Member Reviews
1000 Anos de Alegrias e Tristezas, mais que um livro de memórias, é um mergulho na história da China sob o olhar de um artista ímpar.
Ai Weiwei construiu uma sólida carreira e é um dos mais aclamados artistas chineses da atualidade. Pintor, escultor, arquiteto, usa os mais diversos materiais em suas criações.
Foi um dos idealizadores do icônico estádio Ninho de Pássaro, inaugurado na Olimpíada de Pequim, a mesma Pequim que baniu por muitos anos seu pai, impedido de permanecer na cidade até mesmo para fazer tratamento médico.
Ai Weiwei se viu, desde muito pequeno, atingido pela opressão política instaurada por Mao Tsé Tung e pelas contradições culturais de seu país.
A primeira parte do livro, além de abordar vários aspectos históricos mais remotos, se debruça sobre a trajetória de seu pai, Ai Qing, um professor e poeta que foi duramente perseguido durante a instauração da República Popular da China e da Revolução Cultural.
Considerado inadequado e perigoso, seus textos foram banidos, assim como ele próprio, que chegou a ser exilado na chamada "pequena Sibéria".
As condições de vida, neste período eram precárias demais, afetando toda a família, mas nada esmoreceu os ideais de seu pai e alguns relatos são realmente pungentes.
Já a segunda parte do livro tem um caráter mais pessoal e acompanha o crescimento e amadurecimento de Ai Weiwei, como ser humano e como artista. Os caminhos que trilhou, suas interações com outros artistas, a mudança para Nova Iorque, os circuitos de arte nos EUA e Europa, as perseguições que sofreu, o período em que esteve preso.
O livro é ótimo e durante toda a narrativa reforça os ideais herdados de seu pai.
Liberdade para criar.
Usar a arte em defesa dos Direitos Humanos.
No carrossel selecionei algumas de suas obras, impactantes e contestadoras.
"Os direitos que luto para defender devem estar disponíveis para ser desfrutados por todos, mas quaisquer consequências adversas recaem somente sobre mim. Ter consciência disso me dá força mental."
-----
Mil anos de Alegrias e Tristezas
Ai Weiwei
384 p
Companhia das Letras, 2023
Recebido em parceria