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"A raposa de cima e a raposa de baixo" do escritor peruano José María Arguedas é uma daquelas obras que me marcaram profundamente. Não apenas pelo anúncio na primeira página do suicídio do autor, mas pela escrita e a história pessoal de Arguedas. Filho de brancos, criado pelos índios, ainda jovem saiu do povoado para viver na cidade. Não podia ser índio, não queria ser branco, não suportava ser, ao mesmo tempo, o desprezo e o desprezado. (Galeano)
Buscava sua essência nas palavras, na sua escrita como um rio profundo...

O manto da noite de Carola Saavedra (@companhiadasletras) me fez lembrar o livro de Arguedas na natureza indefinida do texto. Diário, relato de viagem, poema, história, mitologia, diferentes formas de narrativas que combinam entre si, entrelaçando uma escrita que ouso denominá-la de “escrita metamórfica”. Termo que fui buscar lá na geologia, onde existem rochas resultantes da transformação de uma rocha original, ou quem sabe de uma Cordilheira que se abre trazendo suas heranças profundas...

O manto da noite contém uma história. Existe uma mulher, uma voz, uma escrita, um livro que, juntos se expandem e transitam entre sonhos e realidades. Grita o corpo, mas também grita a sua alma, sua mitologia particular, sua ancestralidade.


“Buscar”, eis a palavra que une cada ponto desse livro. Em todos os capítulos há uma busca. Uma menina que busca suas origens, uma escritora busca seu livro perdido, uma Cordilheira que busca sua natureza esquecida depois de tantas guerras e sangue vertido em seu solo; um ser mitológico busca por uma ilha onde sonha em estabelecer um reinado.

Levar ou investigar, conseguir ou tentar, procurar ou recorrer, não importa qual sinônimo você use para o conceito de buscar, no Manto da Noite, buscar é uma palavra viva que não permite descanso. Ela é a asa e o voo, o sonho e o sonhador. Um livro repleto de “corporeidade” que abrange desde a luta das mulheres, dos povos indígenas, do tempo fora do tempo, da escrita, temas que se conectam aos olhos dos leitores tecendo um manto de criatividade e beleza.

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Esse é um tipo de livro que é preciso apreciar de mente aberta e imergir na narrativa. É um livro complexo, mas com escrita simples. Além da profunda estranheza que os livros da Carola me trazem, sinto uma proximidade e me causam curiosidade. Acho a autora corajosa, pois ela não tem medo de explorar uma escrita que talvez não agrade a todos. Gosto dessas não concessões.

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