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A persistente investigação de Laub sobre as complexidades da identidade e as relações de poder que moldam as realidades atuais permanece em "Passeio com o Gigante". O autor desafia crenças e preconceitos na busca por um entendimento mais profundo das contradições que permeiam a experiência humana.
Sua prosa concisa e fragmentada, característica de sua obra, continua a ser o grande atrativo, tornando quase impossível abandonar a leitura. Parágrafos curtos e capítulos breves funcionam como pinceladas que compõem um retrato caleidoscópico da relação entre o discurso inflamado de seu novo protagonista e as consequências de seu apoio ao governo bolsolini (neste caso não citado nominalmente, mas facilmente associado pelas pistas fornecidas).
Pela figura de Davi Rieseman, líder comunitário judeu que flerta com o discurso extremista, Laub propulsiona o leitor em um turbilhão de questionamentos sobre pertencimento, responsabilidade e ética. Rieseman se vê tentado pelas promessas de segurança e proteção oferecidas pelo discurso autoritário. Sua trajetória nos leva a questionar os limites da resistência e os perigos da assimilação, especialmente em um contexto social marcado pela polarização política e pelo crescimento do discurso de ódio. Na oratória do protagonista, reside a provocação para que as pessoas deixem de se posicionar como vítimas ao mesmo tempo que ele se entrega a um vitimismo relacionado à sua infância sofrida.
A narrativa salta entre tempos distintos e "dimensões", por assim dizer. Infelizmente em certos momentos, a participação do "coro"- se são delírios, presenças espirituais ou vozes da cabeça - soa desnecessária, forçada e dogmática.
"Passeio com o Gigante" é uma reflexão sobre a identidade judaica em suas múltiplas facetas, entrelaçada com as complexas realidades políticas do Brasil contemporâneo. A ambiguidade e a evasividade com que Laub trata o contexto político específico demonstram que nem todos desejam a redenção. O autor não se contenta em responder qualquer posicionamento, conduzindo sua narrativa da causa à consequência, convidando o leitor a uma construção individual de significado.