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Essa não é uma história fofa sobre dois patinadores apaixonados deslizando rumo ao ouro olímpico…

Katarina Shaw é uma protagonista forte, determinada e por vezes implacável. Ao perder a mãe ainda bem pequena, ela encontrou consolo assistindo a lendária Scheila Lin conquistar o ouro. A partir daí, sua vida ganha um único propósito: vencer. Acompanhamos sua história por meio de uma estrutura inteligente e bem diferente em formato de documentário, dez anos após sua última apresentação ao lado do enigmático Heath Rocha, seu parceiro de gelo e de vida.

Heath, é apresentado como o garoto retraído que surgiu em sua vida quase como um acaso do destino. Um menino sem raízes, vindo de lares adotivos, que encontra em Katarina seu porto seguro, ou talvez sua prisão. Ele se dedica inteiramente à patinação, não por ambição própria, mas para continuar ao lado dela. O resultado? Uma parceria impecável no gelo e um relacionamento marcado por uma dependência que beira o tóxico.

É inegável que a autora constrói uma protagonista feminina profunda, cheia de falhas e convicções inabaláveis, o que é, ao mesmo tempo, seu maior acerto e talvez seu maior erro. Katarina comanda a história com mão de ferro, e por vezes parece que tudo gira em torno dela: os treinos, os sacrifícios, os sentimentos...

Heath, apesar de essencial, permanece à sombra, pouco explorado e merecia mais espaço. Sabemos pouco sobre seus pensamentos, sobre sua dor e quando finalmente temos algum vislumbre sobre, já estamos no fim da história.

A ambientação é um dos grandes trunfos do livro. A descrição das coreografias, a atmosfera das competições e os bastidores da patinação artística são incríveis e bem desenvolvidos. A narrativa intercala trechos do presente com entrevistas de um documentário sobre os dez anos desde a última apresentação do casal, criando um clima envolvente e cinematográfico. Através dos relatos de ex-treinadores, competidores e amigos, vamos montando o quebra-cabeça sobre a vida de Katarina e Heath, o auge, a queda e tudo que ficou no meio do caminho.

A inspiração em "O Morro dos Ventos Uivantes" fica clara à medida que a relação entre Kat e Heath se torna cada vez mais destrutiva. Ele gira em torno dela, enquanto ela quer brilhar sozinha, ou melhor, quer vencer, a qualquer custo. E embora seja fácil torcer por sua trajetória e reconhecer sua garra, também é inevitável notar o quanto ela passa por cima de tudo (e todos) para alcançar seus objetivos.

Por fim, o excesso de drama(totalmente desnecessário) e reviravoltas abruptas (também desnecessárias) nos últimos capítulos me deixaram frustrada e decepcionada.

Os Favoritos entrega o retrato de uma mulher que não pede desculpas por sonhar alto e, principalmente, por colocar seus objetivos à frente de qualquer romance. Talvez o título engane: este não é um livro sobre um casal favorito, e sim sobre uma protagonista imparável que se recusa a ser coadjuvante na própria vida.

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