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cinematográfico, sensível e envolvente ao ponto de você sequer perceber que está envolvido apenas quando já é tarde demais e o livro está nas últimas páginas. O Felitti sabe contar histórias e Rainhas da Noite é uma das que precisavam ser contada por ele e o seu profissionalismo e carinho com as narrativas que se proproe a investigar, restaurando justiça e lembrança.

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Que impacto o Chico Felitti tem ao contar uma história! Acompanhei o podcast A Mulher da Casa Abandonada e uma das coisas que mais gostei foi a forma do Chico de ambientar aquilo que estava retratando e com o livro Rainhas da Noite não foi diferente!

No livro, Chico Felitti conta a história de 3 das principais travestis de São Paulo, mesclando suas histórias com a da cena de pessoas T da época.

Com uma forma de escrever que me conquistou e me fez querer saber cada vez mais sobre a vida dessas pessoas, fiquei surpresa por muito do que encontrei no livro. Sabia que a vida de travestis e transsexuais não era fácil e imaginava que uma vida que possui como principal oportunidade de emprego a prostituição deveria trazer muitos desafios, mas o que eu não esperava era que entre elas existia esse tipo de organização, que mescla proteção com violência, uma organização criada como forma de sobrevivência.

É doloroso ler algumas passagens e ver que muito do que as personagens aqui retratadas sofreram ainda é realidade para muita gente. Mas para além do sofrimento, também temos contato com as vitórias vivenciadas por essas mulheres: as amizades cultivadas, o reconhecimento (embora quase inexistente, mas comemorado quando aconteciam), as festas e as novas famílias criadas na noite.

É um registro importante que fala de lutas, conquistas, preconceitos e acontecimentos importantes na cena noturna LGBTQIA+, em especial entre as pessoas T. Gostei muito de ter feito essa leitura e conhecido mais sobre essa história!

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Em Rainhas da noite seguimos três figuras emblemáticas da noite paulistana: Jaqueline Blábláblá, Andréa de Mayo e Cristiane Jordan (mais conhecida como Cris Negão). As três mandaram nas ruas de São Paulo e construiram seus impérios com punho de ferro, mas nem sempre elas foram essas figuras poderosas, muito pelo contrário, as três começaram de baixo.

Com uma narrativa que, por vezes te faz sentir como se estivesse escutando uma fofoca, o autor, Chico Felitti, pinta uma imagem dos tempos onde as ruas eram das travestis. Viajamos para décadas atrás, durante a ditadura, e nos é desvendado um pedaço da história paulistana que, pra mim (e acredito que para as novas gerações também) era desconhecida.

As nossas personagens, hoje eternizadas na história da comunidade travesti (e da comunidade LGBTQIA+ ao todo), são apresentadas de maneira humana, mas objetiva. Conhecemos quem elas eram e quem se tornaram. Os relatos nos apresentam suas várias facetas, representando as rainhas como amigas e colegas, mas também como pesadelos para alguns. Jaqueline, Andréa e Cris foram importantes figuras para alguns, mas é importante ressaltar que, mesmo que as suas lutas e atitudes tenham ajudado as travestis que as rodeavam de várias maneiras, as três ainda sim causaram dor e não devem ser santificadas.

Estabelecido que as nossas rainhas não são figuras santas e nem malignas, acho importante destacar que seus legados vivem nos corações de suas companheiras, muita das quais continuam entre nós, lutando pelos seus direitos e pelo lugar que é direito delas em nossa sociedade.

Como uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ esse livro me ajudou a compreender melhor outras vivências, e a compreender o cenário queer brasileiro de modo que antes era desconhecido pra mim. É tão comum que as narrativas da comunidade sejam ditadas pelas vivências estadunidenses, e que nossas teorias girem em torno delas, que é fácil esquecer que sempre existimos e lutamos aqui no Brasil também.

Rainhas da noite chegou para passar uma mensagem que eu (na verdade, todes) precisamos escutar e repassar: Sempre estivemos aqui e não importa o quanto incomode, sempre vamos estar!

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