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Morgana Kretzmann nos brinda com uma história eletrizante onde três mulheres fortes e determinadas, que se afastaram umas das outras por conta de trágicos acontecimentos do passado e vários mal entendidos, voltam a se encontrar e lutar, juntas pela preservação do Parque Estadual do Turvo, no interior do RS.

A reserva ambiental Parque do Turvo, e a comunidade que o cerca, correm sério risco de serem dizimados devido ao projeto de construção de uma hidrelétrica.

Estas três mulheres são:

Chaya Sarampião — segue a profissão de guarda florestal, exercida por seu bisavô, o icônico Sarampião e luta contra a caça indiscriminada e predatória.

Preta Sarampião — prima de Chaya, chefe dos Pies Rubros, um grupo de caçadores e contrabandistas.

Olga Befreien — jornalista, colega de infância de Chaya, assessora parlamentar que descobre os planos por trás do projeto da Hidrelétrica Gran Roncador.

Nossas três heroínas vão ter que se virar para provar que o projeto é um engodo, que serve mais para propiciar desvio de verbas públicas em benefício de alguns poucos políticos e empresários, do que produzir energia para a população.

A história segue um ritmo investigativo, com muitos diálogos, suspense, ótimos plots, boas pitadas de magia, em um contexto muito atual. 
A construção narrativa tem um quê de reportagem e um quê de roteiro e durante a leitura chegamos a visualizar as ações, as personagens e sonhar com uma adaptação.

Morgana é, também, roteirista, e soube aproveitar brilhantemente seu talento e conhecimento para construir uma trama complexa, muito bem amarrada, que nos prende até o final.
Vale demais a leitura.
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Água Turva
Morgana Kretzmann
272 p
Companhia das Letras, 2024

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Um ponto que merece reflexão é a dificuldade em identificar um protagonista claro. A narrativa parece vagar entre múltiplos protagonistas, deixando os leitores em busca de um fio condutor emocional. Seria Olga ou Chaya? Seria a Preta? Há motivações para cada uma se destacar e essas são deixadas pelo caminho. Essa falta de clareza resulta numa conexão frágil com a história, sem um ponto de referência sólido em meio ao emaranhado de tramas e subtramas.

Os diálogos de alguns personagens, que parecem não diferir, dão a impressão de que têm a mesma voz. Isso pode diminuir a autenticidade das interações e prejudicar a caracterização individual dos personagens, tornando-os menos distintos uns dos outros.

Além disso, as descrições de ações dentro do livro em certos capítulos parecem um roteiro para televisão (ao descrever direto e literalmente personagens e espaços). Certas ações parecem estar incompletas e afetam o ritmo da narrativa, como se dependessem de um guia visual (storyboard).

“Água Turva” tem momentos inspirados quando sai do cenário folclórico e adentra na trama política. Esses são breves e tem como inspiração os anos de governo bolsolini, ali encontraremos diversas “coincidências” com a realidade.

Sem decidir se corre para o lado fantástico, para o político ou para o familiar, “Água Turva” é um romance de fragmentos em que personagens de histórias distintas se cruzam e nunca chegam a ter seu próprio destaque.

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Se há algo que a literatura pode fazer com toda habilidade e excelência é mostrar ao leitor a cultura de outros estados e regiões bastante distantes fisicamente da sua região natal. Como estamos em um país de dimensões continentais, parece natural haver culturas diferentes e foi bastante significativo ler algo situado no extremo Sul do país, com sua cultura e até mesmo a fala própria, mistura do português com o espanhol, língua falada em países que tem divisa com o nosso. Conheci a autora graças a Companhia das Letras, e ela falou maravilhosamente sobre seu segundo livro, que será publicado amanhã, 19 de março.

“Água Turva” me mostrou um sul que não conhecia, com uma linguagem, cultura rica, crença forte, ligação com a natureza e como segredos de família podem destruir os vínculos mais fortes – mas bem, isso poderia acontecer em qualquer estado, região ou país do mundo. Um thriller ecológico escrito de uma forma que a narrativa vai sendo montada pouco a pouco, com pedaços de uma horrenda trama política, o leitor se depara com uma imagem espelhada do Brasil atual.

Temos 3 protagonistas nesta história: Olga Befreien, assessora do deputado estadual Afrânio Heichma, jornalista com um passado que a faz querer evitar a cidade que nasceu e palco da trama, Dourado, no interior do Rio Grande Sul, sofrendo com os avanços do Deputado enquanto espera tomar posse do seu cargo na TV estatal que o homem trata como sua. A segunda personagem protagonista é Chaya Sarampião, bisneta do homem que se tornou quase um mito na cidade de Dourado, protetor do parque Turvo, atualmente uma guarda florestal que ama e cuida daquelas flora e fauna com um vigor intenso e necessário. Já a terceira protagonista é Preta, a líder dos Pies Rubros, e que tem uma visão de vida quase que completamente oposta a de Chaya, apesar das duas mulheres terem uma ligação muito maior do que o leitor espera quando a trama começa.

Como se torna óbvio já nas primeiras páginas da trama, Olga está lidando com toda frustração de querer sua estabilidade financeira ao assumir seu cargo na TV Estatal, mas o Deputado, que é um personagem asqueroso (para usar um adjetivo suave) está usando isso para tentar conseguir mais da mulher – sim, isso mesmo que você está pensando – ao mesmo tempo que está empenhado em fazer o povo da cidade aceitar a barragem da Hidrelétrica Binacional Gran Roncador. O motivo? Dinheiro.

A hidrelétrica na cidade irá gerar ótimos frutos ao Deputado e outras figuras da República, enquanto não se importam com o impacto ambiental e muito menos as vidas dos agricultores que terão suas terras inundadas, assim como parte do Parque do Turvo, que também será atingido pela água represada. Parece óbvio que algo assim não deveria seguir adiante, mas estamos falando de uma trama no Brasil e claro que nem tudo funciona como deveria ser em nosso país. Pensando em agilizar o processo, o Deputado Heichma manda Olga a Dourado, esperando que a jornalista usasse o fato de ter nascido na cidade para tentar emplacar uma opinião positiva sobre a represa, mas anos atrás, Olga fez algo que foi considerado uma imensa ofensa a memória de Sarampiao, se tornando uma figura nada bem quista na cidade. O que o Deputado não contava era que estava fomentando na jovem mulher uma coragem imensurável provocada por nojo de ter esse homem com seus avanços sobre ela.

Enquanto vamos vendo a construção e evolução da personalidade de Olga, acompanhamos também Chaya em seu árduo trabalho como guarda florestal. É um choque e uma chamada a realidade ao leitor para pensar e entender um pouco mais desse trabalho que é essencial e, por muitas vezes, perigoso. Cuidar de nossa flora e fauna deveria ser bem mais reconhecido em nosso país e por todos nós brasileiros.

Ao mesmo tempo, mostrando o outro lado do trabalho de Chaya, temos Preta, uma personagem que está aqui para testar nossos limites em uma situação ambígua. Com uma visão diferente e escolhas em sentido oposto da guarda florestal, Preta é também uma personagem forte, intensa, repleta de convicções que lhe foram transmitidas por uma avó que também transita pelo limite moral que impomos durante a leitura.

Claro que os destinos das 3 personagens irá se chocar, levando o leitor a uma trama profunda sobre a proteção de nossas terras. Confesso que não sabia que havia realmente a ideia de uma hidrelétrica no Parque do Turvo, fato totalmente real – aqui a ficção se mistura diversas vezes com a realidade justamente na parte política de toda narrativa, tudo isso enquanto vemos 3 personagens femininas fortes desempenharem papéis cruciais para aquela região. “Água Turva” é um livro poderoso, forte e real, perfeito para quem quer navegar por este país e ler um pouco mais de nossa realidade, por mais indigesto que seja.

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O frescor de ler um livro como "Água turva" não tem preço! Esse é um thriller bem brasileiro, que tem como ponto central a disputa pela construção de uma hidroelétrica na divisa entre Brasil e Argentina — ameaçando a Mata Atlântica, as comunidades locais, uma grande área de conservação e diversas espécies animais.

Na trama, acompanhamos três mulheres: uma guarda florestal, uma contrabandista de animais e uma jornalista que trabalha para um deputado influente. Não há pessoas totalmente ingênuas e intocáveis aqui, mas com certeza há vilões e manipuladores que agem conforme seus interesses. Enquanto entendemos como as histórias delas se conectam, também lemos sobre o mar de corrupção e disputa política em que a hidroelétrica está mergulhada.

Para mim, foi quase impossível de largar. Capítulos curtos, diversos pontos de vista, flashbacks, segredos e a sensação de que tudo pode explodir a qualquer momento ajudaram bastante. Parei só pelos afazeres da rotina, porque a escrita voa. Precisei fazer um mapa de personagens para não me perder com tantos nomes e tantas ligações (há uma lista no começo do livro que ajuda bastante), e depois disso só fiquei mais engajado.

Uma obra que denuncia os horrores a que nossa fauna e flora são submetidos, e que honra aqueles que dão à vida (literalmente) pela protegê-las. E mesmo sendo fictícia, não é preciso ir longe na memória para encontrar histórias reais e muito parecidas no Brasil: Belo Monte, em Altamira, é um grande exemplo. Uma hidroelétrica que se abastece de um rio que passa metade do ano seco, que expulsou milhares de pessoas do seu lar e que ganhou vida em um governo de esquerda, mesmo sendo um plano da época da ditadura militar.

Pensar em conservação ambiental é pensar em política, é olhar para a ambição sem limites daqueles que sugam a terra como se ela fosse ilimitada. Protegê-la é também desalinhar o emaranhado da corrupção, das rachadinhas, das milícias, da troca de favores, das licitações fraudadas... e colocar a vida em jogo.

Precisamos de mais livros assim. Morgana fez um trabalho espetacular. Espero ver "Água turva" indicado a muitos prêmios literários!

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