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Murakami, em Primeira pessoa do singular obviamente fala de si mesmo.
Em oito narrativas/contos ele nos fala de encontros, desencontros, descobertas, de seus primeiros amores, de seus estudos e, claro, tudo mesclado com um toque de mistério e fantasia porque, afinal, se trata de Murakami.
A leitura foi muito prazerosa. Senti muita melancolia em sua escrita. Aquela sensação que temos quando recordamos fatos ocorridos a algum ou a muito tempo e que, invariavelmente são contaminados por nossas percepções atuais.
Algumas lembranças se apagam ou se esvanecem, mas quem nunca manteve algumas lembranças que parecem cada vez mais vividas com o passar do tempo. Ou seremos nós que as super valorizamos, por terem sido tão marcantes quando aconteceram que fazemos de tudo para preservá-las, como a menina com quem ele cruzou uma única vez nos corredores da escola abraçada a um disco dos Beatles e se tornou seu ideal romântico desde então, mesmo sem terem trocado uma palavra sequer.
"O mais estranho de envelhecer não é eu estar envelhecendo. O fato de eu, que um dia fui um menino, de repente me encontrar na idade chamada de velhice. O que mais me surpreende é perceber que as outras pessoas da minha geração agora são velhas — em particular, a realidade de que as meninas belas e cheias de vida com quem convivi já podem ter agora uns dois ou três netos."
Algumas das paixões do autor voltam à tona, em especial seu amor pela música, sempre onipresente.
Uma das histórias é sobre o primeiro artigo que ele escreveu, inventando o lançamento de um novo disco de Charlie Parker, dedicado à Bossa Nova e todas as confusões geradas.
A memória prega peças em todos nós, incluindo Murakami.
Um belo livro.
Se em seu livro anterior, Abandonar um gato, suas memórias eram ligadas ao seu pai, aqui temos algo muito particular, que o autor generosamente compartilha conosco.
"Em certo sentido, a morte de um sonho é mais triste do que a morte de algo vivo."
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Primeira Pessoa do Singular
Haruki Murakami
168 p
Editora Alfaguara, 2023
Apesar das problemáticas sobre a escrita de suas personagens femininas e a importância delas na vida dos seus narradores masculinos, onde o autor já comentou em entrevista com a escritora feminista Mieko Kawakami - também sua fã - que vê seus personagens pela humanidade, ao invés de apenas seu gênero, Haruki Murakami ainda me conquista com seu realismo mágico que parece mais uma “fritação literária” ou um sonho muito louco, onde provavelmente faria completo sentido o que questionamos.
“Primeira Pessoa do Singular” entretanto foi uma das suas obras que menos gostei e que mais reforçou o que eu já refletia sobre o autor: são narrativas originárias da vivência dele, algo que seria muito difícil de repensar quando se é um autor japonês consagrado que teve diversas experiências pessoais e culturais durante as décadas.
A obra é a publicação de contos mais recente do escritor japonês no Brasil. Lançado em Maio de 2023 pela editora da Alfaguara, selo da Companhia das Letras, é composto por oito contos que leva como título o último conto da obra e retrata em primeira pessoa diversas situações que nos levam a questionar até que ponto a vivência do escritor se traduz com as verdades da obra.
Em 168 páginas somos embalados por discos de vinis de Jazz e música clássica, bares em locais esquisitos, personagens solitários e estranhos, além de claro os gatos que são referências tão comuns nas narrativas do autor.
Apesar de quase não temos contos com realismo mágico nessa coletânea, acredito que o me fez dar a pontuação de 2 estrelas e meia seja deviado aos dois contos que achei super interessantes: o “With the Beatles”, conto em que o personagem tem uma breve paixonite por uma colega do colégio que carrega o álbum dos Beatles de mesmo título e entre lembranças do lançamento do disco, ele se recorda desta colega e descobre qual foi seu destino anos depois; e “A Confissão do Macaco de ShinaGawa”, o conto de realismo mágico que mais me envolveu, onde um macaco falante é atendente de uma hospedaria e por não poder se relacionar com mulheres humanas, ele rouba seus nomes e as fazem esquecer como se chama. Este último é a pura fritação murakamiana, deixando até seu personagem questionar de estar em um sonho febril (fever dream).
A este livro dei uma pontuação considerada bem baixa, pois partindo da possibilidade da obra ter sido escrita a partir da vida do autor, me senti em alguns contos como se estivesse entre um grupo de amigos homens adolescentes dos anos 90/2000, que sentem-se a vontade para usar termos pejorativos sobre mulheres ou associar situações de objetificação feminina a personagens masculinos com uma ironia incômoda. Acredito que o livro tenha um apelo mais positivo entre seus leitores homens com um pensamento mais parecido ou para as pessoas que gostariam de entender a diversidade da mente e do catálogo de obras murakamiano para que possam decidir por qual narrativa explorar do autor.
Agradeço a Companhia das Letras por disponibilizar uma cópia digital e física para leitura e escrita dessa resenha.
Não li ainda muita coisa do Murakami, mas cada vez que leio algo dele tenho mais curiosidade de conhecer a escrita dele cada vez mais, mesmo que algumas coisas me desagradem ainda assim a vontade ainda existe. Como são contos simples e alguns bem divertidos (e fantasiosos) minha recomendação fica para você que quer conhecer o autor, contos sempre são a melhor porta de entrada para se conhecer um autor.
📚 Livro da vez: "Primeira Pessoa do Singular", de Haruki Murakami.
🎼VÉ complicado resenhar livros de contos porque dificilmente todos têm a mesma qualidade ou despertam os mesmos sentimentos. Nos oito contos desse livro, o ponto de contato é o narrador em primeira pessoa, um homem claramente bem-sucedido e um tanto obcecado por música clássica e por si mesmo. Seria o alter ego do autor?
💭 O primeiro conto, "Sobre um travesseiro de pedra", é um dos mais interessantes, justamente porque o narrador cede um pouco de espaço em favor de uma poetisa misteriosa que conheceu na juventude. Em "Nata", a contraparte é uma musicista que de quem o leitor pouco chega a saber, que serve como pretexto para reflexões adolescentes sobre o sentido da vida.
🎷 "Charlie Parker Plays Bossa Nova" é bem-humorado. Em "With the Beatles" vemos novamente o narrador usar as memórias que guardou de uma adolescente para falar de si mesmo e de sua relação com a música.
🗣️ "Coletânea de poemas Yakult Swallows" é o mais intimista - e monótono - da coletânea. Em "Carnaval", de novo o recurso a uma mulher misteriosa para que o narrador possa falar de si mesmo.
🐒 "A confissão do macaco de Shinagawa" é o texto mais interessante do livro, de um absurdo surrealista e, ao mesmo tempo, convincente. "Primeira pessoa do singular" fecha o livro e também tem um tom surrealista, até mais forte que o anterior, mas o desfecho me agradou menos por acrescentar um elemento desnecessário a um sonho que já bastava por si.
❗ Em resumo: gostei muito de dois ou três contos, fiquei entediada em outros dois ou três. A leitura valeu a pena para ter um primeiro contato a obra do autor, e provavelmente buscarei um de seus romances no futuro, mas não estou com pressa.
De 1 a 5: 🍿🍿🍿