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“coelho maldito” da sul-coreana Bora Chung, livro finalista do International booker prize, é a aposta do ano do mercado literário brasileiro.
a coletânea de contos que te prende instantaneamente mescla o folclore, o horror, a ficção científica e o realismo mágico em narrativas atuais perturbadoras. indo na contramão das narrativas ditas de “healing” ou “literatura de cura” que está ganhando espaço nas estantes dos leitores atualmente, como uma espécie de soft power sul-coreano, “coelho maldito” não procura uma pseudo cura em livrarias aconchegantes para o capitalismo predatório que acontece na coréia do sul. pelo contrário, o “coelho” escancara todas as complexidades e horrores que o avanço neoliberal ocasiona no indivíduo.
em que, em quase todas suas narrativas curtas, o indivíduo é a mulher. tratando de temas importantes para o debate feminista como métodos contraceptivos, controle social e o machismo com pitadas de horror perturbadores. têm narrativas que causam repulsa e, ao mesmo tempo, fascínio ao ler. como também de pensar em quão opressiva e transtornada é a vida de uma mulher, mesmo que ficcionalizada. contudo, a ficção está aqui para dizer melhor o que a realidade não pôde.
alguns dos contos tornaram-se meus favoritos rapidamente, outros nem tanto, o que é comum por ser uma compilação. narrativas de títulos “a cabeça”, “menorreia”, “adeus, meu amor” e “reencontro” são os que ficaram gravados na minha memória e que quando vejo o título me recordo instantaneamente. os excrementos na privada formando uma nova mulher, máquinas e inteligência artificial, gravidez e os traumas ocasionais e memórias traumáticas são os tópicos abordados com maestria sempre explorando com requinte a crueldade humana e da sociedade.
livro perfeito para os amantes de contos insólitos.
Excelente seleção de contos e tradução. Contos com uma temática que me agrada, capa bonita, e uma autora bastante interessante.
Qualquer amante de histórias de horror rendem-se ao deparar-se com essa capa e título. É um combo completo. Um convite irrecusável para aventurar-se em suas páginas. Fora esses quesitos, a oportunidade de ler pela primeira vez algo escrito por uma autora sul-coreana só fez dar mais certeza de sua escolha.
"Coelho Maldito" é uma coletânea composta por dez contos escritos por Bora Chung, onde ela usa o horror como ingrediente principal para transmitir sua ideia, mas vai temperando com pitadas generosas de realismo fantástico, surrealismo e críticas sociais. O mais legal é que essa mistura deu super certo.
“Não se deve produzir nem usar objetos de maldição para interesses pessoais. Essa era a regra da minha família, que vinha produzindo esse tipo de objeto havia gerações.” Posição 28
O ponto que mais me chamou a atenção, por incrível que pareça, não foram as cenas/situações exageradas, mas sim, as reflexões plantadas na minha cabeça através delas. Me surpreendeu a proximidade (tomadas as devidas devidas proporções) das cenas grotescas com nossa realidade. E, me deu medo em saber que falta pouquíssimo para chegarmos em algumas situações narradas por Chung (isso se já não extrapolamos algumas delas).
“- A culpa não é da princesa - uma voz grave soou pelo convés de ouro, fazendo as tábuas sob seus pés tremerem. - É possível desfazer uma maldição, porém não há como abrir os olhos de um homem cegado pela ambição. Eu já sabia que eles planejavam voltar à guerra.” Posição 2528
Como qualquer seleção de contos, uns acabam se destacando em relação aos outros, mas, olhando como um todo, não há disparidades entre eles. Considero que todos ficaram na média, e o resultado final foi satisfatório. Confesso que "Coelho Maldito", "A Cabeça" e "A Armadilha" me chamaram mais atenção.
Em relação a parte gráfica, a editora está de parabéns. A capa já foi elogiada por mim logo no começo dessa resenha, e a diagramação interna é simples e agradável aos olhos. Não encontrei erros.
Finalizo a resenha indicando aos leitores que apreciem contos de horror, mas que trazem reflexões interessantes sobre nossa sociedade atual.
sinto que este livro demorou muito pra chegar no brasil, ou chegar até mim. e isso causou um distanciamento na leitura muito grande. as histórias e temas utilizados, em muitos casos, eram coisas que eu já havia cansado de tanto consumir, como a onda de conteúdo à la black mirror.
mas o livro também se cansa por trabalhar com estruturas narrativas muito parecidas em contos seguidos, tornado a leitura previsível e, em alguns casos, apenas maçante.
o primeiro conto, que dá o nome ao livro, foi uma faca de dois gumes, pois é um dos melhores do livro, mas também determina um tom para todo o resto, que muitas vezes não é atingido.
os quatro últimos contos poderiam ser cortados, em especial o cicatrizes.
Vindo de alguém que não gosta muito de novelas, esta foi surpreendentemente (e repugnantemente) uma lufada de ar diferente das minhas leituras habituais.
“Coelho maldito” é uma coleção de contos de diferentes gêneros, mas todos perturbadores de uma forma ou de outra.
Da raiva ao choque, à raiva novamente e depois à tristeza, esta antologia o levará a lugares que você não pensaria que poderia alcançar, com apenas dois deles não sendo verdadeiramente traumáticos, mas apenas agradáveis.
Não tenho muita familiaridade com a literatura coreana, nem com outras obras de Bora Chung, mas os temas aqui discutidos são tão variados e bem narrados que não acredito que você não consiga encontrar algo do seu agrado.
Agradeço à Companhia Das Letras e à NetGalley, que me forneceram um exemplar deste livro em troca de uma opinião sincera.
Uma escrita direta, bonita, histórias profundas e perturbadoras, que me conquistaram. Tem muito material pra gatilho, alguns contos eu tive que pular, mas de modo geral, gostei muito da leitura e de conhecer a escrita da Bora.
Em coelho maldito o leitor irá encontrar 10 contos que irão incomodar, assombrar, causar repulsa e fazer com que reflita bastante enquanto lê. As histórias transitam entre o terror e a fantasia, encontramos histórias que abordam nosso relacionamento com a tecnologia, relacionamentos familiares e relacionamentos tóxicos.
Foi uma grande montanha-russa de sentimentos essa leitura, a autora nos mostra o caráter destrutivo do ser humano, sua ganância, sua soberba e critica a falta de autonomia da mulher na sociedade (seja no casamento, gravidez ou sua vida no geral).
Confesso que estava bastante empolgada pelas resenhas positivas que li sobre a obra, infelizmente gostei apenas de um único conto, conto esse que dá título ao livro. Contudo, foi uma leitura que me prendeu do início ao fim!
Um dos contos que me animou um pouco apesar de não ter gostado 100% dele, foi "Adeus, meu amor" que conta a história de um personagem que em algum momento se apaixonou por um dos seus androides, existe algo diferente nesse conto, você sente que algo está errado e não sabe exatamente o que é, até ser tarde demais.
Essa foi uma leitura mega impactante apesar dos pesares, alguns contos os assuntos nas entrelinhas são interessantes, mas no geral não me empolgaram tanto quanto coelho maldito. Mas, as metáforas grotescas e assustadoras fazem um bom trabalho nessa leitura, senão fosse assim eu teria largado o livro pela metade, mas acredito que vale muito a pena dar uma chance para a escrita da autora e suas reflexões.
Coelho Maldito é uma antologia com contos que transitam entre o terror, suspense e fantasia, e que, por trás dos elementos fantásticos, trazem reflexões muito pertinentes sobre a sociedade em que vivemos hoje, nossa relação com a tecnologia, com os outros seres humanos e com nós mesmos.
Apesar de serem contos bem distintos entre si - inclusive nos gêneros -, eu diria que o que todos os possuem em comum são as relações tóxicas - seja entre pais e filhos, entre maridos e esposas, e até entre vizinhos e colegas de trabalho. Coelho Maldito traz o horror na própria natureza humana, no quanto somos capazes de machucarmos uns aos outros - seja através da ganância (Coelho Maldito e A Armadilha), do trauma geracional (A Reunião), ou até mesmo do egoísmo de querer o amor de outro ser inteiramente para si, mesmo que isso custe a autonomia daquele que você ama (Adeus, Meu Amor).
É interessante ressaltar, também, o quanto Coelho Maldito é um reflexo do tempo e lugar onde foi escrito. Sendo uma obra contemporânea de uma autora da Coreia do Sul, a antologia não poderia fugir de temas urgentes na sociedade coreana atual, como o machismo, a falta de autonomia da mulher na sociedade - seja no casamento, na gravidez, ou na vida adulta -, e até perpassando pelo tempo e espaço, como nos contos de fantasia A Armadilha e O Senhor do Vento e da Areia, que são ambientados em tempos mais antigos, mas que igualmente trazem os sofrimentos e desafios da mulher como temas, em maior ou menor grau.
Uau, estou encantada com a edição e a história é daquelas eletrizantes que não conseguimos largar até o desfecho final! Simplesmente uma leitura incrível!
Essa coletânea de contos é um black mirror que foi bem escrito e fundamentado. O gore é presente em boa parte do livro mas não tem como objetivo apenas chocar, mas sim como elemento suporte da narrativa apresentada. Escrita fluída e com ritmo bom, não consegui parar de ler desde que peguei o livro hoje de manhã.
I think I found my new favorite author.
What a joy to find such a wonderful book. This is literally my type of book, well-written tales of horror, science fiction, magical realism, fantasy and a touch of nonsense. LOVE IT TOO MUCH!
I picked up this book casually, without knowing anything about it or the author. I was interested in knowing that they were short stories and also because of the beautiful cover. I was positively surprised by what I found in this reading.
10 very good short stories. 5 of them were 5 stars for me, and the other 5 were between 4 and 4.5. A very positive balance, right?
My favorites were: "Cursed Bunny", "The Head", "Goodbye, My Love", "Snare" and "Ruler of the Winds and Sands". With special emphasis on "The Head" which was simply phenomenal, wonderful, a work of art.
I liked this book so much that I had to record a video to talk about it, so you can tell that I REALLY liked it.
https://youtu.be/5RMARwFw4KY?si=axUt99mX_dfQBHem
Thank you #NetGalley and #CompanhiaDasLetras for the ARC.
Gostei que os contos podem ser lidos de forma literal, mas também podem ser encarados metaforicamente falando de sentimentos, angústia, mazelas sociais e grandes tragédias.
Um dos meus favoritos foi o conto que dá título ao livro que fala sobre um objeto amaldiçoado que é usado para uma vingança que dá certo, mas também dá muito errado. Pra mim ele foi macabro, melancólico e instigante, tudo na medida certa.
"Adeus, meu amor" foi outro que eu amei e envolve androides, no melhor estilo Black Mirror com revolução de máquinas. Tem um clima tenso no ar o tempo todo que não dá pra identificar de onde vem a bomba apitando, mas ela explode no fim e é muito bom e também muito amedrontador.
"Reencontro" é tristíssimo e envolve fantasmas, os literais e os do passado e também um homem polônes e e menciona a Guerra da Coréia e a Segunda Guerra Mundial. Fiquei impactada com as reflexões sobre pessoas que estão sempre presas no passado.
"A Cabeça" é bizarro, desconfortável e nojento e fala sobre uma mulher que passa boa parte da vida vendo uma cabeça feita com seus excrementos crescer no vaso sanitário.
Tem alguns contos que eu não consegui ter suspensão de descrença o suficiente pra gostar (como o da mulher que engravida de tanto tomar anticoncepcional?????), mas no geral eu gostei, li super rápido e curti os assuntos nas entrelinhas que falam da pressão nas mulheres, maternidade, envelhecer e muito mais.
Que coletânea! "Coelho maldito" reúne algumas das histórias de horror mais interessantes que já li. Aqui, você vai se deparar com objetos amaldiçoados, manipulação psicológica, fantasmas, sangramento, oferendas, pessoas enlouquecidas e segredos terríveis. Cada conto é muito bem escrito — alguns melhores que outros, claro, mas nenhum abaixo da linha do "bom".
Destaque para o conto-título, "Coelho maldito", que traz a história de um objeto amaldiçoado que desgraça uma empresa. Foi uma excelente abertura! Também me surpreenderam "A cabeça", sobre o alto preço que pagamos por aquilo que deixamos para trás; "Menorreia", sobre como a sociedade julga mulheres o tempo inteiro; e "A armadilha", sobre os males do patriarcado, do capitalismo e da desumanização de pessoas e animais.
Bora Chung sabe retratar bem os males da nossa sociedade por meio de metáforas e histórias assustadoras e grotescas. Muito bom!
Coelho Maldito é um livro que possui 10 contos que mistura o imaginário popular asiático com requintes de terror.
Particularmente, eu gostei muito do livro, em especial aos contos que são bem gráficos, como o "A Cabeça".
"A Cabeça" me causou um incômodo forte ao ler, o enredo dele, lembrou-me meus mangás de terror japonês. Não eram as mesmas premissas, mas os traços do desenho do mangá (como exemplo os de Jun Ito) me pegou tanto que imaginei o conto com o mesmo estilo. Asgo.
Outros contos, confesso, que me causou confusão e até tristeza, foi o caso de "Dedos Gélidos", que a ficha foi caindo gradativamente. E alguns, só no final se descobria o sobrenatural de fato que havia naquela história.
Bora Chung simplesmente arrasou nesse livro, mostrando varias facetas de sua escrita. Gosto muito das abordagens dos generos por autores asiáticos (a autora é sul coreana), é uma nova visão, ainda mais instigante que a já manjada visal ocidental (principalmente estaduniense).
Magnifica seria a palavra certa para descrever a experiência desta leitura.
Para saber mais da minha experiência com esse texto, segue o link da minha postagem no instagram sobre.
Grata a Companhia das Letras por me proporcionar a leitura dessa grandiosa obra.
A linha entre a vida e a morte é mais tênue do que acreditamos.
O primeiro livro de Bora Chung publicado no Brasil é uma coletânea de contos que giram ao redor do insólito, do medo, do amor e da morte. A autora não decepciona em nenhuma das histórias.
O primeiro conto foi meu favorito, a narrativa que dá o título da obra, Coelho Maldito, fala sobre objetos amaldiçoados e vingança. Um simples abajur de coelho é responsável por punir uma corporação, roendo e devorando tudo que importa para os donos, da mesma forma como eles roeram tudo que importava para as pessoas que exploraram.
"'Tudo que é usado em maldição deve dever ser bonito', era o que o meu avô sempre dizia."
A obra de Chung, apesar de ter temas tão variados em cada um dos contos, gira na temática da exploração, seja uma empresa em Coelho Maldito, ou nos ideais femininos da sociedade em Menorreia, e, no que para mim foi a mais cruel e forte de todas as narrativas, os filhos indesejados e os pais que não os queriam em A Cabeça.
"E o que foi que eu aproveitei, hein? Não vivi mais do que os outros e mesmo a pequena felicidade que tive foi toda destruída por sua causa, que não parou de me perseguir! Suportei até agora todo o repúdio e nojo que sentia por você só pelo fato de te vindo de mim. Agora que terminou de formar o seu corpo, não faz mais que a obrigação em desaparecer daqui, levando a culpa por ter me perseguido todo esse tempo e a gratidão por eu ter te criado."
Usando do surreal, do realismo mágico e do estranho, Chung me provocou sensações horríveis durante a maior parte da leitura, quando a esperança surgia era suplantada pela noção de que nenhum fantasma vingativo virá resolver nossos problemas.
A autora teceu linhas aparentemente sem conexão com cada história, para compor uma tapeçaria de agonia e tristeza. Eu não consegui ler mais que dois contos por dia, eles ficavam rodando e rodando dentro da minha cabeça.
Não tenho apontamentos negativos sobre nenhum dos contos, essa antologia não tem altos e baixos, pelo menos para mim, cada história se fixa em você te sugando e deixando as sensações horríveis da vivência social sobre seus ombros, pensando o quanto daquela fantasia é verdade.
Uma mãe pode ver sua filha como um monte de excrementos.
Filhos podem sofrer pelas ações cruéis dos pais.
Uma mulher pode perder tudo por causa do marido traidor e ainda sair de errada na história.
Uma gravidez nem sempre é uma benção.
Os fantasmas podem habitar esse mundo não por assuntos inacabados, mas por traumas, tão humanos quanto nós, apenas mortos.
Recomendo que cada leitor que ame terror, insólito e até mesmo tenha um pé no gótico, leia Coelho Maldito e desfrute da mente aterrorizante de Bora Chung.
Resenha publicada no: http://www.revelandosentimentos.com.br/2024/02/livro-coelho-maldito.html
By Ingrid Rodrigues
Coelho Maldito da coreana Bora Chung é uma coletânea de contos de ficção especulativa, cujos contos passeiam por várias vertentes do gênero, como fantasia, ficção científica, terror e realismo mágico. Os contos utilizam elementos fantásticos para tratar de assuntos bem humanos como perdas, vinganças, amor e apresentam o que há de melhor em um conto: histórias concisas que conseguem em poucas páginas nos assombrar ou encantar.
Dos 10 contos do livro, 8 achei extraordinários (um grande feito, considerando que a maioria dos livros de contos possuem qualidade bem variável entre eles).
Já tinha ouvido falar da autora pelo livro Bunny, mas não conhecia o trabalho dela.
A reação que tive ao ler o primeiro conto, que dá nome ao livro, foi de confusão. Fiquei procurando algum sentido por trás da bizarrice, achando que tinha deixado passar algo. Ao continuar a leitura, percebi que alguns contos só existiam para serem esquisitos e bizarros mesmo.
Dos 10 contos, creio que só não gostei de uns 2. Os outros me surpreenderam bastante, tanto pelas cenas inusitadas e estranhas, quanto pela profundidade e reflexão que a autora as vezes conseguia trazer em tão poucas páginas.
Cicatriz com certeza foi o meu favorito. Uma bela representação de como o ser humano pode ser ruim e ganancioso a ponto de não se importar ao abusar física e psicologicamente de outra pessoa.
A Armadilha também teve um efeito similar em mim, me deixando com ódio e de coração partido diante de todo o abuso.
Vale também citar os contos: A Cabeça, pela criatividade da autora em transformar um monte de excremento humano em vilão, e Reencontro pela beleza e tristeza dos protagonistas ao se encontrarem e procurarem uma forma de se libertarem do passado e serem felizes.
Foi uma leitura que me trouxe muitos questionamentos. Que, apesar da confusão gigantesca após cada conto, me fez refletir sobre o que havia lido, e que me proporcionou um ótimo período de lazer.
Mesmo assim, tive alguns problemas com a escrita da autora, ou possivelmente a tradução, que as vezes me parecia amadora. Alguns trechos acabavam sendo repetitivos e até desnecessários, alongando um conto que poderia ser melhor executado se fosse mais curto.
No geral, o livro me agradou bastante. Fiquei curiosa para conhecer outros trabalhos da autora. Obrigada a Companhia das Letras e a Editora Alfaguara pela confiança e oportunidade de ler o livro antecipadamente ❤️
“Coelho Maldito”
Em sua primeira publicação fora da Coréia, Bora Chung nos presenteia com essa coletânea de contos que vai do bizarro ao insólito, do terror à ficção científica, do medo ao drama, com uma narrativa que nos prende e nos faz refletir por dias.
O primeiro conto, que nomeia o livro, traz uma visão interessante à questão dos objetos que trazem uma maldição ( e uma crítica às grandes corporações). Muito bom, porém seguido de contos ainda melhores, que arrepiam e gelam nossas almas.
Na verdade, todos os contos trazem algo mais, muitas vezes versando sobre a condição feminina ( “A cabeça” é o conto que mais me arrepiou e me fez refletir), maternidade, gravidez e traição, além de estarem abertos a muitas outras possíveis interpretações e reflexões.
Outros tópicos, como patriarcado, suicídio e luto permeiam os diferentes contos, todos independentes entre si. Desta forma, o leitor pode escolher entre ler vários contos de uma só vez e ir a nocaute, ou ir saboreando aos poucos.
De qualquer forma que sejam lidos, os contos de Bora Chung vêm para impactar. Só espero que as outras obras da autora possam ser também traduzidas.
Agradeço à autora, à editora Alfaguara/ grupo Companhia das Letras e Netgalley pela disponibilidade dessa cópia avançada para apreciação.
A linha entre a vida e a morte é mais tênue do que acreditamos.
O primeiro livro de Bora Chung publicado no Brasil é uma coletânea de contos que giram ao redor do insólito, do medo, do amor e da morte. A autora não decepciona em nenhuma das histórias.
O primeiro conto foi meu favorito, a narrativa que dá o título da obra, Coelho Maldito, fala sobre objetos amaldiçoados e vingança. Um simples abajur de coelho é responsável por punir uma corporação, roendo e devorando tudo que importa para os donos, da mesma forma como eles roeram tudo que importava para as pessoas que exploraram.
"'Tudo que é usado em maldição deve dever ser bonito', era o que o meu avô sempre dizia." (p. 4)
A obra de Chung, apesar de ter temas tão variados em cada um dos contos, gira na temática da exploração, seja uma empresa em Coelho Maldito, ou nos ideais femininos da sociedade em Menorreia, e, no que para mim foi a mais cruel e forte de todas as narrativas, os filhos indesejados e os pais que não os queriam em A Cabeça.
"E o que foi que eu aproveitei, hein? Não vivi mais do que os outros e mesmo a pequena felicidade que tive foi toda destruída por sua causa, que não parou de me perseguir! Suportei até agora todo o repúdio e nojo que sentia por você só pelo fato de te vindo de mim. Agora que terminou de formar o seu corpo, não faz mais que a obrigação em desaparecer daqui, levando a culpa por ter me perseguido todo esse tempo e a gratidão por eu ter te criado." (p. 42)
Usando do surreal, do realismo mágico e do estranho, Chung me provocou sensações horríveis durante a maior parte da leitura, quando a esperança surgia era suplantada pela noção de que nenhum fantasma vingativo virá resolver nossos problemas.
A autora teceu linhas aparentemente sem conexão com cada história, para compor uma tapeçaria de agonia e tristeza. Eu não consegui ler mais que dois contos por dia, eles ficavam rodando e rodando dentro da minha cabeça.
Não posso dizer que o meu favorito foi o que mais me marcou, esse lugar coube a Menorreia, até porque eu estava menstruada enquanto lia esse, a dor, o desconforto de uma menstruação desregulada e o medo da gravidez me acompanharam durante toda a história. A cobrança para ter filhos, a necessidade de ter um pai, qualquer um que seja e o final inquietante ficaram comigo no banho enquanto tentava amenizar a cólica e pensava: Deus, eu não terei filhos, nunca!
Não tenho apontamentos negativos sobre nenhum dos contos, essa antologia não tem altos e baixos, pelo menos para mim, cada história se fixa em você te sugando e deixando as sensações horríveis da vivência social sobre seus ombros, pensando o quanto daquela fantasia é verdade.
Uma mãe pode ver sua filha como um monte de excrementos.
Filhos podem sofrer pelas ações cruéis dos pais.
Uma mulher pode perder tudo por causa do marido traidor e ainda sair de errada na história.
Uma gravidez nem sempre é uma benção.
Os fantasmas podem habitar esse mundo não por assuntos inacabados, mas por traumas, tão humanos quanto nós, apenas mortos.
Recomendo que cada leitor que ame terror, insólito e até mesmo tenha um pé no gótico, leia Coelho Maldito e desfrute da mente aterrorizante de Bora Chung.