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Resenha na íntegra no Goodreads.

"Em "Búfalos selvagens" Edgar Wilson, Bronco Gil e Padre Tomás encaram o mundo depois do apocalipse anunciado em "De cada quinhentos uma alma". Dias de escuridão, nuvens de gafanhotos. Não importa se o apocalipse foi bíblico ou climático. O que importa é pensar o que fazer com a sensação que a desgraça deixa quando vai embora. Como voltar a viver na companhia dos mortos?"

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"Búfalos Selvagens", de Ana Maria Machado, é uma história envolvente sobre autodescoberta e pertencimento. A protagonista, Joana, busca um novo sentido para sua vida após o fim de um casamento e a morte de seu pai, embarcando em uma viagem à Zâmbia. Nesse cenário exótico e contrastante, ela lida com questões profundas sobre identidade, memórias e laços familiares, enquanto reflete sobre o impacto cultural do contato com novas realidades. Com uma escrita sensível, a autora nos guia por uma jornada emocional e introspectiva, explorando as transformações que ocorrem dentro e fora de nós. Recomendo muito!

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“Búfalos Selevagens” é o terceiro livro da Trilogia do Fim de Ana Paula Maia. Publicada pela Companhia das Letras, a trilogia tem “Enterre seus mortos” e “De cada quinhentos uma alma“, como os dois primeiros volumes respectivamente. Trazendo Edgar Wilson como protagonista de todas tramas, mas não sendo os primeiros livros da autora que o homem aparece, essa resenha se concentrará no último volume dessa trilogia que será publicado agora dia 06 de agosto. Como também preciso deixar claro, haverá pontos dos dois livros anteriores, já como as tramas se completam, mas tentarei o máximo não entregar nenhum spoiler grande demais.

De uma forma bastante direta e crua, Ana Paula Maia nos mostra mais uma vez a capacidade de desenvolver empatia e também a miséria humana, a vulnerabilidade de parte de nossa população e a forma como abraçamos a ideia de que podemos ser salvos por uma força maior quando a infelicidade e a dor batem em nossas portas – ou justamente o oporto total, a falta de credo em qualquer força que seja capaz de ajudar qualquer pessoa, tudo em uma trama que já se anunciava em volumes anteriores, mas mais envolta em elementos sobrenaturais e com o pé no terror.

Sinto que falar sobre este livro sem mencionar explicitamente seus personagens seria uma desonestidade. Edgar Wilson é uma construção de todas suas experiências passadas, assim como o Padre excomungado Tomás e Bronco Gil, todos forjados em experiências com a morte. Edgar trabalhou por anos como recolhedor de corpos de animais mortos em estradas e acostamentos, coisa que nunca havia parado para pensar sobre e aposto que a grande parte das pessoas também não, já como carcaças largadas assim podem causar acidentes e também agrupar outros animais, que também causariam acidentes. Parece algo lógico de se precisar, mas são profissões invisíveis, que não recebem a atenção necessária e muito menos o reconhecimento.

Esses corpos e carcaças são levados para um moedor – sim, um moedor de carne, transformado o que antes era carne viva em outra matéria. E se você, que me lê, pensa que Edgar e Tomás se tornaram mais insensíveis ao lidar diariamente com a morte, a resposta é justamente o contrário: quando se lida com a morte e se sente um passo atrás dela (frase dita várias vezes por nosso protagonista), se entende que todo ser merece e precisa de um enterro e de uma despedida porque por trás daquela carne e ossos, havia alguém. Alguém que merece algo que não está tendo. E é justamente o que temos aqui, quando no começo da trama, Edgar encontra na estrada o corpo de um homem fantasiado de palhaço, perto de seu cachorro machucado.

Depois dos eventos do segundo livro, “De cada quinhentos uma alma“, que trouxe basicamente o Apocalipse para a Terra, e ainda lidando com as consequências, Edgar Wilson recebe o convite para voltar a trabalhar no abatedouro e com a criação de Búfalos, e claro que chama Tomás para o acompanhar, e é antes de decidir se iria ou não que encontra o corpo do palhaço na estrada. Tomás já acredita que tem algo bastante errado no ar e tudo parece fazer a crença realidade.

O retorno de Bronco Bil chega nessa altura da trama com uma surpresa: ele voltou para o lugar com o Circo das Revelações e conhece o palhaço morto. Tomás, que na minha opinião é o personagem mais multifacetado da trama com seu passado tortuoso, está com sua intuição realmente agitada e não sabe precisar, sentindo que aquele circo ali não faz sentido, já como a trama se passa em lugar incerto no Brasil, mas claramente interior – e ele está certo em ficar com o pé atrás com o Circo, levando a uma trama de suspense que realmente beira o terror.

O Circo das Revelações é um ambiente que causa arrepios só de imaginar, mas pode ser só minha própria ideia do lugar, já como nunca gostei de circos e nunca me interessei em realmente ir. O lugar é comandado por Mendonça, e sua filha, a garota Azalea, é uma vidente, exatamente como a sinopse diz, mas há mais nessa trama do que somente uma garotinha fazendo previsões sobre o futuro e acertando sobre fatos do passado dos personagens.

Se o leitor se interessar em ler este livro solo, assim poderá, mas perderá referências e momentos que foram plantados nos outros livros com pistas do que acontece aqui, como o menino morto em “De cada quinhentos uma alma” que conversa com Tomás em uma cena maravilhosamente colocada, já nos apontado o que está acontecendo com Azalea, assim como também já há dicas de que os Búfalos eventualmente apareciam desde “Enterre seus mortos“, quando encomendam a carcaça de um para empalharem, por isso indico ler toda Trilogia e aproveitar a escrita de Ana Paula Maia, mais uma autora que merece ser acompanhada neste momento tão alto de nossa literatura nacional. Aproveite sem moderação a criatividade e a forma de escrita da autora.

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A “Trilogia do Fim” de Ana Paula Maia é uma exploração profunda das formas de brutalização do ser humano diante de um mundo que, aos poucos, chega ao seu fim. Com foco nas nossas relações com os animais, seja através da exploração pela morte ou pelo espetáculo, Ana Paula inverte nosso olhar e perspectiva, fazendo-nos encarar que a violência mais selvagem é o cotidiano de uma realidade precária e desumanizante. Entre cadáveres e profetas do apocalipse, a “Trilogia do Fim” de Ana Paula Maia é uma das reflexões mais profundas sobre o que é viver no apocalipse do nosso dia a dia.

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É sempre maravilhoso encontrar Edgar Wilson e Bronco Gil.

A história tem dois arcos, Edgar, Tomás e Bronco voltando para o matadouro e o circo de revelações que se instala na cidade e do qual ficamos sabendo no momento em que Edgar encontra o corpo de um palhaço na estrada.

O desenrolar da história do circo achei que cabia um desenvolvimento melhor, até pq Ana Paula consegue em poucas palavras dizer muita coisa, dessa vez ficou faltando algo. De qualquer forma a essência da escrita tá ali e sempre vale a leitura.

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