mundo dos livros de mistério e fantasia, e a sua viagem à cidade balneária de Bath a coloca em contato com uma série de personagens interessantes e intrigantes. A narrativa de Austen é repleta de humor e ironia, especialmente nas passagens em que ela satiriza os excessos da moda e da futilidade da sociedade inglesa do século XVIII. No entanto, o tom cômico da história dá lugar a uma atmosfera de suspense quando Catherine visita a abadia de Northanger, cujos segredos e mistérios parecem ter saído diretamente dos livros que ela tanto adora.
Diferente de tudo o que já li da Jane, A abadia de Northanger foi uma grata surpresa.
Diferente dos outros, ele possui um desenvolvimento mais lento, o que pode cansar quem não está acostumado com clássicos.
Ainda assim, ela mantém foca no ambiente inglês e suas tradições, trazendo ao mesmo tempo as críticas sociais que sempre traz em seus livros.
Catherine Morland é uma jovem de 17 anos que passou toda a sua vida em Fullerton. Com a chegada do convite de seus vizinhos, os Allen, para que Catherine se junte a eles numa viagem à Bath, a jovem vê a oportunidade perfeita para sair da monotonia do campo. Mal poderia ela saber que sua estadia em Bath a traria surpresas desesperadas: de novos amores à grandes decepções.
A Abadia de Northanger traz uma protagonista cheia de nuances e que é, ao mesmo tempo, ingênua e perspicaz. Catherine Morland é sincera, e veio de um contexto familiar onde todos são muito transparentes em tudo que pensam e falam, diferente de quem ela encontra em Bath. Lá, em sua estadia, a jovem se depara com pessoas muito diferentes do que ela está acostumada: mentirosas, interesseiras, cheias de subterfúgios e segundas intenções, e até mesmo egoístas. Catherine tem dificuldade de lidar com pessoas tão conflitantes, que dizem uma coisa mas que agem de forma completamente contrária. E não só isso: até mesmo suas novas amizades na cidade parecem querer tirar alguma vantagem dela.
Entre amizades feitas e desfeitas, entre enganos, promessas vazias e uma nova paixão, vemos a protagonista ganhando maturidade e se desenvolvendo emocionalmente, a medida que precisa enfrentar diferentes desafios: seja um pretendente indesejado, amigos que não parecem colocar seu bem estar em primeiro plano, ou até um interesse amoroso o qual ela tem dificuldade de se aproximar.
Com um tom de ironia cômica e personagens cativantes, A Abadia Northanger é o livro perfeito para quem busca um romance de formação com uma história divertida, fluida e que deixará o leitor preso até o fim.
A Abadia de Northanger é um livro com uma pitada cômica, divertida e um tanto irônica. Foi publicado pela primeira vez, postumamente, em 1818.
O enredo é bem leve onde teremos uma sátira aos romances góticos da época, costumes e casamentos arranjados pelo interesse financeiro. E como a autora interage com o leitor durante a história, torna tudo mais interessante.
Catherine é a ingênua filha da família Morland. Doce e carinhosa, a moça sobrevive em meio a futilidade, no entanto ela não se deixa influenciar.
Até que aos dezessete anos, ela é convidada a passar uma temporada em Bath e posteriormente a conhecer a Abadia de Northanger. Catherine, com uma imaginação bastante fértil e curiosa se aventura em diversas situações, inclusive embaraçosas.
🌾A leitura é um pouco lenta no começo e começa a fluir melhor com a chegada na Abadia. A autora aborda muitos temas pertinentes e o foco é voltado a inclusão social da protagonista, assim como sua percepção do ambiente em que vive.
Catherine é leitora ávida de romances e neste contexto vamos conhecer o novo gênero literário que surgiu a partir do século XVII e sofreu algumas críticas, por conservadores por acharem que a leitura corrompia as jovens, indo ao contrário dos valores éticos e morais. É nítida a crítica feita pela autora neste sentido.
O cotidiano da época é bem explorado, a ironia é certeira e ao mesmo tempo discreta. Enfim, a escrita de Jane Austen é maravilhosa.
Um livro ideal para quem procura algo com uma protagonista cativante, complexa e tão real e simples ao mesmo tempo.
🗨️"Ninguém que tivesse conhecido no passado a menina Catherine Morland poderia ter pressumido que ela nasceu para ser uma heroína. Sua condição de vida, as índoles do pai e da mãe, sua própria pessoa e seu temperamento, tudo isso a reprimia num mesmo obstáculo."