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Imagina uma família ser capaz de m@tar a própria filha, queimada viva, por conta de fan@tismo religioso, achando que o fogo fosse "purificar" a jovem.

A chegada da polícia ao local onde aconteceu o crim3 dá início à narrativa de Caminhando com os mortos, de Micheliny Verunschk.

A autora, mais uma vez, usa sua literatura para dar voz àqueles que são vítimas de abu3o, exploração, preconceito e violenci@, como já havia feito em seu livro anterior, O som do rugido da onça.

Micheliny sabe como ser contundente quando se trata de expor a hipocrisia dos detentores de poder, seja familiar, político, econômico ou religioso, quando aqueles que deveriam espalhar amor e gentileza, tornam-se manipuladores da fé de comunidades desavisadas e vulneráveis e usam esta fé para espalhar terror.
Em uma entrevista, a autora afirma que se baseou em uma história real, o que torna tudo muito mais sórdido.

A narrativa tem flashbacks, onde vamos conhecendo um pouco da trágica história desta família, bem como a chegada do pastor a esta pequena e carente comunidade rural e toda a intransigência e fanatismo que vai espalhando.

A narradora principal é a perita criminal, nascida no lugarejo, que retorna agora, e vai lembrando e compartilhando conosco muitos outros crimes ocorridos por anos a fio, sejam feminicídios, crimes sexuais ou ainda gerados por homofobia.

Talvez este excesso de informações, abordando várias faces da violência e tantos crimes, tenha tirado um pouco o foco da questão do fanatismo religioso, que tanto mal tem causado, onde quer que se instale, mas não podemos ignorar a força da autora e a importância dos temas abordados.

Micheliny escreve maravilhosamente bem e, se em alguns casos, sua escrita poética deixe a leitura um pouco menos fluida, ao menos ela ameniza um pouco a aridez do tema.

Um livro muito necessário, que recomendo e que gera muitas reflexões e boas discussões, como as que tive, no último sábado, com meus amigos, participantes do Clube de Leitura @clerpbookclub

Esta semana soube que ele é um dos semi finalista do Prêmio Oceanos.

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Essa é uma premissa aparentemente simples, mas que esconde muitas camadas... coisas que assustam, enojam e revoltam; e faz isso porque é tão real, pode acontecer, e realmente acontece em vários cantos, não só do Brasil, mas do mundo.

É perturbador demais perceber o quanto a igreja influencia, e muitas vezes para o mal; enquanto pregam o amor, a união e etc. na prática fazem tudo o contrário, só julgam, apedrejam e viram a cara para aqueles que não seguem "a lei". 

E a escrita da Micheliny é tão crua, vai tão direto ao ponto, que a história fica ainda mais pesada e palpável, parece que estamos vivendo tudo junto aos personagens. Personagens esses que são extremamente reais e bem construídos assim como as ambientações.

Eu amei ler mais essa obra da autora e recomendo demais, mas só para quem tiver estômago e psicológico fortes, pois ela é recheada de gatilhos pesadíssimos.

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Esse livro não tem uma narrativa clara, não tem um fio condutor e não faz sentido nenhum.
Tem muitos trechos interessantes, que fazem crítica ao fanatismo religioso, por exemplo, e outros que falam brevemente de homofobia, transfobia, feminicídio e outras violências no geral - e que eu defendo que deveriam ser melhor desenvolvidos. Mas infelizmente tudo isso fica perdido dentro de um texto que não é coerente. Não se sabe qual é o principal acontecimento da história, o narrador não fca claro - é um observador? é um personagem? é um narrador onisciente?
E o que mais me incomodou: o texto todo parece que tenta ser profundo o tempo todo, tenta ser poético, mas além de não ser anda disso, ele acaba não fazendo sentido nem dentro do mesmo parágrafo, que dirá no conjunto da obra.
Podia ser um belo retrato do Brasil, mas para mim, não funcionou.

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As consequências do fanatismo religioso

Sabe aquela história de livro curtinho, porém gigante? É o caso desse livrinho da Micheliny Verunschk. Confesso que no começo achei tudo meio confuso, os pulos no tempo entre presente e passado, mas logo a gente se encontra no texto. A autora critica abertamente o fanatismo religioso, como as pessoas simplesmente perdem a crítica e seguem cegamente preceitos que são duvidosos, interpretações bastante mundanas dos escritos religiosos, e como praticam a violência sem nem pensar naquele outro ser humano, tudo "em nome de Deus".

Fiquei bastante incomodada com a leitura, pela violência mesmo, por achar tão absurdo tudo que acontece ali e principalmente por saber que a vida real é assim mesmo. Micheliny mistura a realidade com a ficção, assim como fez no Som do rugido da onça. Livro muito bom!


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Fiquei impressionada em como Micheliny Verunschk conseguiu conduzir a história. De uma escrita fácil e ao mesmo tempo completa, não cansa o leitor e consegue oferecer as informações aos poucos, sem deixar uma sensação de angústia ou pressa para se chegar ao final da história.
O cuidado de mostrar a realidade de uma região e de um povo que são pouco vistos por uma parte das pessoas, acaba trazendo a revelação de como é a (sobre)viver em locais que, algumas vezes, podem ser negligenciados e esquecidos pelo Estado, acabando que algumas outras instituições mostrem uma certa autoridade que nem deviam ter sobre o povo.
A violência vem de todos os lugares mesmo.

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Por ja ter lido outra obra da Micheliny anteriormente, eu sabia que este livro seria fora da minha zona de conforto, e que, mesmo assim, seria uma leitura marcante. E foi exatamente o que aconteceu.

"Caminhando com os mortos" tem um tom assustador, porque retrata algo muito próximo à realidade de muitos leitores: fanatismo religioso, o conservadorismo, e os traumas de uma geração de mulheres que são apontadas, ainda hoje, culpadas pelas falhas dos seus relacionamentos.
Há temas muito bem trabalhados nessa trama, que se alterna entre passado e presente. Embora não seja meu estilo preferido de narrativa, a escolha fez muito sentido para a história contada. Micheliny escreve de um modo sutil, mas ainda assim impactante, que prende e cativa o leitor - não é à toa que suas obras são premiadas, seus textos tem muita qualidade.

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Ninguém investiga nossos mortos na ficção contemporânea brasileira como a Micheliny Verunschk. Se em O som do rugido da onça o olhar se voltava para as violências do passado, em Caminhando com os mortos a atenção recai sobre a intolerância religiosa e as vítimas do presente.

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Em Caminhando com os Mortos vemos o desenrolar de um crime brutal. Uma mulher foi queimada viva, pelos pais e irmão, que acreditavam estar purificando-a de seus pecados. Esse livro aborda os temas da intolerância e fanatismo religioso.

Somos apresentados a essa história sobre diversas perspectivas. Conhecemos a história da moça assassinada, a de sua família e do local onde tudo aconteceu.

Uma região muito pobre, na qual seus moradores vivem à margem da sociedade, sem a atenção do poder público e sem perspectivas de melhora, de repente vê ser construída na localidade uma imponente e bela igreja, com pastores que escutam e prestam atenção a esse local esquecido.

A partir disso, situações de intolerância religiosa passam a se tornar frequentes na região. Uma moça volta para visitar a família. Os familiares buscam a todo custo convertê-la, porém ela discorda de suas novas crenças, o que culmina no seu brutal assassinato.

A autora aborda um assunto muito pertinente para o momento atual do Brasil, porém as múltiplas perspectivas e prosa poética da escritora, me deixaram confusa e me vi em diversos momentos da história sem entender quem era o narrador da história.

Apesar de não ter sido uma boa primeira experiência com a autora, quero ler outros livros dela e recomendo a leitura, pode não ter funcionado para mim, mas pode ser uma ótima leitura para outras pessoas.

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Micheliny Verunschk vem com romance novo; mais uma vez trazendo através de sua linguagem poética a brutalidade da nossa realidade.
Desta vez, o foco no fanatismo religioso vai mostrar a morte de Celeste, queimada viva pela própria família para se tornar uma “moça de bem”.
A autora tem o dom de trazer a voz de diversas mulheres e todo o sofrimento desses narrativas que cobrem todos os nomes e lugares, de um Brasil que julga através da visão do que é considerado correto para quem não se adequa aos padrões da normalidade. Mais um livro de Micheliny que chega para desconstruir os alicerces dos “bons costumes”.
“Nesta terra sempre se acha a bruxa certa para supliciar”.

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Estar em uma sociedade inevitavelmente religiosa como a brasileira faz com que muitas coisas passem despercebidas em frente aos nossos olhos. Faz com que a crueldade em nome de um ser maior seja facilmente ignorada e a culpa seja jogada inteiramente na obra de um ser mitológico criado justamente para isso - para não dar a responsabilidade para os verdadeiros culpados.

'Caminhando Com os Mortos', mesmo sendo ficção, serve como uma espécie de denúncia acerca da manipulação religiosa conservadora latente no país.

Enquanto uma onda conservadora cresce, as mulheres queimam, somem, são enterradas no quintal de casa e os verdadeiros culpados pela manipulação que leva a isso nunca são responsabilizados porque existe um ser mitológico que pode levar toda a culpa sempre. É quando essas mulheres queimam que os verdadeiros culpados crescem. É enquanto eles crescem que a busca por uma solução para esses crimes diminuem.

Micheliny Verunschk escreve sobre esse descarte de tudo que não é considerado bem visto pela religião de maneira que transporta o leitor imediatamente para o local e, por mais assustador que isso seja, dá muito certo.

Dá certo porque a raiva que sentimos é pra ser sentida, a indignação, a tristeza, o choque e até mesmo o perdão por tudo que acontece apenas por uma manipulação em momentos de fragilidade é sentido exatamente da maneira e no momento em que é para ser assim

São histórias que se conectam porque uma grande parcela do Brasil - infelizmente - já se viu em uma situação de intolerância e manipulação religiosa que remete àquilo.

'Caminhando Com os Mortos' é um livro para ficar de olho, uma grande peça da literatura que faz tanta coisa em suas menos de 200 páginas que até nos momentos mais monótonos consegue transportar o leitor para a fluidez da sua história mesmo quando o choque é muito grande.

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