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Esse livro possui um mote muito bom: depois da esposa dizer que ele tem um defeito no nariz, o protagonista adentra num questionamento moral, social, e psicológico de si próprio. O começo da história possui uma intensidade que infelizmente não se sustenta depois. Logo ele perde o fôlego. Acho que é o caso de uma trama que ganharia muito sendo mais abstrata do que concreta. Mesmo assim, fui profundamente impactado por algumas de suas questões, então digo que ele vale à pena demais.

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Um, nenhum e cem mil nos apresenta a Vitangelo Moscarda, um homem ocioso de 28 anos de idade, dono de um banco que herdou de seu pai. Moscarda ignora seu próprio negócio, deixando-o para terceiros conduzirem, e vive confortavelmente com a renda. Uma manhã, sua esposa observa que seu nariz se inclina ligeiramente para a direita, e Moscarda fica atônito com a descoberta dessa falha que nunca foi capaz de perceber, desencadeando uma feroz crise de identidade. Subitamente, ele percebe que aquele homem no espelho é, na realidade, um estranho. Vitangelo, assim, começa a questionar suas muitas versões vistas pelas pessoas ao seu redor, bem como seu verdadeiro eu, e se torna obcecado com a dolorosa constatação de que ele é apenas o que os outros fazem dele.
E assim Pirandello nos faz perceber que a realidade é uma só para nós (um) , mas no momento em que percebemos que somos outra coisa ela se anula (nenhum) e depois se multiplica nas várias características criadas por aqueles que nos rodeiam (cem mil). Esse livro é genial e deve obrigatoriamente entrar na lista de leituras de todos vocês.
Essa edição linda da @penguincompanhia tem posfácio do Alfredo Bosi, e uma entrevista com o autor por Sérgio Buarque de Holanda, publicada em O Jornal, em 1927.

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"Um, nenhum e cem mil" é um dos meus clássicos favoritos e fiquei muito feliz quando vi que ele seria lançado pela Penguin, uma das coleções que mais amo. Neste livro curto, mas potente, seguimos Gengè, que se dá conta de que cada pessoa que o conhece o percebe de maneira diferente, e nunca da maneira como ele mesmo se enxerga, desencadeando uma crise existencial. Para mim, foi muito fácil me identificar com as "paranoias" do protagonista, e como sua visão de si mesmo é posta em cheque no momento em que alguém o rotula ou o descreve, de tal forma a produzir uma dissonância interna em Gengè. Eu sempre recomendo esse livro no meu bookstagram (@narrativasinfinitas) e vou continuar a fazê-lo.

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