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A obscena senhora D., escrito pela renomada autora brasileira Hilda Hilst, é uma obra literária que desafia convenções e mergulha nas profundezas da psique humana. Publicado originalmente em 1982, o livro é uma exploração intensa e controversa da sexualidade, da identidade, do luto e da solidão.

A narrativa gira em torno da protagonista, a Senhora D., uma mulher madura e solitária que vive em uma casa isolada, afastada da sociedade e imersa em seus próprios pensamentos e fantasias. Hilda Hilst utiliza uma linguagem rica e provocativa para retratar a jornada interior da personagem, mergulhando nas camadas mais íntimas de sua existência.

Através de uma prosa poética e fragmentada, Hilst nos conduz a um universo sensorial intenso, onde a Senhora D. busca desesperadamente por uma conexão emocional e sexual. A autora desafia as convenções sociais e tabus ao explorar temas como a solidão, a liberdade sexual e o envelhecimento. O livro é uma reflexão sobre a natureza humana e suas complexidades.

A Senhora D. é retratada como uma mulher corajosa e desafiadora, que se liberta das amarras da moralidade e dos papéis de gênero impostos pela sociedade. Sua busca pela sexualidade plena é apresentada de forma crua e sem concessões, rompendo com as expectativas tradicionais da feminilidade.

Além disso, Hilst aborda questões filosóficas e existenciais ao longo da narrativa. A Senhora D. questiona a própria identidade e o propósito da vida, buscando respostas em meio às suas experiências sexuais e relacionamentos passageiros. Hilst utiliza a sexualidade como uma metáfora para a busca do significado mais profundo da existência humana.

O livro também é um estudo sobre a solidão e o isolamento. A Senhora D., confinada em sua casa, encontra-se em constante diálogo consigo mesma e com a ausência de outros. Hilst retrata com maestria a solidão como uma força opressiva que permeia a vida da protagonista, ao mesmo tempo em que se torna um catalisador para sua busca por liberdade e autenticidade.

O estilo literário de Hilda Hilst é marcado por uma prosa poética e fragmentada, que desafia as estruturas tradicionais do romance. Ela cria um ambiente linguístico carregado de sensualidade e experimentação, mergulhando o leitor em um turbilhão de pensamentos, desejos e reflexões. Não há pontuação ou qualquer tipo de marcação para entendermos quem está ali falando com a Senhora D. Para leitores iniciantes, pode ser bem confuso manter a leitura.

“A obscena senhora D” é uma obra que provoca reações diversas nos leitores. Sua abordagem ousada e sua linguagem explícita podem ser desconcertantes para alguns, enquanto outros enxergam na obra uma profunda e corajosa exploração da natureza humana.

O que achei de A obscena Senhora D.
Fluxo de consciência não é um dos recursos da escrita literária que mais curto. Tenho muita dificuldade para acompanhar livros assim. A obscena Senhora D. é tão intenso nesse quesito e tão visceral que ao longo da leitura, eu desejava fortemente “assistir” o livro. É um monológo tão teatral que me dava muita vontade de assistir a própria Hilda Hilst dramatizando o livro. Eu não queria ler A obscena Senhora D. Eu queria assistir para conseguir conectar de forma concreta com aquela personagem

Como isso era algo totalmente proibitivo por questões óbvias, eu tive muita dificuldade de manter a atenção na leitura (o fluxo de consciência atrapalhando o rolê). O estilo de escrita, sem saber qual voz era a que estava sendo feita no momento, também ajudou muito na minha dispersão.

Apesar de ser um livro bem curto (80 páginas só). Demorei bastante na leitura. Voltei várias vezes as páginas para conseguir me conectar.

Ao longo do livro, Hilda Hilst nos confronta com a fragilidade e a complexidade do ser humano, desafiando-nos a questionar nossas próprias crenças e preconceitos. Sua escrita visceral e inovadora nos leva a refletir sobre a sociedade, a sexualidade e o sentido da vida.

“A obscena senhora D” é uma obra-prima da literatura brasileira que continua a desafiar e a inspirar leitores até os dias de hoje. Hilda Hilst, com sua coragem e talento, nos presenteia com uma narrativa profunda e impactante, que nos convida a olhar para além das aparências e a explorar os mistérios da existência humana.

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Hilda Hilst sempre esteve presente no meu imaginário como uma autora de quem eu sabia pouco, mas queria muito ler. Via suas obras serem comentadas em eventos literários, e o título "A obscena senhora D" sempre me chamou a atenção; por isso quando a @companhiadasletras liberou o ebook para os parceiros eu tive que agarrar a chance de conhecer a obra da autora.
Eu não tinha muitas expectativas sobre esta obra, mas eu nunca seria capaz de imaginar o que a experiência de leitura foi para mim. Em uma "prosa poética" , de linguagem simples mas impactante, a autora escreveu em fluxo de consciência os pensamentos de Hillé, a senhora D, que sofre pela ausência de Ehud, o seu falecido amor. Estes pensamentos são cruzados pelos comentários da vizinhança e por suas lembranças do passado, embaralhadas, e que nos trazem os mais diversos sentimentos durante a leitura. Dei risadas, me emocionei, senti repulsa. Tudo isso em pouco mais de 50 páginas.
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"A vida foi uma aventura obscena, de tão lúcida."
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Este livro é diferente de tudo que já li, e é difícil avaliá-lo sob os mesmos parâmetros de outras leituras. Ele é estranho, curioso, confuso. Repleto de referências e criticas. Conclui querendo mais e só o que posso dizer é que com certeza irei buscar ler outras obras da autora ♥️

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Esse não é o meu tipo de leitura preferida, foi um ótimo passa-tempo.
Adorei conhecer mais sobre a histórias de Obscena senhora D.

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E se você se sentisse abandonado por Deus? Por seus amores e por tudo? E se você questionasse tudo e o nada viesse como resposta? E se você, por você, fosse mero Nada e não importasse mais? Como você agiria? Interpretaria? Pensaria?

E se Nada, que você é, não tivesse sentido, porque você não queria ser Nada, mas ainda é? E se tudo é um fluxo de consciência não-contínuo por que você perdeu o único que amava e entendia? No fim, você pode ser Nada porque tinha Tudo, não é verdade?

E se também não é nada disso? Mas a busca incessante por aquele conhecimento que você ambiciona, mas que Nunca vai ter resposta? De onde viemos? Para onde vamos? Qual a origem de tudo, meu Deus? E se você questiona também Deus? Você acredita ou não? Você grita com Ele ou reza? Ou está sozinha numa escada enquanto relembra e lamuria a sua solidão, ao mesmo tempo, pensa no lascivo e no luxurioso? No corpo, na carne e na alma? Pode ser tudo isso e nada ao mesmo tempo.

Essa é a prosa poética e literatura densa que Hilst traz e transborda em seu público-leitor. Numa tentativa de achar respostas sem conclusão, num desejo súbito por mostrar a potência feminina diante de Deus, Hilst traz uma prosa obscena: não pela vulgaridade, mas pelo teor complexo que a decadência humana pode atingir – tanto por seus atos quanto pelo desejo (in)sano por respostas de perguntas jamais respondidas.

Contudo, acredito que tudo faça parte de achismos quando argumentamos sobre essa novela, visto que há uma gama absurda de referências literárias, simbólicas e filosóficas a respeito da morte, da vida e da religião. É um texto com alta complexidade, já que conta um fluxo descontínuo do consciente da personagem Hillé, ou senhora D, como é conhecida.

É necessário pontuar que a voz narrativa não é só a de Hillé no decorrer do texto, mas duplo e, às vezes, triplo – em um monólogo que se torna diálogo e, por fim, intercala. Em diversos trechos, a presença do narrador é ambígua e cortada, fazendo com que a personagem pareça ser louca ou seja capaz de se comunicar com seu amante morto, Ehud.

Inclusive, é importante mencionar que tal nome faz parte do Antigo Testamento, sendo o nome de um dos juízes. Assim, pode-se deduzir – mas sem nenhuma certeza – que, no decorrer dos diálogos, há também um julgamento: mas de quem? Deus? Hillé? Menino-Porco? Dos homens?

Outro detalhe marcado é o porco. Tendo o seu simbolismo frequentemente associado e conotado como negativo, apresenta-se, na obra de Hilst, como parte da construção do caráter da senhora D, nomeada como porca e também protagonista do texto, o que coloca em cheque o seu status continuamente. Ou não coloca?

Esse é um livro que não é para todos os públicos. Na verdade, pode-se dizer que muitos dos leitores não irão gostar do texto por conta de sua confusão, já que Hilst muda o narrador sem aviso prévio e, às vezes, no mesmo parágrafo; também não tem uma continuidade dos fatos e a prosa é completamente abstrata, com momentos na realidade da personagem. É um livro do qual se tiram muitas reflexões sobre a figura feminina, a religião, a humanidade e a própria razão de ser e existir, mas são necessárias diversas releituras para sermos capazes de enxergar boa parte do que a autora quis transmitir.

Sem necessariamente ter sucesso de entender esse Deus-Mulher e essa Mulher-Sem-Deus.

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A experiência que esse livro traz é única e controversa. Coloca em xeque vários temas existencialistas de uma forma tão complexa quanto os conceitos da vida. Nos encontramos dentro da cabeça de Hillé (senhora D.) e temos toda a percepção do mundo através de seus pensamentos. Uma narrativa predominantemente escrita em fluxo de consciência é sempre um desafio, quando temos uma narradora passando por um período de luto e loucura essa dificuldade aumenta drasticamente. Diante de tantos questionamentos levantados, é impossível que o leitor passe por elas de forma passional... A cada pergunta algo muda na nossa percepção de mundo, mesmo o livro não apresentando nenhuma resposta se quer, e se apresentasse respostas distorceria toda a experiência junto a Senhora D. A personagem tem uma ligação estranha com a morte, e, talvez, por conta disso aborde tantas questões, que de um jeito ou de outro, estão ligadas subjetivamente: o sentido da vida, as relações pessoais, a existência de Deus, o compasso dos corpos, a consciência ou falta dela, a imprevisibilidade da morte e da vida... Todas as dúvidas que permeiam a existência humana são colocadas de uma forma poética e crua, deixando que o próprio leitor acabe por preencher ou não as lacunas deixadas.

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A book that left me speechless for the review. Intriguing, obscene, eschatological, insane, but extremely interesting. The story of Ms. D's "delusions", under her stairs, makes you personally question her questions. "Earthworms on the head". Shocking.

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Eu sou uma pessoa que não gosta de abandonar livros, embora não veja tanto problema nisso. Gosto de insistir, porque os começos não costumam me conquistar, mas esse livro não rolou.

O livro é basicamente sobre uma mulher que fica viúva e, aparentemente, entra em um estado depressivo. A narrativa se dá em um grande fluxo de consciência e isso contribuiu, ainda que de forma parcial, para que eu me sentisse um pouco perdida nos pensamentos da protagonista e não entendesse bem o que estava acontecendo.

Acredito que tenha sido intenção da autora que sua obra se assemelhasse à confusão da mente, traduzindo-se, por exemplo, na pontuação, que não segue a norma rígida da língua. Isso contribui para a a representação de uma mente conturbada, com os pensamentos ligados entre si sem um encadeamento aparentemente lógico, entremeados por falas e acontecimentos externos à protagonista.

Embora ciente desses recursos utilizados pela autora, não foi uma leitura que deu certo comigo. Ainda assim, compreendo a importância de Hilda Hilst para a literatura nacional e sei que outros leitores podem ter uma boa experiência com a obra.

Fiz um vídeo, em caráter informal, conversando sobre minha experiência com o livro, em meu Instagram literário, deixo o link para consulta.

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Hilda Hilst é uma das autoras mais viscerais que eu já li na vida e não vou mentir: senti o impacto. Li esse livro à quase duas semanas e tô atordoada até agora.

Em sua prosa extremamente peculiar, a autora escreve sobre uma mulher de luto pela morte do homem que ama, à beira da loucura e em busca de respostas para perguntas complexas demais para serem respondidas.

Hilé, ou “a obscena senhora d” está perdida e sozinha no vão de escada que ela fez de ninho. Louca talvez, ou mais lúcida que nunca, assustando os vizinhos com suas aparições “pouco convencionais” e sempre fazendo aos outros, à Deus e a si mesma questionamentos de ordem filosófica.

“Vi-me afastada do centro de alguma coisa que não sei dar nome, nem por isso irei à sacristia, teófaga incestuosa, isso não, eu Hillé também chamada por Ehud A Senhora D, eu Nada, eu Nome de Ninguém, eu à procura da luz numa cegueira silenciosa, sessenta anos à procura do sentido das coisas”

Sabe quando eu disse que a prosa de Hilda é peculiar? Então, é ela escreve num fluxo de pensamentos. Quem está familiarizado com esse estilo não vai estranhar, mas pra quem lê algo do tipo pela primeira vez, pode ser um incômodo.

Pra começo de conversa texto não distingue a voz da narradora de quaisquer outras vozes presentes na história. Não há aspas ou travessões pra indicar a fala alheia, é tudo um amontoado de ideias, pensamentos e lembranças da Senhora D, dispostos de forma corrida e sem a menor distinção ao longo do texto, o que exige atenção extra do leitor pra entender o que se passa. Também não há continuidade temporal: ela mistura memórias de tempos anteriores com cenas que parecem ter acabado de acontecer e eventos imaginários.

Parece confuso eu sei, mas é extremamente humano e real também. Não há pontuação indicativa de diálogos na sua mente quando você pensa sobre algo, e seu cérebro faz conexões temporalmente absurdas também. O que Hilda faz é colocar isso no papel de forma magistral.

Posso estar enganada, mas acho que tem muito da autora nesse livro. É um texto que seria impossível escrever sem desnudar um pouco a própria alma. A Hillé é uma personagem complexa, cheia de perguntas e de saudades, revoltada com a vida, com Deus e consigo mesma. E por isso ela é tão fascinante.

“Em meio a tantas interrogações, uma certeza inabalável: “loucura é o nome da tua busca”.”

Essa edição da Companhia das Letras trás um posfácio muito enriquecedor, esclarecedor eu diria até. Não me entenda mal, o livro se sustenta sozinho, mas ler o posfácio acrescenta muito à leitura. E por falar em Companhia das Letras, descobri recentemente que a editora tem um podcast chamado Rádio Companhia, cujo o episódio 109 é uma homenagem à Hilda que, se estivesse viva, teria completado noventa anos agora em abril. O episódio trás um pouquinho da história da autora e algumas indicações de leitura muito interessantes. O podcast está disponível no Spotify (e em outros agregadores de podcast) e vale muito à pena pros interessados em conhecer um pouco mais dessa figura.

A Obscena Senhora D é um livro curtíssimo, apenas oitenta páginas na versão impressa, coisa que se lê em uma tarde. Mas recomendo veementemente que você NÃO o faça! É sério, esse não é um livro pra ser lido rapidamente. A prosa de Hilst é crua e nua, "obscenamente lúcida". Ler depressa seria uma heresia. É um livro que requer tempo e cuidado pra ser absorvido.

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