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O clássico modernista Vidas Secas é também conhecido por muitos pela saga sertaneja da cadelinha Baleia. Mesmo para quem ainda não conhece a obra de Graciliano Ramos, a cena da morte da cadela não é segredo e poucos estão de fato preparados para a parte em questão.
A narrativa conta a história de Fabiano e de sinhá Vitória, do menino mais velho e do menino mais novo, e da fiel Baleia, que serve à família da mesma forma que os sertanejos servem aos patrões.
Assim, Baleia se personifica, se torna o bicho-homem. Fabiano, em diversas partes do livro, se define como cachorro, e repete que “Apanhar do governo não é desfeita”.
Vidas Secas mostra uma realidade crua, a família que representa a resignação e a resistência a duras penas em busca de uma vida um pouco melhor.
“Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos?”
Acho engraçado que mesmo quem nunca leu Vidas Secas sabe alguma coisa da história, principalmente, em relação a Baleia. Sua morte não é segredo pra ninguém já que dizem que é uma das coisas mais difíceis de se ler - eu sei, eu sei, pra alguns não é nada demais mas eu duvido que toda essa parte passe desapercebida pra quem ler.
Demorei uma vida inteira pra ler esse livro justamente por causa dessa parte. Achei que depois de tantos anos estaria preparada pra fazer essa leitura mas confesso que quando chegou nessa parte específica, pensei em pular, afinal, eu já sabia o que aconteceria, certo? Não precisava saber como, certo? Pois é! Certíssimo! Mas eu não fiz isso, eu li cada palavra com a maior dor do mundo, como se Baleia estivesse morrendo pela primeira vez na vida. Eu quis ter a experiência completa de ler o livro na íntegra e chorei por 3 dias.
Não sei bem o que falar sobre o livro, a história ou sobre Graciliano Ramos que já não esteja por aí ou que nunca foi falado. Meu relato fica pela experiência de leitura, fica por como fui impactada pela história inteira (juro, não só pela Baleia) mesmo depois de ser um livro tão falado, contado e comentado.
O que só me faz ter certeza que não importa o que digam sobre um livro (seja bom ou ruim), a experiência própria sempre será a melhor decisão.
Esta obra modernista é, de longe, um dos melhores livros que já li. Graciliano com certeza representa tudo de mais genial e emocionante que a literatura brasileira oferece! A edição da Penguin Companhia enriqueceu ainda mais minha experiência com as notas e os textos adicionais.