Member Reviews
De onde eles vêm, de Jeferson Tenorio,. é um livro singular, que provoca muitas reflexões.
O tema central do livro, as cotas raciais para ingresso nas universidades, traz outras implicações importantíssimas, que nem sempre são abordadas e levadas em consideração.
Há quem seja contra e quem seja a favor, mas isto não está em discussão.
O avanço que as cotas provocaram, desde sua criação, é inegável e indiscutível, embora há que se reconhecer que elas, sozinhas, não são capazes de corrigir desigualdades históricas, e isto não apenas para cotas raciais, mas também para população de baixa renda e PCDs.
O simples acesso a uma vaga na universidade não garante uma permanência igualitária. Outras questões que perpassam a vida dos cotistas podem fazer com que desistam no meio do caminho. A necessidade de conciliar estudos e trabalho, a dificuldade de acesso a livros, transporte, e tantas outras demandas cotidianas podem ser empecilhos muitas vezes intransponíveis, aliados, é claro, ao racismo que assombra a vida destes jovens, cotidianamente.
Joaquim, o protagonista da história, tem 24 anos, vive com sua avó, está desempregado, e acaba de ingressar no curso de Letras. Ele mora em Alvorada, uma cidade vizinha de Porto Alegre, e ambos têm como renda a aposentadoria da avó, que está em processo inicial de senilidade, necessitando de cuidados.
Joaquim não é perfeito. Corajosamente o autor construiu um personagem que comete erros, que fraqueja, que têm medos e inseguranças. Ele não é um herói inabalável. É um rapaz talentoso e inteligente, sim, mas não infalível.
Sua jornada é repleta de percalços, avanços e retrocessos, assim como a de muitos outros jovens. Vamos acompanhar sua vida acadêmica, amorosa e familiar e muitas vezes querer sacudir Joaquim para que ele levante a cabeça e não desista.
Preciso registrar meu carinho por uma personagem incrível que poderia ter sido melhor desenvolvida, sua colega Saharienne.
Gostei bastante da leitura, embora tenha achado o final um tanto irreal, uma exceção à regra.
Jeferson Tenório, autor de "O avesso da Pele" ( livro que foi vítima de tentativa de censura recentemente), volta com força total com essa nova obra.
Em "De onde eles vêm", a narrativa se torna ainda mais marcante em termos de impacto. Isso porque o ponto central vem mostrar o início das cotas raciais em universidades. Aqui, o assunto se alia aos temas mais amplos que versam sobre preconceito e desigualdade.
Nosso protagonista, Joaquim, é negro e ingressa em uma universidade no início dos anos 2000. Oriundo de uma família pobre, vive com a avó idosa que necessita de cuidados. Como o curso de Joaquim é no período matutino, a conciliação com um emprego se torna praticamente impossível.
Com uma narrativa muito fluída, o autor mostra o amor de Joaquim pela literatura, e a tristeza de não poder levar o sonho de estudar e ser escritor adiante em sua juventude.
A questão discriminatória é muito visível nas situações que Joaquim vivencia, fazendo com que o leitor sinta toda a revolta vivida pelo personagem. As questões de religiosidade e pertencimento são também muito bem colocadas, de tal forma que nos leva a grandes reflexões. Uma obra, em resumo, extremamente impactante e necessária.
Agradeço ao NetGalley por ter a oportunidade de ler esse livro antes do lançamento. O Avesso da Pele tem um lugar único nas minhas memórias de leituras e ter acesso de forma antecipada a essa obra foi uma felicidade enorme.
Acredito que em De onde eles vêm, o Jeferson consolida elementos da narrativa que tanto marcaram O Avesso da Pele. A presença da literatura em si no enredo, por exemplo, é um desses elementos que se repete e que muito me agrada. De alguma forma, ler sobre livros e literatura em ficção deixa mais próximo do enredo. Sem falar que a própria academia/universidade é um ponto central, já que a maior parte dos desenlaces e das interações do livro acontecem em razão do personagem principal, Joaquim, entrar no ensino superior através do sistema de cotas. Por falar em interações, senti que os personagens do livro são mais desenvolvidos e que refletem mais emoções.
A ancestralidade é outro ponto onipresente e central pra entender o desenvolvimento do personagem principal. É a linha que segura a dialética da narrativa. Assim como em O Avesso da Pele, denuncia-se o racismo pela narrativa de questões sociais quotidianas e pela alteridade.