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Durante a pandemia, li o primeiro livro da Fabiane Guimarães, Apague a luz se for chorar, e adorei. Por isso, quando eu vi que ela tinha lançado um novo livro, já fiquei com vontade de ler!
Como se fosse um monstro conta a história da Damiana, uma jovem de família muito pobre, que saiu de sua cidade natal para ir pra Brasília ser empregada doméstica. Chegando lá, ela nota um movimento estranho na casa, um entra e sai de mulheres, e o casal também com uma relação meio esquisita... até que ela descobre que os dois estão procurando uma barriga de aluguel. E quando oferecem pra ela essa “vaga” (apesar de considerarem que a cor dela não era adequada, porque ela era um "pouco escura"), ela aceita por causa do dinheiro. A partir daí, a vida de Damiana muda completamente. Ela, que era tão ingênua a ponto de nem saber como se fazem os bebês, é obrigada a amadurecer rapidamente, lidar com sentimentos conflitantes e uma realidade fora da legalidade. Depois dessa primeira gravidez, vem outras, já em uma organização clandestina.
Uma reflexão poderosa sobre os corpos femininos, a vontade ou não de ser mãe, tomar decisões difíceis e se responsabilizar por elas. Também, o quanto uma bela grana pode mudar a vida de muitas pessoas, uma família inteira!
Os dois livros da Fabiane tem uma leitura muito fluida e são bem gostosos de ler apesar dos temas, que eu considero um pouco pesados. Ela é muito direta, mas conta tudo com leveza e humanidade. Gostei bastante dos dois!
Antes de começar a falar de “Como se fosse um monstro”, tenho de falar de “Apague a luz se for chorar”, o primeiro livro de Fabiane Guimarães. Quando o li, em 2021, gostei muito da trama, muito mesmo. Mas também foi um livro que cresceu em mim, e quanto mais pensava sobre, mais gostava – ao ponto de colocá-lo atualmente em linha lista de 10 livros nacionais favoritos de todos tempos. Então claro que quando vi sobre a publicação de “Como Se fosse um Monstro”, soube que ia lê-lo, sem a menor sombra de dúvidas.
Minhas expectativas estavam no alto e, para meu deletei, este livro as superou. Uma história sobre mulheres, escrita por uma mulher, falando sobre tráficos de bebês que aconteceu em Brasília na década de 1990 (sei que para muito de vocês, parece ter sido há muito tempo) e que quase ninguém se fala sobre atualmente. A própria Fabiane deu uma entrevista e falou sobre o livro e sua inspiração e que completou a minha leitura de sua mais nova obra. E agora aqui estou, apaixonada por um livro feito pra mim – e para todas outras mulheres aí fora.
Ser mulher. Ser mãe. Duas coisas distintas que parecem estar profundamente ligadas, intrínsecas. Será que toda mulher que pode ser, deseja ser mãe? Será que toda mulher que pode ser, deve ser mãe? Será que esse instinto materno realmente nasce junto com vísceras? Toda mulher realmente precisa desejar e ansiar ser mãe? São tantas perguntas que algumas mulheres se fazem em determinada altura de suas vidas que não há como começar a enumerar, e é assim que “Como se fosse um monstro” ressoou em mim: expectativas sobre o papel de uma mãe e a realidade de que algumas mulheres podem ser mães, mas não desejam ser.
Não há como se falar sobre este livro sem dizer que a autora, Fabiane Guimarães, conseguiu falar sobre o universo materno e o papel da mulher (o esperado e o real) de uma forma tão delicadeza que me espantou, mesmo em uma história tão visceral e real. Em uma narrativa que realmente prende o leitor e o cativa desde o começo, conhecemos Gabriela, uma jornalista Argentina que mora no Brasil há anos e que está prestes a começar a entrevistar Damiana, mulher que veio ainda muito nova do interior do Goiás para a capital Brasília. Nesta entrevista que demorará alguns dias, Gabriela procura saber mais sobre a vida da mulher mais velha, sem ainda entregar ao leitor qual realmente é seu intuito – e você, que lê, sabe que há algo mais por trás daquela conversa.
Damiana veio do interior, de uma família repleta de filhas e um pai assassinado, jogando a família em uma pobreza avassaladora. É assim que Rosimara, mais conhecida como Rose, uma prima, vem de Brasília até a família e leva Damiana para ser doméstica de um casal – e aqui fica a vergonha de algo assim ter sido considerado uma prática “comum” em nosso país. Crianças, pré-adolescentes, adolescentes e jovens mulheres deixavam a vida que conheciam em cidades pequenas, em roças e fazendas, para tentar fugir da miséria através de empregos como domésticas em cidades maiores. Atraídas por promessas, grande parte dessas mulheres nunca sequer chegaram a ter uma chance de conseguirem juntar o dinheiro que acreditavam que conseguiriam. Com diversos desfechos, algumas dessas mulheres se casaram e tiveram filhos, outras se tornaram reféns de famílias e vemos na televisão serem resgatadas hoje em dia.
Mas, no caso específico de Damiana, assim que chega a grande casa dos seus patrões Daniela e Érico, ela entende que o casal está a procura de algo mais: mulheres entram e saem sendo entrevistadas, uma colocação que parece nunca ser preenchida. Até que um dia os patrões oferecem a jovem o que realmente desejam e estão dispostos a pagar quanto for: um filho. Damiana pode ser a barriga de aluguel do casal.
Em um mundo onde sempre querem colocar as mulheres em um lugar pré-definido, Damiana navega por uma gravidez que não desejava, mas aceita procurando melhores condições de vida pra ela e para sua mãe e irmãs que ficaram no interior. A escolha pareceu fácil para a jovem, mas a verdade é que passar por uma gravidez trouxe muito mais do que esperava, como, por exemplo, a proximidade com o casal que, quando a olhava, vê o filho que ainda não nasceu. Enquanto Damiana vai contando sua vida e a experiência desta primeira gestação, vamos também conhecendo mais Gabriela, a ouvinte da mulher. Criada por dois pais amorosos e tendo uma vida financeiramente estável, se mudou para o Brasil atrás de respostas que procurava sobre seu passado. Agora, por volta dos 30 anos, Gabriela se encontra em um lugar de sua vida no qual se permite fazer uma escolha significativa sobre seu futuro e o que deseja para sua própria vida.
Voltando para a história de Damiana, após da entrega do bebê, termina conhecendo Moreno também através de sua prima. Homem intrigante e com um certo “que” de mistério, Moreno procura mulheres para trabalharem como barriga de aluguel em um esquema muito mais sofisticado do que o que Érico e Daniela ofereceram a Damiana. Levada pelo término do dinheiro que lhe fora dado como pagamento de sua primeira experiência, a mulher decide aceitar mais uma gravidez – e uma terceira, quarta, quinta e sexta, quando sua vida muda drasticamente ao conhecer um determinado homem. Joaquim era um motorista de Moreno que toca em lugares que Damiana sequer sabia ter – ou esperava ter.
A forma como a narrativa nos mostra que não há uma fórmula femina para cada mulher beira a perfeição. Claro que falando assim, parece óbvio que cada mulher tem uma experiência com o desejo de ser mãe ou com sua gravidez, ou até mesmo a falta deste desejo de ser mãe, mas, também é óbvio que não é isto que esperam das mulheres em um geral. Sempre há uma cobrança sobre quando os filhos virão ou se estamos ficando velhas demais para gerarmos ou adotarmos uma criança – sempre há uma pressão sobre as mulheres no quesito maternidade, e normalmente as mulheres já são mais cobradas do que os homens. Sempre.
Damiana e Gabriela são mulheres. Mulheres diferentes, com passados familiares diferentes, com expectativas de vida diferentes, mas, ainda assim, seus caminhos se cruzam para se conhecerem e terem algumas respostas sobre suas vidas. Duas mulheres tão diferentes e com sentimentos tão parecidos em alguns pontos, capazes de fazer o leitor se afeiçoar as duas de uma forma enternecedora, e quando, a certa altura da trama, Damiana pede a Gabriela que não a descreva como um monstro, você a compreende e também deseja que Gabriela não a veja como um porque Damiana não é um Monstro. Gabriela não é um monstro. É ninguém pode julgá-las como um.
Muitos livros têm abordado a maternidade e eu mesma tenho trazido várias indicações e resenhas de excelentes livros sobre o tema, mas nada me preparou para Como se fosse um monstro, de @fabicguimaraes recebido em parceria com a @companhiadasletras
Fugindo de relações de amor ou ódio entre mães e filhos - que costumam ser as abordagens mais comuns - aqui temos um olhar sobre a maternidade que beira a indiferença, se formos observar o ponto de vista da protagonista e do núcleo que a cerca.
Damiana é a mais velha de 8 irmãs, com quem vive no interior de Goiás, com a mãe, abandonada pelo marido. A vida é duríssima e quando uma prima oferece a ela a oportunidade de trabalhar como empregada doméstica em uma casa luxuosa em Brasília, morando no emprego, ela aceita e embarca em uma viagem que mudará sua vida.
Muito jovem, pouco mais que uma menina, ela acaba recebendo uma proposta tentadora financeiramente, para ser barriga de aluguel de seus patrões. Preocupada com sua mãe, que precisa urgente de tratamento médico, ela aceita.
A partir desta primeira gestação, Damiana não será mais dona de seu corpo e de sua vida e vamos acompanhá-la, dividida entre gestar, parir e se recuperar para hospedar a próxima encomenda.
Uma rede de comércio e tráfico de bebês cerca Damiana que, muito ingênua, somente com o tempo vai descobrindo outros desdobramentos.
Muitas questões emocionais e éticas permeiam a narrativa e a autora sabe conduzir com muito cuidado e delicadeza as implicações de cada decisão, tanto dos futuros pais, desesperados por ter filhos que não conseguem gerar, quanto das mães de aluguel, que nem sempre conseguem se separar sem traumas dos bebês gerados.
Vamos conhecendo a estória de Damiana através de seus relatos à jornalista Gabriela, que resolve escrever um livro sobre sua vida.
Gabriela recentemente passou por uma gravidez indesejada e interrompida e tenta processar seus próprios sentimentos.
O plot no final é algo.
Recomendo muitíssimo.
Gabriela, jornalista, entrevista Damiana, uma mulher humilde, que participou de um esquema ilegal de barriga de aluguel, entre as décadas de 80 e 90. Através das histórias de ambas as mulheres, a autora aborda com maestria temas importantes, como, o direito sobre o corpo feminino, o desejo de ser mãe e como a pobreza leva várias mulheres a venderem seus corpos, para que pessoas ricas possam concretizar o sonho de ter um filho.
Apesar de ser um livro curto, com apenas 160 páginas, Como Se Fosse Um Monstro, apresenta ao leitor um enredo potente e complexo, sobre um tema pouco debatido no Brasil. Atualmente, é crime ser barriga de aluguel no país, somente sendo permitido no caso de ser um ato voluntário. Porém, é de conhecimento geral que mulheres vendem seus corpos para tal procedimento no Brasil.
Foi meu primeiro contato com a autora e com certeza irei ler outros livros que ela já tenha publicado ou que venha publicar. Gostei muito da sua escrita e da forma como ela desenvolveu o enredo. Em poucas páginas já tinha me conectado aos personagens e sido fisgada pela história criada pela autora. Super recomendo a leitura!
Com seu gravador, bloco de notas e várias perguntas a serem respondidas, a jornalista de origem argentina Gabriela Suertegaray segue em busca de preencher uma pauta sobre o escândalo na década de 90 envolvendo barriga de aluguel e contrabando de bebês.
É com essa motivação jornalística que a jovem então se encontra com a personagem principal da pauta: Damiana, uma mulher madura, de criação simples, humilde e que desde cedo foi trabalhar para uma família de classe alta como empregada doméstica a fim de contribuir na renda de casa. Mensalmente, com a ajuda de sua prima Rose, praticamente todo o dinheiro ganho era enviado para o interior.
Como as condições financeiras não eram muito boas na época, Damiana recebe uma proposta invasiva: gerar um filho para os patrões em troca de uma quantia considerada de dinheiro. Com a expectativa de mudança de vida, é então que ela aceita, mas sem entender bem todos os trâmites desse processo que é gerar uma vida e logo em seguida ter que ceder a outros.
Acompanhamos então, por meio das informações coletadas por Gabriela, os sentimentos e o relato das gestações que Damiana passou e um sistema mafioso de contrabando internacional de bebês financiado por gente extremamente rica, além de um afeto no meio do seu percurso de ser um transporte para outros.
'Como se fosse um monstro', segundo romance de Fabiane Guimarães que a editora Alfagura lança, é um livro sobre as oportunidades que a vida oferece e também nos mostra que as circunstâncias de uma vivência, seu contexto social e cultural moldam as escolhas que, na maioria das vezes, são tomadas pelo impulso da necessidade, seja financeira ou de afirmação pessoal.
Damiana, apesar de no presente narrado ser uma personagem adulta, a princípio ela foi de muita ingenuidade, encantada com o novo, com as perspectivas que o dinheiro traz e a possibilidade de viver com qualidade de vida, nos fazendo refletir sobre o peso da maternidade; para algumas mulheres trata-se de uma graça divina, embora para outras um fardo a ser carregado sem apego emocional e o que chamam de instinto materno. No caso de Damiana um imbróglio que ao passar, apesar dos estragos de ter um corpo como incubadora, trata as bênçãos que o dinheiro compra.
Além disso, o poder que muito dinheiro traz para alguns. Homens com suas necessidades de validação masculina, a frequente sensação de acharem que podem tudo apenas sacudindo um talão de cheque branco para aqueles necessitados como um adestrador oferecendo petiscos ao seu cãozinho.
A obra é enxuta, sem grandes rodeios ou proximidades com ritmo e fluidez agradável. A autora entrega aos poucos detalhes que vão moldando no leitor que pode ter uma visão do desfecho final antes do tempo, porém, traz uma informação que complementa a reflexão sobre maternidade.
Uma obra para se atentar à nova literatura contemporânea brasileira e para acompanhar a evolução da Fabiane Guimarães desde 'Apague a luz se for chorar', podendo interessar aos leitores de 'Os sete maridos de Evelyn Hugo' (Taylor Jenkins Reid, Ed. Paralela, 2019), por trazerem a relação envolvendo jornalista e fonte, mesmo que tenham contextos extremamente distintos, aqui bem mais do anonimato e a pobreza.