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Cinco dias... até a família, colegas e escola darem falta de Bahadur, de 10 anos.
Bahadur era muito quieto, devido a timidez e gagueira. Apesar de esperto, passava despercebido e costumava se ausentar sem que ninguém percebesse. Sua mãe precisou ficar alguns dias fora e, quando retorna, não o encontra. Começa, então uma busca pelo menino.
Mas não pensem que a polícia se mobiliza na busca. Bahadur vive em uma favela com sua família e a polícia não está preocupada com eles.
Não só Bahadur era invisível, mas toda a comunidade e, se reclamarem muito, ainda correm o risco de serem expulsos de suas casas precárias.
O menino Jai, então, resolve formar uma força tarefa com Pari e Faiz, seus colegas de escola, para investigarem o desaparecimento. Eles se acham preparados já que adoram acompanhar estórias policiais pela TV. Mas encontram muito mais dificuldades do que esperavam.
E pior, começam a acontecer outros desaparecimentos, todos de crianças e adolescentes da favela.
E a polícia?
Nem ai.
O início do livro demorou um pouquinho para engrenar, mas foi ganhando força narrativa e me envolvi cada vez mais.
A autora nos apresenta um belo contexto cultural da Índia, com suas contradições, desigualdades sociais, a sombra das castas, o preconceito, muito voltado aos muçulmanos, o descaso com as comunidades mais desfavorecidas e a reverência das autoridades aos mais privilegiados, considerados acima de qualquer suspeita pois, afinal, são ricos e educados.
Me emocionei muito com as crianças e suas famílias, tão esquecidos, tão frágeis e, ao mesmo tempo, tão fortes.
Recomendo muito a leitura, porque é uma estória profunda, com muitas camadas e porque nos dá a oportunidade de conhecer um pouco mais deste país, tão fascinante.
Atualmente a Índia é o país mais populoso do mundo e é um trabalho hercúleo (mas necessário) oferecer condições dignas a todos.
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Os detetives da Linha Púrpura
Deepa Anappara
376 p
Companhia das Letras, 2023
Diferente do que estou acostumada a ler, mas muito bom. Porém, havia me enganado e achei que o livro ia para um caminho de fantasia, e não para realismo. A fantasia está só na cabeça e nas teorias das crianças, os detetives da Linha Púrpura, que buscam descobrir o que aconteceu com colegas e conhecidos que desaparecem sem deixar rastros na favela que vivem. Apesar de se passar na Índia, podia muito bem se passar em algumas cidades do Brasil, o retrato da pobreza e da polícia corrupta são semelhantes demais à nossa realidade. Conhecer os meandos, as gírias e os costumes da Índia, mesmo que apenas desse pedacinho de um país enorme, foi delicioso.
Gostei muito desse livro, um suspense protagonizado por crianças da idade da minha filha! Em vários momentos fiquei pensando se ela seria capaz de fazer essas coisas (mas também pensei que eu ia ficar enlouquecida se ela fizesse). É desesperador saber que é baseado em uma situação muito frequente na Índia, o desaparecimento de crianças e adolescentes. Segundo Deepa Anappara, jornalista e autora do livro, no país 180 crianças/adolescentes desaparecem diariamente. Para fazer uma comparação, no Brasil em média dez crianças/adolescentes somem por dia.
Quando um colega de Jai, um garotinho de 9 anos, desaparece, seus pais procuram a polícia mas, como são pobres e moram numa grande favela, não são levados à sério - além de sofrerem extorsão. Chateado com essa falta de ação e fã de um programa investigativo de televisão, Jai chama mais dois amiguinhos e resolvem procurar por conta própria. Já dá pra imaginar que a gente dá algumas risadas, porém sofre com medo do que vai acontecer com essas crianças tão espertas e maluquinhas. O livro retrata também a vida difícil dessas pessoas, que têm subempregos, vivem em barracos sem infraestrutura nenhuma e ainda morrem de medo das ameaças das "autoridades", que dizem que podem colocar a favela abaixo a qualquer momento.
É uma história cheia de aventura e emoção, vai fazer você torcer muito pelas crianças, mas também vai fazer a gente pensar nesses casos horríveis, já que a autora recheou o livro com dados concretos da Índia.
Os detetives da linha púrpura: uma imersão na infância nos bastis da Índia
A autora traz, através da voz do menino Jai, de nove anos e fã de séries políciais, um retrato da vida nos bastis ( estruturas similares a favelas) da Índia.
Crianças e adolescentes começam a desaparecer no basti onde Jai vive, e a criança, aliada a seus dois amigos, pretende investigar o que aconteceu a essas vítimas. O mistério se une às aventuras, o descaso das autoridades se une ao desespero das famílias; é a narrativa se torna cada vez mais fluída e viciante.
Deepa Anappara consegue retratar uma situação de miséria e, ao mesmo tempo, denunciar uma ocorrência bastante comum de tráfico de crianças na Índia.