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O que dizer de Toni Morrison que ainda não foi dito?
Sempre fico estarrecida quando me deparo com sua escrita, porque é, realmente, um talento conseguir ser tão delicada ao escrever sobre vidas tão sofridas. "O olho mais azul" é meu terceiro livro da autora, sendo que a conheci por "Amada" na graduação (devo ter lido umas 2 ou 3 vezes) e depois "Sula", e a cada leitura os fatos se confirmam: Morrison é mais que merecedora de ter recebido um Nobel em 1993, de ser lida em escolas e universidades, e ser celebrada em clubes de leitura (motivo pelo qual eu li esse livro) e na vida pessoal e privada dos leitores que ela toca.
Pecola, a menina negra que queria ter "o olho mais azul", é o ponto central da história, mas também conhecemos outros personagens dessa cidadezinha (como seus pais), pois precisamos saber suas histórias para entender como elas afetam Pecola e a levam a "enlouquecer" ainda criança. Esse tipo de narrativa me lembrou "Sula", que também acompanha os moradores de uma cidadezinha, mas achei "O olho mais azul" bem mais brutal.
Morrison explora os abusos que Pecola sofre na sua vida familiar e doméstica, como a violência sexual (o que não deixa de ser, também, um problema coletivo, já que afeta em sua maioria meninas e mulheres), mas também problemas maiores e estruturais como o racismo, que a faz se sentir feia e isolada e, portanto, desejar ter olhos azuis — sendo a cor dos olhos apenas uma pequena representação de vários outros traços europeus que valorizamos na nossa ditadura da beleza. Como Morrison escreve no início do livro, "Não há realmente nada a dizer — a não ser por quê. Mas, como é difícil lidar com o porquê, é preciso buscar refúgio no como". É exatamente isso o que "O olho mais azul" busca fazer, explicar o como da "decaída" de Pecola, mostrando que cada pessoa que tocou a vida da menina tem uma parte de culpa pelo que aconteceu com ela — desde os adultos ao seu redor que falharam em protegê-la até as fofocas maldosas que a culpam por seu abuso. O leitor fica 100% emergido nessa história, principalmente pelo tom coloquial e oral que a Morrison aplica em seus livros.
O livro é encerrado com chave de ouro com a nota no final da autora, que declara que a ideia surgiu de uma amiga de escola que dizia que queria ter olhos azuis e seu choque ao imaginar tal combinação. Fiquei triste quando a autora diz que não se sente satisfeita com esse livro, porque, para mim, ele é perfeito (e foi seu livro de estreia!), principalmente porque ela diz que muitos críticos não entenderam o conceito que ela se propôs a trazer. Mas acredito que o tempo tenha provado que os temas presentes nele são mais atuais que nunca, e que Pecola e sua amiga poderiam ter os mesmos desejos em 2025.

💭 Claudia é uma adolescente negra que tenta dar sentido às suas memórias de infância. Nesse processo, recorda sua amizade com Pecola, mais pobre, mais preta, mais feia e mais sofrida que a própria Cláudia. O sonho de Pecola é ter olhos azuis; no seu imaginário dinfantil, olhos azuis lhe trariam a felicidade e a tranquilidade que ela vê nas famílias brancas.
💔 "O Olho Mais Azul" é uma história angustiante sobre como o racismo destrói pessoas geração após geração, marginalizando, empobrecendo, sufocando sonhos e oprimindo até mesmo crianças pelas mãos de outras crianças. A narrativa é quase poética e profundamente melancólica. Entre idas e vindas e com mudanças de narrador, a autora dá contexto ao sofrimento de tantos, que em Pecola atinge seu ponto máximo.
❗ Recomendo para quem quer entender o que é o racismo estrutural por meio de um excelente livro de ficção.

Uma leitura impactante e muito necessária nesses tempos em que se busca o enfrentamento do racismo. Aborda ainda questões de gênero e classe social. Recomendo, ótimo livro!

É difícil falar dos livros da Toni Morrisson. Amada me deixou com um nó na garganta que acho que bate hoje não desmanchou totalmente. Faz anos que li e já tinha visto o filme antes e ainda assim sofri esse impacto.
O olho mais azul foi o primeiro livro da autora. O jeito cru e real de escrever já estava presente.
A história começa e a gente já sabe, atravéz das lembranças da narradora, que Pecola está grávida de um filho de seu próprio pai. O livro conta como isso aconteceu e como a formação/criação dos personagens fez com que chegassem aquele ponto.
Não quero contar muito sobre o livro, acho que vale a pena ler sem saber muito sobre ele.
Indico a todo mundo. Não é uma leitura fácil, mas é uma leitura necessária.