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A assombração da casa da colina foi um livro que eu amei, Sempre vivemos no castelo também me cativou. E eu estava com altas expectativas pra esse livro porque ele tem um dos meus contos favoritos da vida que é A loteria, eu amo que tudo nele vai numa crescente de tensão e coisas absurdas, quanto mais as palavras vão passando, mais a gente descobre que as pessoas daquele vilarejo normalizam crueldades e que a loteria é absurdamente macabra.

E eu esperava que os outros contos seguissem a mesma vibe, mas não é o que acontece, poucos contos tem esse lado especulativo/fantasioso/aterrorizante, a maioria é cotidiana até demais, todos tem finais abertos, o que dificulta ainda mais meu envolvimento e são história super simples. Aposto que a Shirley Jackson pensou alguma coisa inteligente pra todas na hora de escrever, mas lendo hoje em dia não tem tanto impacto quanto tiveram naquela época.

O próprio A loteria foi lançado em 26 de junho de 1948 num exemplar do The New Yorker e recebeu inúmeras cartas revoltadas na época porque o conto era violento/sombrio demais, mas hoje em dia ele nem seria considerado tão chocante. Eu o amo mesmo assim. A escrita da Shirley Jackson é inteligente e ela sabe criar um clima claustofóbico e super mórbido. Eu leria um romance desse conto, é uma grande crítica a violência sem sentido e eu diria até que ao conservadorismo e apego as tradições sem questionar, já que a autora parecia adorar peitar os conservadores da sua época.

Eu vi ainda que ela sofria de grave ansiedade, o que transparece em muitos contos desse livro que são loopings que não dão em nada, medo de contato humano, desespero por coisas aparentemente pequenas (mas que pros personagens são enormes) e paranoias. Algumas histórias pareceram até um desabafo, um relato pessoal, o que é ótimo para o escritor, mas nem tão legal assim de ler.

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Este livro conta com 24 contos e um poema escritos pela autora estadunidense Shirley Jackson. São contos que mostram histórias cotidianas, a maioria tendo como protagonistas mulheres. As histórias apesar de mostrarem situações banais, sem nenhum aspecto sobrenatural, possuem uma atmosfera claustrofóbica e com grande tensão, que despertam angústia e ansiedade no leitor acerca do desfecho das histórias.

Tive uma boa experiência com outro livro da autora, Sempre Vivemos no Castelo, e, por isso, me interessei em ler este livro. Infelizmente, não tive uma boa experiência com A Loteria e Outros Contos. Acredito que para a época em que foi lançado, os temas abordados no livro possam ter sido relevantes e levantado diversas críticas pertinentes. Porém, para o momento atual, os temas não chamaram minha atenção e não consegui me conectar, tampouco me importar com os personagens de cada conto. A leitura do livro acabou sendo bastante enfadonha.

Apesar de não ter funcionado para mim, ainda assim, recomendo a leitura, pois o livro não funcionou comigo, mas pode funcionar para outro leitor. Além disso, Shirley Jackson é uma autora reconhecida e famosa, tendo influenciado diversos outros autores importantes.

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O tema central dessa coletânea é destrinchar a prisão da mulher de classe média do início do século XX às situações familiares e cotidianas. A maior parte dos contos é protagonizada por mulheres na faixa dos 30 anos, e quase todas elas são donas de casa ou almejam ser. Para ser sincera, quando solicitei esse livro eu achava que encontraria contos de terror e suspense, devido às premissas dos outros livros de Shirley Jackson. Por isso, acabei um tanto frustrada com a repetição de temas e a monotonia deles, que refletem bem o cotidiano entediante dessas mulheres.

Gostaria de dizer que fui cativada pelas problematizações e pela narrativa de Shirley Jackson, mas seria mentira. Comecei o livro entusiasmada por finalmente conhecê-la e, sem demora, me senti quase tão presa quanto as protagonistas dos contos. A verdade é que não existem bons plot twists nas histórias e grande parte delas mal parece ter sequer uma conclusão lógica. Devido à minha decepção com o livro como um todo e com o estilo da autora, decidi focar minhas opiniões nos contos que me causaram mais interesse.

O primeiro deles é O amante diabo, que conta a história de uma moça que está aguardando seu noivo chegar em seu apartamento. É o dia do casamento e o rapaz, James Harris, simplesmente sumiu. A protagonista passa a procurá-lo pelo bairro todo, perguntando nos estabelecimentos se alguém o conhecia, o que a leva até um prédio antigo e a um sótão assustador. Nesse conto o que achei interessante (de um jeito aflitivo) é que as autoridades e as pessoas pra quem ela perguntava pareciam achá-la louca, principalmente se o interlocutor fosse um homem – um claro exemplo do desdém masculino. O segundo conto que gostei se chama A renegada e conta a história de uma mãe de família, a Sra. Walpole, que veio da “cidade grande” e se sente oprimida pela vida interiorana e sua forma brutal de resolver as coisas. A tensão da trama reside no fato de que sua cadela foi acusada de matar as galinhas do vizinho e todo mundo – inclusive seus filhos pequenos – acham natural matar a cadela a tiros, como se não fosse nada. Só a protagonista parece enxergar o horror disso, e ela se sente como a cachorra: com uma coleira cheia de espinhos no pescoço.

O terceiro conto do qual gostei se chama Charles e traz um clichê, mas do tipo que eu curto: aquele que te induz a pensar uma coisa sobre determinado personagem e depois descobrimos que não era bem assim. Nesse caso, acompanhamos um garotinho, Laurie, contando à família que seu coleguinha de escola, Charles, é uma praga: briga com a professora e os colegas, apronta na aula, fica de castigo, fala palavrões, entre outras malcriações. O tal Charles vira até uma expressão no ambiente familiar, tipo um meme. Aos poucos, a autora dá pistas esquisitas sobre Charles e, quando a mãe de Laurie vai até uma reunião de pais e professores, ela descobre fatos surpreendentes. Por último, temos o conto principal da obra, A loteria, que também entrou na lista de melhores contos: nele a autora conta a rotina de uma aldeia fictícia que vai se reunindo na praça da cidade para um momento comunitário sobre o qual não sabemos muito. Tudo parece tranquilo, as famílias interagem, até que os homens que representam as famílias passam a sortear nomes, e é aí que o clima da situação começa a ganhar características ritualísticas macabras. É um conto bastante cruel que narra uma cerimônia tradicional que ninguém sequer pensa em contestar. Quando a vítima desse momento é escolhida, é bem triste ver sua reação.

O poema que encerra o livro também é bacana, e alguns outros contos tem uma ou outra tiradinha interessante, como Estátua de sal (que fala sobre ser esmagado pelo ritmo alucinante de uma cidade que não para e que parece se desfazer à plena vista) e É claro (que mostra como decisões masculinas imbecis podem alienar uma família). Além disso, existe ainda uma denúncia ao racismo, que aparece mais claramente no conto Jardim florido. Outro ponto que vale mencionar é que Shirley Jackson usa um “mesmo” personagem, James Harris, em diversos contos – ou melhor, alguém com o mesmo nome, profissão e descrição. Se é só pra confundir o leitor ou significa algum simbolismo a mais, não sei dizer. Comecei a leitura achando que era tudo uma sacada genial e terminei achando que era uma aleatoriedade. 😂

Enfim, como mencionei no início da resenha, esse livro não me proporcionou uma boa experiência. Porém, enquanto escrevia esse post, fiquei contente por ter conseguido extrair alguns aspectos positivos dela. Acredito muito que a experiência de cada leitor é única e, por isso, as pessoas devem se arriscar nas leituras que façam sentido pra elas. Mas também não posso dizer que recomendo esse título, porque foi bastante desafiador chegar até a última página. Por isso, deixo por sua conta e risco se aventurar nas palavras de Shirley Jackson por meio de A Loteria e Outros Contos.

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